Diário do Alentejo

Serpa: A verdadeira incógnita dos resultados eleitorais

09 de outubro 2025 - 08:00
Com cinco candidaturas em disputa, a dose de impresivisibilidade é grande
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

João Efigénio Palma (CDU), atual presidente da câmara municipal, não se recandidata, apesar de estar a cumprir o primeiro mandato, o que antecipa, forçosamente, uma mudança à frente da autarquia, liderada pelos comunistas desde que há eleições no poder local.Com a indicação de João Dias pela CDU, mas também de Francisco Picareta, pelo PS, João Rocha, como independente, Ana Moisão, pela AD, e Mário Cavaco, pelo Chega, as contas não se avizinham fáceis neste concelho da margem esquerda do Guadiana.

 

O concelho de Serpa contabilizava, no final de 2024, um total de 13 673 residentes. Entre 2021 e 2024, a população registou uma diminuição de 0,7 por cento, em contraciclo com a evolução nacional, que assinalou um crescimento de 3,2%. A densidade populacional situava-se nos 12 habitantes por quilómetro quadrado. No que diz respeito aos eleitores recenseados para o próximo dia 12, os números apontam para 12 124: 12 121 cidadãos nacionais, dois cidadãos da União Europeia não nacionais e um outro cidadão estrangeiro. A estrutura etária mostrava uma ligeira quebra entre os mais jovens e a população em idade ativa, mas um aumento entre os idosos. Havia 1604 crianças e jovens até aos 14 anos (menos 10 do que em 2021), 8159 pessoas entre os 15 e os 64 anos (menos 11) e 3910 idosos com 65 ou mais anos (mais 30).

Na Educação, os números foram mais positivos. No ano letivo 2023/24 encontravam-se matriculados 1950 alunos, distribuídos por 355 na educação pré-escolar, 1167 no ensino básico e 428 no ensino secundário. Em comparação com 2021, o concelho ganhou 127 alunos, resultado de um crescimento de 17 no pré-escolar e de 124 no básico, embora o secundário tenha registado menos 14 estudantes.

No campo da habitação, os Censos de 2021 apontavam para 5670 alojamentos de residência habitual, a que se somavam 3437 de uso secundário, 564 vagos para arrendamento e 807 vagos por outros motivos. Entre 2022 e 2024 foram construídos 44 novos fogos para habitação familiar, mais 16 do que no triénio anterior (2018-2020), revelando alguma vitalidade no setor.

Do ponto de vista económico, o rendimento médio mensal em Serpa, em 2023, foi de 1102,10 euros, também abaixo da média nacional (1460,8 €). Na comparação com os cinco municípios vizinhos – Beja (1298,90€), Vidigueira (1219€), Moura (1137,20€), Mértola (1038,60€) e Mourão (1142,20€) – o concelho ocupava a segunda posição com a remuneração mais baixa.

À semelhança da grande maioria dos concelhos do distrito de Beja, Serpa integra o conjunto dos 33 municípios portugueses onde a superfície agrícola utilizada ultrapassa 75 por cento do território.

12 124 eleitores recenseados nos cadernos eleitorais para as Autárquicas de dia 12 no concelho de Serpa, respeitantes às freguesias de Brinches, Pias, Vila Verde de Ficalho, Serpa (Salvador e Santa Maria), Vale de Vargo e Vila Nova de São Bento.

 

43,15 foi a taxa de abstenção no concelho, nas últimas eleições autárquicas, em 2021, em que num universo de 12 488 inscritos houve 7100 votantes.

Candidatos e propostas

 

A candidatura da AD (PSD/CDS), sob o movimento “É Agora”, com Ana Moisão como cabeça de lista, diagnostica o despovoamento, o envelhecimento e a perda de serviços públicos como os principais desafios do concelho. A sua visão assenta em planeamento estratégico, candidatura a fundos comunitários e gestão transparente. Na Segurança, propõe um posto móvel da GNR e incentivos à fixação de profissionais essenciais, como isenção de IMI. Para a Habitação, destaca-se a criação do Gabinete “Serpa + Povoada” e o programa “Regressar a Serpa” para atrair jovens e nómadas digitais. No plano económico, prevê a expansão das zonas de atividades económicas e a criação de novas em várias freguesias. Na Saúde, a aposta passa por uma unidade móvel de saúde e um cartão sénior municipal. Defende ainda a criação do Conselho Municipal de Juventude e a requalificação de infraestruturas desportivas com novos relvados sintéticos.

A CDU, com a candidatura de João Dias, estrutura o seu compromisso em três eixos: mais proximidade, mais qualidade de vida e mais desenvolvimento. Em “mais proximidade”, a aposta é na descentralização dos serviços municipais (“A câmara vai até si”) e na valorização dos trabalhadores da autarquia, com a implementação do Sistema Integrado de Gestão e Avaliação do Desempenho na Administração Pública (Siadap) e progressão na carreira. No eixo “mais qualidade de vida”, a prioridade é a Saúde, com a luta pela reposição do Hospital de São Paulo no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e o apoio às instituições particulares de solidariedade social (IPSS). Na Educação, compromete-se com a requalificação da Escola Secundária de Serpa e a manutenção da oferta dos cadernos de atividades. O terceiro eixo, “mais desenvolvimento”, foca-se na ampliação das zonas industriais, na promoção de produtos locais e na reivindicação da construção do IP8. Propõe ainda alargar a rede museológica com “casas” temáticas, requalificar cineteatros e construir uma piscina em Vila Nova de São Bento e um salão polivalente em Brinches.

A candidatura “Fazer Serpa”, liderada por João Rocha, foca-se no desenvolvimento económico através da criação de condições para a instalação de empresas, da requalificação das zonas de atividades económicas e da exigência do IP8. Propõe a criação de um gabinete de apoio ao centro histórico e a disponibilização de lotes para habitação a baixo custo. Na área da Saúde, a medida principal é a criação de um serviço de urgência básica a funcionar 24 horas e o reforço de médicos de família. Para a Educação, o objetivo é apoiar a construção do novo edifício da Escola Secundária de Serpa. A Cultura e o Desporto são contemplados com a requalificação dos cineteatros de Serpa e Vila Nova de São Bento, a construção de uma piscina em Vila Nova de São Bento e a criação de um salão polivalente em Brinches. A governação assentará na transparência e na participação dos munícipes, nomeadamente, através de iniciativas de “Presidência aberta”.

O PS, com a candidatura de Francisco Picareta, compromete-se com a valorização dos funcionários da câmara municipal e com o reforço do apoio aos bombeiros, com um complemento de 25 euros por dia por operacional e um apoio anual de 250 euros. Na Economia, planeia alargar as áreas empresariais existentes e criar novas em Brinches, Vale de Vargo e Ficalho. Destaca-se a aposta na modernização, com um plano para alargar as redes de fibra ótica e 5G a todo o concelho. Na Saúde, o PS propõe um “Regulamento de Apoio à Fixação de Profissionais de Saúde” e a comparticipação municipal de medicamentos para os mais vulneráveis. As grandes obras propostas incluem a criação de um parque da cidade em Serpa, a requalificação das escolas, a construção da piscina em Vila Nova de São Bento e a criação da Feira Anual do Vinho em Pias. Para a proximidade, prevê a instalação do balcão único do cidadão em todas as freguesias.

O Chega, com Mário Cavaco, apresenta-se com o lema “Juntos por uma nova Serpa”, defendendo o fim do que considera ser “décadas de má gestão” e de “controlo ideológico da extrema-esquerda”. A sua estratégia assenta em cinco setores principais. Na área Social, a proposta de maior impacto é a construção de um lar para 85 pessoas com múltiplas valências, um centro social com ATL e berçário, e um polo para crianças com necessidades educativas especiais. Na Economia, o objetivo é atrair mais de 109 novas empresas, reduzindo burocracia e taxas. Para a Habitação, prevê um plano de reconstrução de imóveis abandonados para arrendamento a custos controlados. Na Saúde, propõe resolver a situação do Hospital de São Paulo através de parcerias público-privadas, mantendo as urgências. Na Segurança, o plano inclui a renovação de todos os postos da GNR e a dotação de novos equipamentos.

 

Multimédia0

 

Multimédia1

Comentários