Diário do Alentejo

“ (...) A ‘voz’ da campaniça é hoje um património vivo, assente na tradição mas que também abraça os caminhos da inovação”

20 de setembro 2025 - 08:00
Três Perguntas a David Marques, vice-presidente da Câmara Municipal de Castro Verde

O Centro de Artes e da Viola Campaniça de Castro Verde está a receber inscrições para aulas de aprendizagem de construção e toque deste instrumento. O “Diário do Alentejo” conversou com o vice-presidente da Câmara Municipal de Castro Verde, David Marques, sobre a importância atribuída pelo concelho a esta tradição musical, a atenção que é dada à viola campaniça, nomeadamente, pelos jovens da região e por músicos exteriores ao território, assim como a ligação entre este instrumento, o cante e o património cultural.

 

Texto José Serrano

 

O Centro de Artes e da Viola Campaniça de Castro Verde está a receber inscrições para aulas de aprendizagem de construção e toque deste instrumento. Revela esta iniciativa a importância atribuída pelo concelho a esta tradição musical?

A valorização da viola campaniça é o eixo central de atuação do Centro de Artes e da Viola Campaniça (CAVC), quer no que respeita à tradição do toque como ao saber-fazer da construção do instrumento. Este centro, de iniciativa municipal, consegue, desde 2021, sistematizar e dar continuidade a todo um trabalho que havia sido iniciado há décadas, quando se procurou recuperar, duma extinção que se anunciava, uma tradição que tão grande significado tem na história musical da região. E se desde então foi possível à viola campaniça chegar à rádio e à escola, importava dar estabilidade e dimensão a esta promoção. Este trabalho de continuidade concretiza-se, pode afirmar-se, de forma bastante simples: proporcionar em Castro Verde, de forma gratuita e sem interrupções, a oportunidade de aprender a construir e/ou a tocar uma viola campaniça, através de mestres reconhecidos – José Abreu, Pedro Mestre e David Pereira.

 

Como classifica a atenção que é dada hoje à viola campaniça, nomeadamente, pelos jovens da região e por músicos exteriores ao território?

Verificamos que, desde setembro de 2021, as inscrições nas aulas do CAVC têm esgotado as vagas disponíveis. O que demonstra bem o crescente apelo do instrumento junto das pessoas, jovens e menos jovens, não apenas do concelho mas de toda a região, e não só. O facto de existirem mais projetos musicais que integram a viola campaniça reforça a perceção de que a viola campaniça é um instrumento bem vivo na comunidade, ao contrário do que acontecia na década de 80. A atenção mediática e a consistente promoção do cante na escola, de mãos dadas com a viola campaniça, têm também contribuído para a afirmação e o aumento da visibilidade pública deste instrumento.

 

Considera que o acompanhamento musical por este instrumento ao cante é, na região, parte integrante deste património cultural?

Existe um cancioneiro próprio da viola campaniça e uma tradição da viola campaniça no cante ao despique e ao baldão, pelo que é um instrumento com particularidades e com uma identidade própria, mas que tem um percurso e uma história indissociável do património do cante e dos cantes do Baixo Alentejo. É, a nosso ver, importante sublinhar que a “voz” da campaniça é hoje um património vivo, assente na tradição mas que também abraça os caminhos da inovação.

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