Três Perguntas a Ana Ademar, coordenadora do “Capitães da Esperança”, projeto de arte participativa
Iniciado em novembro passado o projeto “Capitães da Esperança”, desenvolvido pela Ressurrectos, associação dedicada à criação, programação e formação artística e intervenção social tem no terreno, desde o dia 1, a sua quarta oficina, intitulada “Capitães do Videoclip”. O “Diário do Alentejo” falou com a coordenadora do projeto, Ana Ademar, sobre o que está delineado ser desenvolvido neste âmbito, a adesão que as oficinas têm tido por parte do público ao qual se destina, nomeadamente jovens dos bairros das Pedreiras e da Esperança, bem como a importância de “Capitães da Esperança” contra os desnivelamentos culturais.
Texto José Serrano
Iniciado em novembro passado, o “Capitães da Esperança”, projeto desenvolvido pela Ressurrectos, associação dedicada à criação, programação e formação artísticas e intervenção social, iniciou dia 1, a sua quarta oficina, intitulada “Capitães do Videoclip”. O que está delineado ser desenvolvido?Uma particularidade do “Capitães da Esperança” é a interligação de todas as oficinas. Primeiro, a Cristina Taquelim orientou a oficina de escrita de histórias e a partir desses textos começámos a criar uma radionovela. Depois, o João Maia e a Margarida Santos desenvolveram uma música e agora o Filipe Nunes Branco está a dinamizar a criação de um videoclip. Ainda este mês, a Cristina Matos vai criar um mural nos bairros das Pedreiras e da Esperança, seguindo essa mesma linha de continuidade. Em todas as oficinas o processo criativo é realmente partilhado: os formadores, todos da região, estão lá para orientar, motivar e dar ferramentas, mas a autoria é sempre dos participantes.
Qual a adesão que as oficinas artísticas têm tido por parte do público ao qual se destina – jovens dos bairros das Pedreiras e da Esperança?Não temos tido dificuldade em chegar aos jovens, muito graças à parceria inestimável com o “Shave E9G”, projeto de intervenção e inclusão social a decorrer em Beja, coordenado pelo Centro Social, Cultural e Recreativo do Bairro da Esperança, fundamental na criação de pontes e relações com os moradores de ambos os bairros. De forma geral, temos registado uma participação muito expressiva – na nossa visita ao Laboratório de Atividades Criativas, em Lagos, levámos 45 miúdos, entre os seis e os 14 anos. Como é natural, uns envolvem-se mais em determinadas atividades do que noutras, de acordo com as suas personalidades e interesses.
Considera ser este projeto cultural uma bandeira resiliente contra desnivelamentos culturais?É exatamente esse o propósito: nivelar, um pouco, o acesso às artes e à cultura. O projeto leva a criação artística a dois dos bairros mais periféricos e excluídos da cidade e traz crianças e jovens para o centro urbano, para que possam usufruir dos equipamentos culturais que existem e para que criem laços com a cidade que, muitas vezes, não sentem como sua. É fundamental que estas crianças e jovens percebam que são cidadãos de pleno direito e que exijam ser tratados como tal. Queremos que compreendam que há muita vida para lá dos muros, reais ou simbólicos, que encontram. No caso destes bairros, os muros (já) não são físicos, mas há barreiras sociais, económicas e emocionais, que separam os moradores do resto da comunidade. São fronteiras invisíveis que geram sentimentos de afastamento e de exclusão. O “Capitães da Esperança” propõe-se trabalhar sobre esses muros — transformando-os em espaços de encontro e, sempre que possível, derrubando-os, para abrir caminho a novas ligações.