Dos dois helicópteros ligeiros previstos para o distrito de Beja no âmbito do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (Decir) de 2025, apenas o que estava destinado a ser alocado ao Centro de Meios Aéreos de Ourique chegou na semana passada, “com dois meses de atraso”. O presidente da Câmara Municipal de Moura, onde o segundo meio deveria estar fixado, já perdeu a esperança quanto à sua chegada.
Texto | Ana Filipa Sousa de Sousa
“Estamos, naturalmente, satisfeitos por ver, finalmente, este meio de combate aos incêndios rurais colocado em Ourique, [pois] é de extrema importância para o ataque inicial aos incêndios”. É desta forma que Marcelo Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de Ourique, dá conta ao “Diário do Alentejo” (“DA”) da chegada, “com dois meses de atraso”, do helicóptero bombardeiro ligeiro que estava previsto ser alocado ao centro de meios aéreos (CMA) no passado dia 1 de junho.
A operar, a partir de Ourique, desde o início do mês, o autarca confirma que o mesmo foi colocado pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (Anepc) e que tem “uma equipa helitransportada” pela Unidade de Emergência de Proteção e Socorro da Guarda Nacional Republicana.
Marcelo Guerreiro recordou ainda que, anteriormente, já estava fixo no CMA “um outro”, mas “mais pesado” e que “não dava resposta em termos de ataque inicial” aos incêndios. Em junho, aquando do atraso de duas semanas do meio aéreo, o presidente confirmava ao “DA” que a Anepc tinha informado que o helicóptero só deveria ser colocado no CMA de Ourique, “na melhor das hipóteses, dentro de um mês”, o que não aconteceu.
“Percebemos os constrangimentos que possam ter existido em matéria de contratação pública, mas o território não pode ficar à mercê da falta deste meio e deste equipamento tão importante no combate aos incêndios rurais”, argumentou na ocasião.
Também o deputado do PSD eleito pelo círculo de Beja, Gonçalo Valente, numa nota publicada na rede social Facebook, assinalou a chegada do “tão desejado” helicóptero, admitindo que era um “dia feliz” para o concelho e para a região.
“Após o concurso internacional ter ficado deserto em junho, tudo foi feito pelo Governo para encontrar uma solução que mitigasse esse problema. Agora, finalmente, após novo esforço, está aí a solução desejada, o helicóptero ligeiro para uma primeira intervenção”, afirmou.Gonçalo Valente recordou, ainda, que durante este atraso “a região não ficou sem meios aéreos”, uma vez que “foi deslocado um meio pesado para mantermos a capacidade de resposta”, ainda que o mesmo não tivesse “as características ideias para aquilo que se pretendia”. Por sua vez, o segundo meio aéreo previsto ser alocado em Moura continua por chegar. Em declarações ao “DA”, o presidente da Câmara Municipal de Moura, Álvaro Azedo, garante que “houve algumas diligências no sentido de se perceber se o nosso CMA podia acolher um meio de maior capacidade”, mas “neste momento continuamos como estávamos”, ou seja, sem helicóptero.
“Eu já não acredito muito que seja colocado um meio no nosso centro aéreo, não acredito muito... Só se vai notar a falta que ele faz no dia em que necessitarmos dele. Esta é que é a grande questão”, lamenta.
À semelhança do que tinha dito ao “DA” em junho, o autarca voltou a frisar que esta situação é um reflexo da “falta de planificação” e de “ausência de competência” na forma como “os meios foram preparados para este ano e para esta época de incêndios”.
“O Governo prometeu acelerar processos, em olhar para o Alentejo de outra maneira e o que vamos vendo, aqui e acolá, é despreocupação, ao ponto de, até nestas questões, estarmos entregues a nós próprios”, criticou.
Recorde-se que também o presidente da Federação das Associações de Bombeiros do Distrito de Beja, Domingos Fabela, reprovou ao “DA”, a situação, referindo que “já deveríamos ter aprendido, ao longo destes anos, a forma de ultrapassar certos e determinados problemas e, atempadamente, fazermos as coisas”, sendo este um problema “que se tem agudizado ao longo dos anos, e que é transversal a vários governos”.