A situação nos serviços de Pediatria e Obstetrícia do Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, está a tornar-se “uma gravidade”, estando previsto o seu encerramento na próxima sexta-feira, dia 29, e mais oito vezes durante o mês de dezembro. Em causa está a impossibilidade de completar as escalas médicas face ao número reduzido de profissionais no quadro e à recusa dos médicos prestadores de serviços em assumirem os turnos, apesar dos “valores extremamente apetecíveis e convidativos”.
Texto | Ana Filipa Sousa de Sousa
À semelhança do que aconteceu na semana passada no Serviço de Urgência Básica (SUB) de Castro Verde, que fechou por falta de profissionais médicos para completar as escalas de urgência, também a urgência de Pediatria e, consequentemente, o serviço de internamento de Pediatria, a unidade de Neonatologia e a sala de partos do hospital de Beja, deverá encerrar temporariamente, por alguns períodos, no próximo mês de dezembro.
“O que nos foi referido, [na reunião da passada segunda-feira, dia 18, entre os autarcas do distrito, o presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), José Carlos Queimado, e o diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), António Gandra d’Almeida], é que entre o próximo dia 29 e o dia 31 de dezembro há nove escalas de pediatria e obstetrícia por completar. E, portanto, o quadro nesta altura é muito sombrio e bastante preocupante”, começa por referir ao “Diário do Alentejo” (“DA”) o presidente da Câmara Municipal de Beja, Paulo Arsénio.
Em causa, segundo explica, está a falta de profissionais no quadro na Ulsba que, por consequência, faz com que estejam “pouquíssimos de serviço, por um conjunto de situações pessoais”, e a recusa dos médicos tarefeiros em assumirem os turnos nos serviços para os quais não têm especialidade, apesar dos “valores extremamente apetecíveis e convidativos”. Por esse motivo, ressalva o edil, não é perentório que todas as áreas de atuação encerrem ao mesmo tempo, uma vez que um profissional especialista em pediatria poderá aceitar assumir os serviços de urgência e internamento e rejeitar estar de serviço à sala de partos.
“Há 23 meses, desde o final do ano de 2022 até agora, que os serviços de Pediatria e Obstetrícia não têm constrangimentos no que toca a encerramentos, pelo contrário, foram recetores de muitas crianças e parturientes de outros pontos do Sul do País [e], nomeadamente, do litoral alentejano, o que foi muito bom. O quadro, neste momento, é extremamente preocupante. A confirmar-se esta situação as grávidas e as crianças [do distrito] de Beja terão de ir para um outro hospital, [sendo que] o mais próximo implica uma deslocação de 50 minutos a uma hora, o que não é tranquilizador”, garante.
Ao “DA”, Paulo Arsénio assegura que o conselho de administração da Ulsba está “a desenvolver esforços para colmatar essa falha” e reverter a situação, no entanto, será a direção executiva do SNS a dar a palavra final quanto às soluções apresentadas. “Cabe à Ulsba encontrar soluções, mas estas precisam sempre de ser autorizadas pelo SNS. Portanto, vamos aguardar e esperar que o diretor executivo do SNS, com a sua equipa, consiga validar as propostas que a Ulsba irá apresentar para minorar esta situação que pode vir a acontecer, mas, repito, não estamos tranquilizados”, atesta.
Saúde no Baixo Alentejo avaliada pelo SNS Da referida reunião, que contou com a participação dos presidentes das câmaras municipais de Aljustrel, Almodôvar, Beja, Castro Verde, Mértola, Moura e Ourique, além da preocupação manifestada pelo “gravíssimo quadro de funcionamento previsto nas próximas semanas nos serviços de Pediatria e Obstetrícia” do hospital de Beja, saiu também o alerta de “profunda apreensão” face à “escassez de médicos nos concelhos de Aljustrel, Mértola e no SUB de Moura”. Segundo nota divulgada pelos autarcas, esta ausência de profissionais “prejudica diariamente os cuidados de saúde prestados às populações desses concelhos”.
Relativamente ao SUB de Castro Verde, os presidentes manifestaram a “evolução francamente positiva”, resultado “do esforço e ação dos municípios e da população”, com o diretor executivo do SNS, António Gandra d’Almeida, a garantir que a “esmagadora maioria” das escalas estão resolvidas e, por isso, sem grandes previsões de encerramento neste mês e em dezembro.Ao “DA”, o presidente da Câmara Municipal de Castro Verde, António José Brito, confirma que, de momento, apenas está previsto o encerramento temporário do SUB durante o dia de hoje, sexta-feira, por 12 horas, e no dia 29, por seis horas, estando o próximo mês a funcionar “sem interrupções”.
“Esta pressão relativamente à necessidade de resolver este problema acaba por ter esta evolução que é muito positiva no mês de dezembro, que neste momento já está completamente assegurado, e no presente mês com apenas dois encerramentos curtos, quando começámos este processo com fechos de 24 horas. Isto quer dizer que houve sensibilidade e competência das pessoas que tinham este processo para evoluir na procura de soluções”, admite.
Para o futuro, o edil não tem dúvidas e espera “a tranquilidade que [o SUB] tem tido nos últimos longos anos”. “Esperamos que a normalidade volte a imperar e que este serviço às populações seja assegurado dentro dessa maior normalidade. Acreditamos que dado o compromisso assumido pela Ulsba que isso virá a acontecer, [mas] se não acontecer da maneira como esperamos cá estaremos para voltar a exigir e a posicionarmo-nos publicamente, porque esta resposta é essencial para todas as pessoas”, avisa.
Gonçalo Valente defende que posição dos autarcas foi “populista” e de “extrema irresponsabilidade”
Em comunicado de imprensa enviada à redação do “Diário do Alentejo”, o deputado do PSD eleito pelo círculo de Beja, Gonçalo Valente, critica duramente a “atitude populista e de extrema irresponsabilidade” do presidente da Câmara Municipal de Castro Verde, António José Brito, quanto à situação do serviço de urgência básica (SUB) local, admitindo que este “foi tremendamente infeliz quando causou o pânico nas pessoas ao vir a público afirmar que o SUB já encerrou até agora mais vezes do que nos últimos oito anos”. O social-democrata condenou ainda a marcação de uma manifestação, no sábado passado, dia 16, em frente ao SUB, por parte do PCP, “na esperança de o apanhar fechado para o impacto ser maior”. Na mesma nota, Gonçalo Valente refere que “os autarcas esqueceram-se de mencionar que o nosso distrito já reduziu a lista de pessoas sem médicos de família, de mais de 18 000 para 12 000, sendo esta informação extremamente relevante para os baixo-alentejanos”, e que “está a haver um esforço hercúleo” para resolver a situação no serviço maternoinfantil de Beja.