António Caturra, 67 anos, natural de Beja
Desde os anos 70 que se dedica às artes plásticas. A sua pintura e escultura têm sido objeto de várias exposições. A sua ligação às artes mantém-se em áreas adjacentes como a cenografia, a representação e a música. Trabalhou em várias companhias de teatro de Beja como cenógrafo ou ator. À escrita, para além de letrista de canções, dedica-se-lhe há mais de uma década. Tem obras de pintura e de escultura mencionadas nos livros Arte Contemporânea na Cidade de Beja e Pensar.te. Em 2018 lançou o romance O Grande Projeto.
A exposição de pintura “50 anos de traços”, de António Caturra, pode ser vista até 15 de novembro.
Como nos apresenta esta sua exposição?
É maioritariamente produção de 2023 e assenta em trabalhos com as maiores dimensões que já pintei. Apresentando telas com mais de dois metros de lado, este era um desafio que me faltava cumprir, pois o equilíbrio da composição de grandes tamanhos não se obtém da mesma maneira com que é obtido nos trabalhos mais pequenos. São, também, apresentadas pinturas de dimensões mais reduzidas, de acrílicos sobre papel, das quais eu gosto particularmente.
Cinco décadas albergam muitos “traços”. Todos eles são distintos ou algo maior os une?
Aquilo que eu pinto hoje é fruto do somatório do que pintei nas cinco décadas anteriores. Haverá sempre alguma ligação entre os resultados dos vários traços. Mas as minhas maiores roturas estilísticas estão, curiosamente, em trabalhos produzidos simultaneamente. Possivelmente, resultado de alguns heterónimos meus.
Entre o início e hoje sente a necessidade de criação de igual maneira?
A necessidade de criar pode ser a mesma, mas, enquanto no início ficava como que deslumbrado com o resultado das experiências, agora tudo é muito mais previsível. A responsabilidade é outra e, por vezes, há alguma frustração com os resultados obtidos. Mas, em geral, as boas sensações prevalecem e sacia-se o vício.
Há musas, inspirações, que permanecem intocáveis ou, mais cedo ou mais tarde, são substituíveis?
As inspirações vão sendo atualizadas. Pretendo ser um homem do meu tempo. Sou sensível ao que me rodeia. Como tal, as musas vão mudando.
Que inquietações o levam, irremediavelmente, a colocar a tela no cavalete, a preenchê-la de cores?
A minha necessidade de pintar não vem do que está exterior a mim. A necessidade de pintar está no meu âmago, é o meu vício. Quando espalho cores é a mim, primeiramente, que pretendo agradar, sempre condicionado, claro está, pelo que me cerca. E se as minhas pinturas conseguirem estimular visualmente quem as olha fico satisfeito.
O que representam para si estes “traços” que agora mostra?
Esta exposição é, de certa forma, um regresso, pois há cerca de 20 anos que não expunha nada em conjunto com a Câmara Municipal de Beja. Estou satisfeito com o resultado obtido por quem montou esta exposição na casa da cultura.
Diria que são “traços” inquietos ou serenos?
Inquietos, maioritariamente, embora haja alguns mais serenos. A forma como eu pinto é muito gestual, aplico muito de físico na colocação da cor e dos traços.
O que gostaria que os outros vissem nos seus “traços”?
Gostaria, apenas, que quem olha para os meus trabalhos se sentisse estimulado visualmente. Ou apaziguado, se possível.
José Serrano