Diário do Alentejo

“As comunidades locais são o nosso alvo preferencial”

27 de julho 2024 - 08:00
Festival Terras Sem Sombra comemora duas décadas

Festival Terras Sem Sombra, criado em 2014

 

O festival Terras Sem Sombra (TSS) é um evento cultural de carácter nacional e internacional que abrange a música erudita, o património e a biodiversidade do Alentejo. Organizado em torno do conhecimento e da memória, constitui um ciclo de concertos e atividades patrimoniais e científicas que se estende ao longo de vários meses e percorre diversos concelhos alentejanos. Tem um carácter itinerante, pondo tónica na descentralização cultural, na formação de novos públicos, na inclusão e na sustentabilidade.

 

Com mais de 30 atividades relacionadas com a música, património e biodiversidade, o festival Terras Sem Sombra (TSS), na sua 20.ª edição, tem vindo a encontrar palco, desde maio e até 24 de novembro, nos municípios de Mértola, Ferreira do Alentejo, Coruche, Castelo de Vide, Vidigueira, Odemira, Sines, Montemor-o-Novo e Beja, entre outros. O “Diário do Alentejo” falou com Sara Fonseca, diretora executiva do festival.

 

Qual o papel primordial que o Terras Sem Sombra tem desempenhado ao longo de 20 anos de existência?

Garantir a existência de uma temporada musical regular e qualificada no Alentejo. O acesso a uma programação habitual de música erudita é tão importante como ter uma universidade, um hospital geral ou uma feira internacional. Vemos isso um pouco por toda a Europa, incluindo Espanha, que valoriza imenso a sua vida musical. O TSS permite, deste ponto de vista, que o Alentejo acerte o passo com a Europa, desde há 20 anos.

Há um público “erudito” da região, e de fora dela, que se constitui como público privilegiado do festival ou tem existido a preocupação de as comunidades locais, que acolhem os espetáculos, estarem presentes e participativas?

As comunidades locais são o nosso alvo preferencial e têm respondido muitíssimo bem às propostas artísticas. Cerca de 62 por cento dos participantes no festival vivem na região. Conhecendo-se a paixão dos alentejanos pela música, a estatística não surpreende. Mas existe uma interação deveras interessante com quem vem de fora, maioritariamente, da Grande Lisboa, do Algarve e de Espanha. Regista-se um número significativo de estrangeiros. Não temos falta de público e há, todos os anos, uma onda de entusiasmo.

 

Em 2022 a Direção-Geral das Artes (DGArtes) informou os organizadores do festival TSS que não tencionaria apoiar a sua candidatura ao Programa de Apoio Sustentado, na área da música, para 2023 e 2024. Os constrangimentos ao financiamento do festival encontram-se ultrapassados?

As duas candidaturas que apresentámos em 2023 e 2024 foram muito pontuadas e elogiadas, mas não conseguiram financiamento. É como se nos dissessem: “Vocês trabalham bem, mas estamo-nos ‘nas tintas’ para levar a música erudita ao Alentejo, desenrasquem-se lá como puderem ou venham para Lisboa”. Os constrangimentos prosseguem. Houve uma grande desigualdade na afetação das verbas, ferindo gravemente o Alentejo. Uns vivem na fartura, outros roem os ossos.

 

Dalila Rodrigues (PSD) sucedeu, em abril passado, a Pedro Adão e Silva (PS), como ministra da Cultura. Como perspetiva, no âmbito da continuidade do Terras Sem Sombra, esta mudança dos responsáveis pela tutela da DGArtes?

Adão e Silva não contribuiu para a coesão territorial da cultura e primou pela ausência. Quanto à nova ministra, não conhecemos ainda as suas prioridades. Oxalá apetreche a DGArtes de modo a que se olhe o País como um todo. O que se passou com o Alentejo e o Algarve é de bradar aos céus.

 

José Serrano

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