O Clube de Ténis de Mesa do Externato António Sérgio, em Beringel, foi formalmente constituído no ano de 2012, embora a modalidade ali se praticasse, mais informalmente, desde o princípio da década de Setenta.
Texto Firmino Paixão
Filiado na Associação de Ténis de Mesa de Évora, o Clube de Ténis de Mesa do Externato António Sérgio mantém em atividade quase duas dezenas de mesa-tenistas. Os históricos que teimam em dar continuidade a um projeto que carece de rejuvenescimento, mas que mantém uma luta desigual com outras modalidades que os jovens consideram mais apelativas. Mas a “família” de mesa-tenistas beringelense, sim, uma família de amigos de longa data que comungam da paixão pelo “pingue-pongue”, não desiste, tão facilmente, de manter essa tradição, garantiu Fernando Raposo, também ele praticante e dirigente do clube.
Como está o Clube de Ténis de Mesa do Externato António Sérgio?
O clube está com dinâmica, mas é uma dinâmica exclusivamente assegurada pelos atletas que têm história no clube. Tem sido muito difícil surgir novos atletas. Alguns aparecem, criam algum entusiasmo e alguma ilusão em nós, responsáveis pelo clube, mas em pouco tempo acabam por abandonar. A realidade é que temos entre 15 a 18 atletas, fundamentalmente, nos escalões de veteranos e seniores já a cair nos veteranos. São esses que têm assegurado as três equipas que disputam o regional da Associação de Ténis de Mesa de Évora (ATM Évora).
Um verdadeiro “apostolado”?
Sim, é um espírito muito familiar. Somos amigos de há longa data, alguns de nós têm alguma história no início do ténis de mesa em Beringel há mais de 40 anos, atividade que reativámos em 2012 com as participações nas provas regionais. E, fundamentalmente, é a amizade que perdura, o gosto pela modalidade e a esperança de que possam aparecer novos praticantes que deem continuidade a uma modalidade que tem algum historial aqui em Beringel.
Tem sido um percurso meritório, apesar das dificuldades que enumerou?
Absolutamente. Para já, é uma prática desportiva muito saudável, que temos procurado manter com três treinos semanais. Embora nem todos cumpram, mas a maioria tem esse compromisso e tem correspondido. Temos competido em diversos torneios nos escalões de veteranos, também estamos inseridos no circuito nacional de veteranos e temos a responsabilidade da participação no campeonato distrital da ATM Évora. Creio que vamos continuar com a esperança de que, através do nosso exemplo, possam aparecer, sobretudo, mais jovens interessados em dar continuidade a este projeto que, julgo, tem pernas para poder andar.
Têm obtido resultados promissores ou privilegiam os hábitos de prática desportiva?
Os resultados contam, mas não são a grande mola real. Temos uma equipa que é a nossa grande aposta, a equipa A, que, neste momento, lidera o campeonato e que, todos os anos, na qualidade de líder ou de segundo classificado, tem assegurado a nossa qualificação para a segunda fase da prova. Essa é aquela que pode dar acesso, ou não, aos campeonatos nacionais. Não temos sido bem-sucedidos, salvaguardando o ano de 2016, em que conseguimos assegurar a participação no campeonato nacional da 2.ª divisão, em 2017. Temos perfeita consciência das nossas limitações, mas há uma coisa que ninguém nos pode tirar: o entusiasmo. E é ele que continua a ser o grande alicerce da modalidade e, porque não dizer, de alguma ambição que, daqui a alguns anos, surgindo atletas mais jovens e com outras competências, possamos aceder a um campeonato nacional.
O Externato António Sérgio tem-vos dado um apoio muito relevante para a manutenção do clube?
Sim, em mais lugar nenhum encontraríamos uma estrutura como esta. É um excelente espaço, que permite a instalação de várias mesas e, sobretudo, é um espaço privado, onde temos as condições que consideramos necessárias para podermos ser mais apelativos na prática da modalidade. Não tem acontecido até agora, infelizmente, mas mantemos a esperança de que um dia haja uma adesão de juventude para que este projeto, que tem qualidade desportiva, não desapareça. Seria uma pena se eventualmente isso viesse a acontecer.
Seria de todo provável que os alunos do externato aderissem à modalidade, mas a sua maioria não reside em Beringel…
Temos tido vários jovens promissores. Existe aqui um viveiro interessante que é o desporto escolar, que proporciona o aparecimento de um conjunto de jovens com valor. O problema é assumirem o compromisso com o clube. A assiduidade ao treino, o compromisso de participação nos torneios e nos campeonatos, aí é que não temos conseguido o sucesso que prevíamos. Sinceramente, existe alguma deceção da nossa parte, mas isso não nos fará baixar os braços. Acreditamos que, um dia, as coisas melhorem e que os jovens assumam um compromisso, inclusivamente, com as suas potencialidades.
Os jovens têm hoje uma oferta desportiva muito variada. Será por isso que não se fidelizam ao ténis de mesa ou será pela falta de compromisso?
Penso que serão as duas coisas. Tem que se gostar desta modalidade. Não é uma modalidade fácil, que arraste multidões, que tenha a visibilidade que tem o futebol ou outro desporto coletivo. Temos procurado fazer ver aos jovens que nem só de futebol vive o homem, e eu não sou suspeito, porque gosto imenso de futebol. Mas entendo que continua a ser o desporto que absorve e condiciona inclusivamente as opções dos jovens. Talvez com um trabalho conjunto dos pais, sensibilizando-os para esta modalidade, as coisas poderão ter um rumo diferente. Já o fizemos, mas não tivemos o sucesso que desejávamos. Portanto, vamos ter que, pacientemente, continuar a olhar para esta modalidade como uma atividade muito bonita e muito saudável.
O que será preciso para dinamizar o ténis de mesa no distrito de Beja?
Sabemos que o futebol continua a cativar 80 a 90 por cento dos jovens, mas, falando com pessoas ligadas a outras modalidades, também se queixam um bocadinho disso: que o futebol, com toda a legitimidade, continua a dominar as escolhas dos jovens. Portanto, isto terá de começar em casa, com a vinda dos pais aos treinos, aos jogos, principalmente, os pais de atletas que são promissores no desporto escolar. Se tiverem um discurso diferenciado, promissor, que promova a diversificação, poderá ser por aí que surjam novas gerações de mesa-tenistas.