Sem atividade desde julho de 2016, altura em que organizou a última maratona, o Grupo de BTT Geração Radical, fundado em 2003 em Penedo Gordo (Beja), está a renascer com um projeto bem estruturado, com uma nova dinâmica e propósitos bem definidos. Uma nova geração.
Texto e Foto | Firmino Paixão
O que esteve na base desta reativação da atividade da Geração Radical? Fundamentalmente, a extinção da secção de BTT do Despertar Sporting Clube, após uma “diferença de abordagens” entre os atuais órgãos sociais do clube e o antigo dirigente, Cláudio Silva, grande dinamizador da secção de BTT e ciclismo de estrada despertarianos. Uma ideia percetível, principalmente, pela transferência de recursos humanos de um clube para o outro.
Cláudio Silva, agora presidente da direção na nova Geração Radical, disse ao “Diário do Alentejo”: “Optámos pelo renascimento da Geração Radical porque é uma equipa que está associada à Casa do Povo de Penedo Gordo e fazia todo o sentido que fosse assim, que estivéssemos ligados a uma instituição”. O dirigente lembrou: “Pegámos numa Geração que estava adormecida, podemos dizer que sim, que estava adormecida, mas havia muita gente com vontade que ela despertasse e tentássemos repor novamente no Penedo Gordo aquele tempo em que o BTT tinha uma essência diferente daquela que tem hoje em dia, não descurando a área da competição, claro, faz sempre falta, mas tentar ir buscar as crianças e jovens, tentando, simultaneamente, organizar os raides e as maratonas que antigamente identificavam a Geração Radical. Tentaremos reativar essas memórias, mas numa vertente mais moderna”.
A apresentação realizou-se, recentemente, na casa do povo e revelou um projeto bem estruturado, assente num capital de experiência anteriormente adquirida, admitiu Cláudio Silva. “A nossa vinda para o Penedo Gordo foi óbvia. Recordo que há 10 anos tive uma relação próxima com o que aqui se fazia nessa época. Estamos num povoado que faz parte da cidade de Beja e é um local onde o BTT tem algum historial”. E lembrou: “O grupo foi criado oficialmente em 2003, portanto, estamos a falar de um percurso de 21 anos, mas já anteriormente, desde finais da década de Noventa, que já aqui se praticava a modalidade. O que estamos a fazer é, digamos, a dar uma nova roupagem, uma estrutura mais atual da Geração Radical, com uma equipa cheia de experiência, porque são pessoas que gostam da modalidade e que estavam ligadas a outros projetos, por isso, estamos confiantes de que será uma aposta ganha”.
Acresce a ideia de manter a mística que a modalidade tem numa terra cuja casa do povo, em finais da época de Cinquenta, foi um verdadeiro alfobre de ciclistas, treinados pelo sapateiro Joaquim da Cuba, nomeadamente, António Aiveca, Bernardo Jerónimo ou Manuel Pratas. “Sabemos que existe realmente uma grande ligação ao ciclismo de estrada”, admitiu o presidente da Geração Radical. “Por isso é que na elaboração do projeto retirámos da nomenclatura a palavra BTT, porque seria dar alguma exclusividade àquela modalidade, e abrimos um pouco o leque para abrangermos o ciclismo de estrada, mantendo a tal ligação com o passado”. Mas o novo projeto tem, igualmente, uma dimensão social relevante, reforçou: “Estamos associados à Casa do Povo do Penedo Gordo e, nessa medida, faremos parte da futura Taça de Maratonas, evento que tem um caráter solidário. Faz todo o sentido que o façamos. Mas também nos sentimos na obrigação de trazermos para o Penedo Gordo, primeiramente aqui, mas não só, também à própria cidade de Beja, uma dinâmica do ciclismo na vertente social e de cativação de jovens para que possam iniciar-se neste desporto. Procuraremos desenvolver a cooperação e a solidariedade entre os nossos associados e com outros parceiros”.
Além da experiência adquirida dos atuais órgãos sociais, a equipa desportiva, que será dirigida por David Valério, está praticamente formada, anunciou Cláudio Silva. “A nossa equipa é composta pelos atletas que faziam parte da antiga secção do Despertar. Temos também alguns atletas que vêm do Centro Republicano de Instrução e Recreio de Aljustrel, da Casa do Benfica de Almodôvar, atletas que residem aqui mas que estavam a representar outros clubes. Estando a Geração Radical em atividade, não fazia sentido estarem a representar outros clubes”. E, percebe-se, que vêm determinados a ter sucesso. “São pessoas que acreditam neste projeto. Um deles é o nosso diretor desportivo, outro faz parte dos órgãos sociais, e acho que está tudo montado para que possamos triunfar e ser capazes de seguir em frente com um projeto que é tão interessante” e que, por razões de logística e da época que atravessamos, levará o renovado símbolo das Geração Radical para as estradas da região apenas em fevereiro de 2025, início da nova temporada desportiva. Porém, importa perceber o que levou Cláudio Silva a deixar de pedalar com as cores rubro negras do Despertar e a sprintar para um novo compromisso. “O que se passou foi uma divergência de abordagens relativamente a esta questão”, revelou o presidente da Geração Radical, acrescentando: “O clube teve eleições no passado mês de junho, eu optei por não integrar os atuais órgãos sociais, aliás, até tinha comunicado à anterior direção que, caso eles não se recandidatassem a um novo mandato, eu também não ficaria ligado ao clube. Gosto muito das pessoas que lá estão, sou muito amigo do presidente José Cavaco e acho que está a fazer um bom trabalho, mas, em termos daquilo que era a dinâmica do BTT e do ciclismo de estrada, tínhamos ideias diferentes, até um pouco antagónicas, e não fazia sentido continuarmos lá. Foi só isso!”.
Mas fez notar: “Não ficaram ressentimentos, mantemos a amizade, acho que durante o tempo que lá estivemos fizemos tudo para que as coisas resultassem. E resultaram. Para trás ficou uma série de provas e de eventos feitos com bastante qualidade, o último foi realizado em junho no interior da cidade, mas essa é uma prova a que voltaremos sempre, porque é uma organização que pretendemos manter, eventualmente, ainda não em 2025, mas seguramente em 2026”.