A XVI edição das Palavras Andarilhas, que decorreu entre 26 e 28 de agosto, atraiu ao Jardim Municipal de Beja, palco do evento, centenas de cidadãos, bejenses e outros, vindos de várias partes do país, seduzidos pelo poder da palavra, pela magia dos contos de tradição oral, por um espaço que convida à reflexão e à comunhão entre os vários intervenientes do evento e os visitantes.
Texto José Serrano
O Jardim Municipal de Beja acolheu, recentemente, a XVI edição das Palavras Andarilhas, evento bienal que, por implementação de medidas sanitárias de combate à covid-19, não se realizava desde 2018.
Quatro anos depois, o regresso desta iniciativa, que celebra a palavra contada da tradição oral e que teve como lema “O Poder da Palavra”, trouxe muitos visitantes e outros tantos contos fantásticos, presenteando a cidade, ao longo de três dias, com um imaginário fantástico – onde a palavra contada, e atentamente ouvida, foi a protagonista.
Após o encerramento da iniciativa, Jorge Serafim – contador de histórias, humorista, promotor do livro e da leitura e consultor desta edição do certame – sublinhou a enorme adesão de público que o festival atraiu a Beja, considerando-o um êxito: “numa época de crise em que se começa a contar o dinheiro que não abunda, o nosso aprazível jardim público encheu-se de pessoas da cidade e vindas de todo o país. As noites de contos e as conferências estiveram sempre cheias, as oficinas esgotaram a capacidade máxima de formandos, no domingo à tarde, e até à hora do encerramento, contámos com a presença de centenas de visitantes, a ultima sessão de contos com a plateia esgotada – afinal, podem-se agitar os domingos, em Beja. Foram três dias de uma festa muito bonita, uma comunhão entre os narradores, os conferencistas, aqueles que trabalham na mediação leitora, os ouvintes e a cidade”.
De acordo com Jorge Serafim, este sucesso é fruto de um longo trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pela equipa da Biblioteca Municipal de Beja, que viabilizou às Palavras Andarilhas serem hoje, “e desde há alguns anos, uma referência, não só nacional como internacional, na área da mediação leitora e dos contadores de histórias, uma vez que os níveis de debate e de reflexão propostos continuam a ser muito altos – as pessoas vêm ao encontro de uma qualidade que está garantida. Essa característica é muito atrativa”.
Para além do referido triunfo da XVI edição da intitulada Festa da Palavra Contada, Jorge Serafim assinala as repercussões benéficas da iniciativa – no acréscimo de vitalidade da cidade, com os restaurantes e a hotelaria com uma importante clientela acrescida, “com muitas pessoas a passearem e a conhecerem Beja, divulgando-a” –, defendendo, assim, a importância do incremento da diversidade de oferta cultural.
“Os territórios do interior (não gosto muito desta nomenclatura porque o país tem 200 quilómetros de largura e há gente que saindo 20 quilómetros de Lisboa já lhe chama interior) têm que passar da marca unicamente endógena – andam sempre a promover os meles, os queijos, o pão e o vinho, que são produtos importantes, obviamente, mas que não são os únicos que existem. Os territórios também se afirmam por outras diversidades, as Palavras Andarilhas comprovam-no, através de uma cidade cheia de gente, ao longo do fim de semana em que decorre. Há uma obrigatoriedade de o território se promover com outras coisas para além do comer e do beber”.
Por conseguinte, o consultor das Andarilhas deixa uma interrogação sugestiva: “há ótimos fotógrafos em Beja e espaços públicos lindíssimos – porque não promover um grande festival em torno da fotografia e de outras artes plásticas? Há que criar eventos que nos promovam além-fronteiras”.
