Diário do Alentejo

Escola Secundária de Serpa vence fase nacional do concurso “Euroescola”

18 de junho 2022 - 11:20
Foto | Vítor BrasãoFoto | Vítor Brasão

“Manifesto anti-redes sociais pró-democracia”, texto encenado e interpretado pelas alunas da Escola Secundária de Serpa, Érica Arce e Teresa Ramos, e que aborda a desinformação e as fake news, foi o grande vencedor da fase nacional do concurso “Euroescola”, programa promovido pelo Parlamento Europeu. Como prémio, cerca de 30 alunos do referido estabelecimento de ensino irão participar, em outubro, numa sessão do Parlamento Europeu, em Estrasburgo.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

A Escola Secundária de Serpa classificou-se em primeiro lugar na fase nacional do concurso “Euroescola”, entre 20 estabelecimentos de todo o País, com o “Manifesto anti-redes sociais pró-democracia”, texto encenado e interpretado por Érica Arce e Teresa Ramos, alunas do 10.º ano do curso de Línguas e Humanidades. O Agrupamento de Escolas de Ourém, no distrito de Santarém, ficou em segundo lugar, e a Escola Secundária de Monserrate, em Viana do Castelo, em terceiro. Como prémio, as três escolas vencedoras irão participar, em outubro, numa sessão do Parlamento Europeu, em Estrasburgo.

 

O concurso “Euroescola”, cuja edição deste ano teve como tema “As redes sociais e os perigos para a democracia”, é um programa anual criado pelo Parlamento Europeu, no âmbito da cidadania, dirigido aos alunos do ensino secundário e que consiste na simulação do trabalho dos eurodeputados. Em Portugal é organizado pelo Instituto Português do Desporto e Juventude e pelo Gabinete do Parlamento Europeu em Portugal, em parceria com a Assembleia da República, assembleias legislativas e direções regionais da Juventude dos Açores e da Madeira. A sessão nacional teve lugar nos passados dias 30 e 31 de maio, na Assembleia da República.

 

Maria João Brasão, professora de Português na Escola Secundária de Serpa e coordenadora do programa Escola Embaixadora do Parlamento Europeu, sublinha que a forma como as duas alunas defenderam o texto proposto a concurso, que foi inspirado no “Manifesto Anti-Dantas”, de Almada Negreiros, “se pautou pela diferença”.

 

“Foi diferente de todas as outras escolas, que se basearam muito na apresentação do texto e de um vídeo. Elas apresentaram uma performance, como se fosse uma manifestação. Entraram na sala, uma de cada lado, de megafone, com uma excelente projeção de voz, vestidas de preto, como o nosso Almada Negreiros, de boina, com os manifestos na mão, que distribuíram pelas pessoas e colaram nas paredes, subiram a uma cadeira e olhando sempre a audiência olhos nos olhos. E as pessoas reagiram extremamente bem”. A defesa de forma encenada explica-se, adianta a docente, “pelo amor das duas alunas ao teatro e por serem elementos do grupo de teatro da Escola Secundária de Serpa, o (EN) Cena”. Maria João Brasão considera que o resultado obtido no concurso “é muito gratificante” e frisa o facto de o prémio dar oportunidade “a outros alunos da escola, não só às duas vencedoras, de irem a Estrasburgo”. Ao todo, serão cerca de 30 os alunos que viajarão em outubro.

 

Em relação ao tema proposto para a edição deste ano do “Euroescola”, “As redes sociais e os perigos para a democracia”, comum ao Programa do Parlamento dos Jovens, outro dos projetos que contou com a participação de alunos da Secundária de Serpa, Maria João Brasão adianta que “os alunos envolveram-se de imediato”.

 

“Acho que é um tema lhe lhes tocou imenso. Trabalhámos [o tema] com todas as turmas, tanto do básico como do secundário – mas só o secundário foi apurado à fase nacional –, e sentimos que eles estão preocupados, de facto, com a influência que as redes sociais podem ter e o perigo que têm para a democracia, porque há muita manipulação que pode ser feita através das redes sociais”. É claro, diz, que nem todos os alunos se envolvem com o mesmo entusiasmo, mas são, de um modo geral, “muito participativos”.

 

DESINFORMAÇÃO E FAKE NEWS

“O nosso manifesto tem, obviamente, um pouco de ironia, mas critica, especialmente, esta geração que usa as redes sociais para tudo, que tem tudo na ponta dos dedos, mas não usa isso para nada. Critica, principalmente, esta geração que pode fazer a diferença, mas não quer fazer a diferença”, diz, por sua vez, Teresa Ramos, de 16 anos.

 

A aluna do 10.º ano é de opinião de que as redes sociais “representam alguns perigos para a democracia, especialmente, como se viu ultimamente”, ao permitirem “que os partidos extremistas cresçam cada vez mais, o que não é bom, seja de que lado for”. “Espalham-se imensas notícias falsas que levam a população a acreditar em coisas que não são reais, e isso representa um enorme risco porque leva as pessoas a votarem sem terem consciência em quem vão votar, o que causa imensos problemas”, reforça. Tendo em conta o seu “círculo de amigos” e as pessoas com quem “convive”, Teresa Ramos considera que os jovens “estão, cada vez mais, sensibilizados para estas questões, que têm consciência do que as redes sociais representam na nossa sociedade”. Mas para tal, frisa, também contribuirá o “excelente programa de atividades” desenvolvido pela Escola Secundária de Serpa, assim “como os professores que participam em todos os projetos, como o Programa do Parlamento dos Jovens, palestras, tudo o que nos ajude a enfrentar a vida real, os perigos que existem, quando sairmos da escola”.

 

Também para Érica Arce, de 18 anos, os principais perigos para a democracia associados às redes sociais são a desinformação e as fake news. “Já vimos que pode ser perigoso ao nível da política. Os jovens deixam-se influenciar pelo que vêem e lêem nas redes sociais. É como está no nosso manifesto: uma geração que elege partidos nas redes sociais é uma geração que não merece o direito ao voto”.

 

A aluna chama a atenção, no entanto, para o facto de a desinformação e as fake news afetarem, igualmente, as gerações dos pais e dos avós, pelo que defende que parte do trabalho de sensibilização poderá ser feito pelos jovens, “usando a sua voz, a liberdade de expressão”. A finalizar, a professora Maria João Brasão sublinha que os programas que “relacionam cidadania e desenvolvimento”, como é o caso do concurso “Euroescola” ou do Parlamento dos Jovens, são se extrema importância, porque “levam o aluno a ter espírito crítico, a saber dar a sua opinião, a pesquisar, a envolver-se, a partilhar e a saber respeitar a opinião do outro”.

 

ALUNOS DE SERPA APRESENTAM FILME EM PARIS

“Ribeira vai cheia” é o título do filme que cerca de 25 alunos da Escola Secundária de Serpa apresentaram na semana passada, em Paris, no âmbito do Projeto Cinema “Cem Anos de Juventude”. O mote para o argumento do filme, explica a professora Maria João Brasão, coordenadora do Projeto Cinema da Escola Secundária de Serpa, foi a moda alentejana “Ribeira vai cheia e o barco não anda, tenho o meu amor lá na outra banda”. As filmagens têm como cenário “o monte e a azenha da Machadinha”, em Serpa. “Todos os anos há um tema, este ano foi ‘Os motivos no cinema’. Temos as regras do jogo, que são enviadas pela Cinemateca Francesa, temos dois cineastas a trabalhar connosco e os alunos aprendem tudo, a escrever o argumento, a realizar, filmar, fazer anotações, som. Ao longo do ano vão realizando vários exercícios fílmicos e depois rodam o filme final”, explica. Para além da Escola e Serpa, a única participante alentejana, a cerimónia em Paris contou com alunos oriundos de outras escolas portuguesas, assim como do Japão, Chile, Argentina, Finlândia, Lituânia, Alemanha, Espanha, Brasil, Bulgária, Itália, Países Baixos, Reino Unido, Uruguai e de várias regiões de França.

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