Diário do Alentejo

Diário do Alentejo celebra 90 anos!

01 de junho 2022 - 09:00
Hoje, 1 de junho, cumprem-se 90 anos do nascimento do nosso jornal. Nove décadas, retratadas nas primeiras páginas de cada aniversário e nos editoriais dos seus diretores, a esperança, comum a todos, desejos e dificuldades

A PRIMEIRA DÉCADA

1 de junho de 1942

“DEZ ANOS DEPOIS"

 

Foi em 1 de Junho de 1932 que se publicou o primeiro número do nosso jornal.

Faz hoje, precisamente, 10 anos que se encetou a actividade do «Diário do Alentejo», que sempre temos procurado orientar da forma que melhor possa servir o objectivo desta iniciativa: promover o desenvolvimento e o progresso da nossa região e a divulgação das suas belezas.

 

Ao completar-se a primeira dezena de anos e ao olharmos o caminho percorrido, caminho difícil e ingrato, sentimo-nos intimamente satisfeitos, com a obra realizada, obra modesta, é certo, mas que temos a vaidade de julgar útil.

 

Porque nãos nos afastámos dos princípios que a nós próprios impusemos, quando há 10 anos, nos abalançámos a esta árdua empresa de dotar a região de um jornal diário, porque, alheios a campanhas pessoais, apenas nos temos preocupado com os interesses regionais, estamos dispostos a prosseguir firmemente na mesma orientação, esperando continuar a merecer do público a mesma confiança tributada até agora e sem a qual não nos seria possível bem cumprir a nossa missão.

 

Hoje, ao iniciarmos o XI ano da nossa existência, desejamos saudar os nossos prezados assinantes, anunciantes, colaboradores e leitores e agradece-lhes, simultaneamente, a preciosa colaboração que todos tão gentilmente nos têm prestado”.

Manuel Engana

 

20 ANOS PASSARAM 31 de maio de 1952

“AO CABO DE 20 ANOS"

 

Iniciando a sua publicação em  1 de Junho de 1932, o «Diário do Alentejo» completa hoje 20 anos de existência.

Evidentemente que registamos o facto com regozijo.

O regozijo que sempre se experimenta quando se vê a caminho do êxito uma iniciativa que é fruto do nosso labor e do nosso desejo de ser útil à comunidade.

Tanto mais se essa iniciativa teve muito de arrojada…

 

Decorrida uma vintena de anos em que lançámos o número 1 do nosso jornal, poderemos afirmar que valeram a pena os esforços, por vezes exaustivos, e os sacrifícios, por vezes duros, que tivemos de desenvolver e de suportar para conseguirmos assegurar à capital do Baixo Alentejo um jornal de publicação diária.

 

E valeu especialmente a pena porque, sem falsa modéstia, julgamo-nos com direito a proclamar que a nossa ideia resultou proveitosa para a nossa região, que no «Diário do Alentejo» tem sempre encontrado um entusiástico defensor dos seus interesses e também um generoso animador do seu progresso. Tal era a «linha mestra» ao fundarmos o «Diário do Alentejo».

 

E dela não nos temos afastado, pelo reconhecimento da função que cabe desempenhar ao nosso jornal, como órgão regionalista que essencialmente é.

Terminado como está mais um ano de actividade, logo outro se encetará, porque a vida dos jornais diários não permite pausas.

 

E a garantia que poderemos dar a todos os que nos auxiliam na nossa missão é a de que conservaremos o mesmo critério, o mesmo desejo de servir e a mesma aspiração de fazer melhor já revelados nestes 20 anos que ficaram para trás.

 

É uma promessa talvez modesta e vulgar.

Mas é a mais sincera e aquela que melhor poderemos cumprir.

Vamos pois continuar”.

Manuel Engana

 

A VIDA ADULTA

1 de junho de 1962

“ANIVERSÁRIO"

 

O «Diário do Alentejo» enceta hoje mais um ciclo da sua existência, completando 30 anos de regular publicação.

Registamos o facto com aquele sentimento de íntima alegria que sempre domina que, devotadamente, se dedica a uma ideia e consegue efectivá-la, assegurando-lhe continuidade e progresso.

 

A vida dum jornal diário, mesmo dum jornal modesto como o nosso, ressentindo-se das naturais limitações do meio onde desenvolve principalmente a sua acção, não é tarefa fácil nem cómoda, sobretudo quando se lhe pretende imprimir a linha de imparcialidade e de independência que desde o início traçámos e sempre temos procurado seguir. Há que enfrentar incompreensões, remover obstáculos, ganhando em cada dia novas energias e uma sempre renovada confiança na utilidade da acção que se pretende levar por diante.

 

Poderia resumir-se nestas palavras a história do «Diário do Alentejo» ao longo das três dezenas de anos que hoje se completam.

Nunca nos deixámos vencer pelas dificuldades surgidas nem deslumbrar pelos êxitos fáceis e efémeros.

Conscientes das nossas responsabilidades, dos nossos deveres, a nossa preocupação dominante tem sido servir os interesses públicos, sem desvios das boas normas da ética jornalística.

 

Essa há sido, julgamos, o motivo predominante da boa e encorajadora colaboração que merecemos dos nossos leitores, factor em que assenta, fundamentalmente, a razão da existência do nosso jornal.

Continuaremos a seguir a mesma orientação, a ter sempre presente a ideia firme de servir a causa regional, a causa nacional.

O passado do «Diário do Alentejo», cremos, responde bem pelo seu futuro”.

Manuel Engana

 

A TERNURA DOS 40 2 de junho de 1972

“QUARENTA ANOS"

 

[...] Quatro décadas decorreram, portanto, desde que se concretizou a ideia de dotar Beja e toda a sua região com um jornal diário, que fosse um perante e activo defensor dos seus mais transcendentes interesses e que soubesse, também, expô-los à atenção das entidades governativas do País.

 

Essa ideia, tão louvável, como arrojada, sobretudo se a enquadrarmos no tempo que foi concebida, tiveram-na Carlos Augusto das Dores Marques e Manuel António Engana. E souberam e puderam dar-lhe realização. Souberam, graças à isenção dos seus princípios e à honestidade e correcção dos seus processos, impor o jornal ao conceito do público, do público que era, afinal, o único juiz do seu destino.

 

Essa básica linha de orientação manteve-se pelos anos fora e mantém-se hoje em que, pela inevitável evolução a que os jornais, como os homens (e ai daques que assim não compreenderem?) têm que respeitar, o «Diário do Alentej» procura, não mudar de métodos nem de objectivos, mas usá-los e atingi-los de harmonia com as exigências – e preferências – da vida dos nossos dias.

 

As pessoas que, neste momento, são as mais directamente responsáveis pelo «Diário do Alentejo» sentiram a necessidade de actualizá-lo na altura que lugaram mais oportuna e viável. Não foram compreendidas nem correspondidas. Viram-se, assim, obrigadas a uma atitude que, intimamente, muito as magoou mas que era a única que as circunstâncias impunham. Fundaram, então, um novo diário alentejano. E, embora, enfrentado naturais dificuldades e suportando muitos sacrifícios, em boa hora o fizeram. Porque foi o «Alentejo Ilustrado» que, nos sete meses em que se publicou regularmente, apresentando-se como um diário, modesto, sem dúvida, mas arejado, em todos os sentidos, foi o «Alentejo ilustrado», dizíamos, que criou os motivos determinantes do nosso regresso ao «Diário do Alentejo». E fizemo-lo com a comovida alegria que sempre se experimenta quando se recupera uma coisa que, desde há muitos anos nos é extremamente querida, a ela estamos ligados por fortes e indissolúveis laços afectivos, por fazer mesmo parte da própria vida.

 

A nossa curta ausência deste jornal redundou – temos a vaidade de assim pensar – em benefício dele próprio, porque possibilitou o início da renovação de que ele carecia não só para cumprir melhor a sua missão como para não ser apeado do lugar de prestígio que, por mérito exclusivo, conquistara no sector da Imprensa portuguesa. Para mais, tivemos a sorte de encontrarmos, nesta decisiva campanha, excelentes e dedicados companheiros – os companheiros do «Alentejo Ilustrado».

 

Evidentemente que a acção renovadora que nos propusemos realizar no «Diário do Alentejo», ainda está em fase primária. Não houve tempo para mais. Mas sentimos que o pouco que já conseguimos é uma afirmação de mais que, gradualmente, tencionamos fazer. E sentimos também que o público aceita (e está disposto a corresponder) estes nossos propósitos.

 

O velho «Diário do Alentejo» quer ser e será, sob todos os aspectos, um jornal renovado.

[...]

40 anos de vida para um jornal merecem ser, de facto, expressivamente comemorados. Principalmente quando esse aniversário coincide com uma encorajadora fase de vida nova”.

Melo Garrido

Recomeçar

1 de junho de 1982

“50 ANOS AO SERVIÇO DO ALENTEJO"

[...] Nesta data festiva interessa além de recordar o prestígio do seu passado, abordarmos os grandes problemas do seu presente e as perspectivas futuras.

 

Desde os primeiros números que o DA demonstrou de forma linear e cristalina as profundas características democráticas do Alentejo, aspectos estes que todos os colectivos de direcção e redacção souberam traduzir mediante a elaboração de um jornal oferecido e aceite pela maioria dos alentejanos, independentemente da sua religião ou ideologia.

 

O interesse colectivo esteve sempre ligado à história do DA, esclarecendo de imediato os seus fundadores a completa inexistência de intenções reservadas ou ambições pessoais.

 

Ao longo de todos estes anos desenvolveu-se um perfil jornalístico que bem engrandece o historial do nosso Diário do Alentejo.

Períodos difíceis existiram, nomeadamente os longos anos do salazarismo-marcelismo, mas que possibilitaram, por outro lado, um amplo consenso político-cultural contra um inimigo comum bem definido e sentido — a ditadura.

 

Após o 25 de Abril, e na situação democrática actual, os grandes problemas são naturalmente de outra natureza e torna-se por vezes difícil, por paradoxal que pareça, encontrar consensos de abertura, de democracia e de dedicação, acima de interesses pessoais e de natureza puramente partidária. Continuamos a defender que o interesse regional e nacional deve prevalecer sem quaisquer dúvidas, sob quaisquer outros, obscuros e por vezes individualistas.

 

Naturalmente que um jornal que se pretende vivo e atuante, defendendo o desenvolvimento do Alentejo e os interesses dos alentejanos não pode ser absolutamente neutral perante os poderes instituídos e particularmente quando de múltiplas formas novamente se pretende instalar o atraso e o conformismo na nossa região.

 

[...]

É lógico e salutar que um jornal traduza o pensamento de quem nele escreve, logo é nossa opinião que a sua abertura e independência depende no fundamental da participação activa de grande número de colaboradores de vários quadrantes, animados por uma vontade de defender os interesses e a cultura da nossa região e do país.

 

O nosso jornal é independente porque não está ligado a nenhum grupo económico particular, não depende de nenhum partido político, tem autonomia criadora perante as autarquias que possibilitaram o seu novo aparecimento e encontra-se aberto à mais ampla colaboração.

 

Individualmente nas temos complexos nem receios das nossas diversas filiações ideológico-partidárias, que publicamente têm sido assumidas nos locais e momentos indicados, mas não as confundimos com os grandes princípios colectivos do nosso jornal.

A razão vem sempre ao de cima, logo não existe qualquer motivo para nos furtarmos à discussão e ao debate, mesmo polémico, de qualquer questão regional, nacional ou mesmo internacional.

 

A participação generalizada combate de um modo eficaz o obscurantismo, os falsos interesses e os antagonismos inexistentes e fomentados por quem pretende dividir para melhor reinar o consumar desígnios que nada têm a ver com o progresso do Alentejo e de Portugal.

Ainda é cedo para se efectuar um balanço detalhado baseado somente num mês de actividade, mas continuamos animados e convictos da justa mas dura missão que nos propusemos implementar”.

Jorge Guedes Campos

 

OS DESAFIOS

29 de maio de 1992

“VIVO E VERTICAL!"

É esta a última edição do Diário do Alentejo a sair antres do dia em que perfaz os sessenta anos de existência. Idade bonita, não só para um jornal, como para qualquer vivente. A provecta idade dá a este órgão condições de experiência que lhe permitem uma posição de privilégio, não só em relação à imprensa escrita em geral, mas, sobretudo, em relação aos jornais regionais. São poucos, de facto,  os jornais de província que atingiram a duração que aqui estamos a registar e que, da forma possível, comemoramos.

 

As vicissitudes por que passou serão relatadas (já foram, aliás em anteriores aniversários) em edições futuras.

O certo é que, com algumas oscilações e até uma breve paragem de publicação regular, os objectivos propostos pelos fundadores têm sido cumpridos.

 

Criado em 1932 como paladino da defesa dos interesses do Alentejo, subordinado ao compromisso da independência em relação aos poderes (quaisquer que fossem) aqui está hoje vivo, servindo uma causa que é a nossa.

 

Por muito que seja acusado de estar ao serviço de interesses determinados, naturalmente porque a entidade proprietária (AMDB) é, em maioria, composta por municípios com coloração política de esquerda, desafia-se qualquer detractor a comprovar que se fugiu ou deturpou a orientação inicial.

 

A resposta aos desafios (passados ou futuros) terá quer ser remetida para a leitura de cada número. É aqui que reside a autoridade e a aceitação popular que se vem mantendo há seis décadas.

 

A consciência de que herdamos um valioso património cultural, cívico e combativo em prol da região e das suas gentes dá-nos ânimo para prosseguir, sem hesitações, na linha editorial que nos tem prestigiado.

 

E veremos com muito agrado que, se porventura, amanhã acontecer uma qualquer mudança na correlação dos poderes regionais, este jornal não deixe de ser o que hoje é.

Será o respeito pelo passado, pela obra e pelos seus intervenientes dedicados e dignos que puderam de pé e mantiveram o Diário do Alentejo”.

António Alexandre Raposo

 

OLHAR O FUTURO

31 de maio de 2002

“O FUTURO COMO META"

O “Diário do Alentejo” comemora amanhã, 1 de Junho, 70 anos de vida.

 

Com um percurso singular na imprensa regional portuguesa, desfruta no presente de grande prestígio e desempenha uma função insubstituível na região, dando voz às aspirações fundamentais das populações e contribuindo para o debate dos grandes problemas do Alentejo.

 

É natural, neste momento de alegria e justificado orgulho, assinalar a data festiva em comunhão com os trabalhadores e colaboradores do jornal, leitores e anunciantes, todos os que, ao longo destas sete décadas, fizeram o DA com esforço, competência e dedicação.

 

Justo é também saudar os representantes dos municípios do Baixo Alentejo, proprietários do “Diário do Alentejo”, que há 20 anos se associaram para adquirir o título e viabilizar a empresa, mobilizando meios humanos e técnicos para que o jornal, a partir de então semanário, pudesse cumprir o seu papel. E sublinhar que, apesar das inúmeras pressões, os diferentes autarcas que até agora passaram pelos órgãos directivos da Associação de Municípios do Distrito de Beja sempre assumiram as suas responsabilidades e souberam respeitar a autonomia editorial e funcional do jornal, contribuindo desse modo para o prestígio do DA.

 

Orgulhosos das tradições do jornal e com os olhos postos no futuro, os trabalhadores do “Diário do Alentejo” reafirmam hoje o seu firme empenho em continuar a construir um jornal cada vez melhor, adequado aos tempos que vivemos, com uma orientação democrática, independente e regionalista, ao serviço do desenvolvimento do Alentejo e do progresso dos alentejanos”.

Carlos Lopes Pereira

 

80 ANOS PASSARAM

1 de junho de 2012

“HOJE"

Que dia tão formidável, este, o de hoje. 1 de junho de 2012. Dia Mundial da Criança. Dia do direito ao sonho. Dia a brincar. Dia para brincar. Dia em que surgiu pela primeira vez o “Diário do Alentejo”. Foi há 80 anos. Em Beja. Nasceu precisamente da brincadeira, ou do sonho, de um conjunto de intelectuais e de homens de letras. Em plena ditadura militar. Na antecâmera do Estado Novo. No prelúdio da mais sangrenta das guerras. Na ressaca da maior crise financeira que a Humanidade até então conhecera. Nasceu num dos períodos mais cinzentos da História. Mas nasceu para dar um nadinha de luz ao negrume. Irreverente. Acutilante. Atuante. Frontal. Irónico. A primeira manchete do jornal, imagine-se, intitula-se “A Crise”. Foi em 1932. Bem poderia ter sido hoje. E ao longo destas últimas oito décadas, com alguns avanços e outros tantos recuos, franco e independente se manteve. O “Diário do Alentejo” pertence, desde a primeira hora, a quem o lê.

 

É e sempre foi um jornal do leitor. E não de quem o fabrica. Pertence às pessoas. É com as pessoas que está. É das pessoas, das suas realizações individuais e coletivas, que fala. E por isso manteve ao longo de todos estes anos uma fidelidade inabalável dos seus leitores. Dos seus legítimos proprietários, afinal. Hoje publicamos um estudo de audiências promovido pela Marketest que dá conta da fortaleza dessa relação. O “Diário do Alentejo” tem consigo quase 70 por cento das pessoas que leem jornais regionais no distrito de Beja. Um número que apenas surpreenderá os mais desatentos. Um número que nos dá ainda mais alento para prosseguir. E que apenas confirma oficialmente, cientificamente, a relação quase sanguínea que o “Diário do Alentejo” mantém com a região, com os seus leitores, com os seus dedicados amigos. Uma relação aberta, fraterna e verdadeira. Como o são as relações entre as crianças. Ainda que a brincar. Hoje é o seu dia. Hoje é o nosso dia”.

Paulo Barriga

 

O RECORDAR DE 90 ANOS

1 de Junho 2022

Junho de 1932: numa tarde que se adivinharia soalheira, no dia 1, nasceu um vespertino que haveria de ficar para a História, mesmoque os seus fundadores não o soubessem. Em 1932, o dia 1 de junho ainda não era sinónimo de criança, mas mal adivinhavam todos os que o viam nascer, naquele dia, que o “Diário do Alentejo” haveria de tornar-se criança, jovem, adulto e, finalmente, chegar à provecta idade de90 anos. Um feito, sem dúvida, apenas à altura de poucos. E que o “Diário do Alentejo”, com muitas privações e provações,conseguiu!

Ao longo dos seus longos anos de existência, o “Diário do Alentejo” já passou por muito. Nasceu num tempo em que o tempo tinha outrospreceitos, outros vagares. Nasceu num tempo difícil, de censura, de pobreza, de atraso, mas frutífero em esperança, em alma e em acreditar.Acreditar que algo poderia ser mais do que aquilo a que estava condenado à partida. Sem o fatalismo ou o destino do lugar, da condiçãosocial, da época e de tudo o mais que quisessem impor, numa fabricação artificial e condicionada do potencial do ser humano edas suas criações. Num País de injustiças e de desigualdades, de tirania de coisas pequenas e grandes coisas, o “Diário do Alentejo” sempretentou contrariar o rumo da maré. Sempre foi luz na escuridão.

 

Sempre lutou contra o estado de coisas. Fez o seu papel, muitas vezes ingrato e inglório, numa região ostracizada e esquecida, ao longo dosanos. Ao longo de longos 90 anos. Porque 90 anos é muito tempo. São muitas histórias e vidas. As que passaram pelas diferentes redacções do jornal; as que o jornal contou ao longo dos anos. O “Diário do Alentejo” é um retrato de uma cidade, de uma região, do ser-se alentejano no território mais a sul do além-tejo. De agora e de outrora. O “Diário do Alentejo” é o Baixo Alentejo, com as planícies e as serranias do sul. Com os dias de inferno e a noites de inverno. O “Diário do Alentejo” é suor, é luta, é persistência contra o esquecimento. É tentar marcar ritmo onde apenas se quer marcar passo. O “Diário do Alentejo” é o pulsar sanguíneo de um pedaçode Portugal que, por muito que tentemos, é indizível, é intangível. O “Diário do Alentejo” é um jornal com gente dentro.

 

Este ano cumprem-se 90 de anos de existência do “Diário do Alentejo”. Uma idade bonita, com o tanto que contou e com muito mais para contar ainda. Um jornal que é de todos nós. Património de uma região. De uma memória colectiva de Baixo Alentejo e de construção de uma personalidade baixo alentejana. Perdoem-me os leitores, por esta visão romântica dos jornais e do jornalismo. Por esta visão lírica do jornal de todos nós. Mas um jornal é sempre um caso de amor. Amor pela escrita, por observar e envolvermo-nos nas histórias que contamos. Um jornal não é apenas um repositório de notícias. De cronologias frias, plásticas e amorfas. Um jornal deve ser feito com amor. Pelo que virá e pelo legado que traz. São 90 anos que devemos acarinhar. O “Diário do Alentejo” terá lutado contra muita coisa. E sobreviveu. Sobreviveu sempre! Como há-se sobreviver.

Muito para lá de qualquer um de nós!

Marco Monteiro Cândido  

 

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