Diário do Alentejo

Conhecer o mundo através dos ecrãs

12 de maio 2022 - 15:20
“Sem dúvida que as crianças não sabem brincar sem tecnologias”

Os estudos dos últimos anos têm revelado uma tendência avassaladora, em relação à quantidade de crianças e jovens que utilizam diariamente equipamentos tecnológicos, e preocupante, quando analisado o número de horas que estas passam em frente aos ecrã. O “Diário do Alentejo’ foi perceber qual a perceção dos pais, jovens, educadores, professores e especialistas quanto ao assunto. 

 

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

A chuva e o frio, característicos do mês de abril, há umas décadas atrás seriam motivo de desordem e alarido. Seriam até um belo pretexto para uma boa birra de qualquer criança que espera ansiosamente pelos dias de calor para jogar à bola e ao pião durante as manhãs e saltar à corda e brincar às escondidas até ao anoitecer. Agora, nem a chuva, nem o vento ou o sol parecem interferir no tempo gasto livremente pelos mais novos. A televisão, o telemóvel, o tablet e o computador são alheios a qualquer meteorologia e umas “amas mais fáceis de contratar” para entreter as crianças.

 

No passado mês de fevereiro, foram apresentados os resultados preliminares do questionário “Riscos Online dos Jovens Portugueses”, estudo levado a cabo pelo projeto Geração Cordão e a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. Com o estudo ainda a decorrer, os primeiros dados conhecidos são reveladores da relação dos jovens com as novas tecnologias: 82 por cento dos participantes, a partir dos 12 anos, revelam que tem acesso, durante a noite e no quarto, a ecrãs (computador portátil, smartphone/telemóvel, tablet, consola portátil e/ou televisão), com 53 por cento a revelar que usa diariamente alguns desses meios “imediatamente antes de dormir ou para adormecer”. Já em 2018, o artigo “Hábitos de Utilização das Novas Tecnologias em Crianças e Jovens”, publicado na revista “Gazeta Médica”, indicava a alta taxa de utilização de tecnologias por parte das crianças e jovens. Segundo a publicação, e partindo de uma amostra de 407 crianças e adolescentes, 67 por cento das crianças entre os zero e os três anos utilizavam equipamentos tecnológicos, assim como 89 por cento das crianças entre os quatro e os seis anos. Nas faixas etárias seguintes as percentagens seriam ainda mais vincadas, com 98 por cento de uso entre os sete e os dez anos, passando a 100 por cento nos jovens entre os 11 e os 18.

 

O contacto com equipamentos tecnológicos surge em idades cada vez mais precoces e o vício e a influência que estes exercem nos mais novos tendem a crescer com eles. Para a educadora de infância, Helena Grilo Martins, o “desenvolvimento das crianças ocorre das relações e interações com o meio envolvente”, ou seja, “as [suas] vivências nos seus diferentes contextos (familiar, escolar etc.) vão influenciar a sua forma de ser e de estar”. Em idades do pré-escolar “as crianças encontram-se no mundo da fantasia e é para elas ainda difícil fazer a distinção entre o mundo real e o mundo da ficção, logo tudo aquilo que assistem nos desenhos animados acaba por ser algo que tendem a imitar e por vezes desejam querer, ser ou fazer”, revela ao “Diário do Alentejo” (“DA”) a educadora do Patronato de Santo António, em Beja.

 

Segundo Virgínia Santos, médica e responsável clínica da Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (DICAD) da Administração Regional de Saúde do Alentejo, a utilização de tecnologias é “inevitavelmente precoce” e ainda que “os ecrãs façam parte das nossas vidas, a sua utilização nunca deve ocorrer antes dos cinco anos”, uma vez que “o desenvolvimento cognitivo e psicomotor fica prejudicado face à intensidade e multiplicidade de estímulos que as tecnologias desencadeiam, podendo verificar-se alterações dos padrões de sono e o isolamento das crianças com o risco de perturbações psicológicas e sociais”. Helena Grilo Martins, educadora de uma das salas dos três aos cinco anos da instituição, as crianças nos dias de hoje têm dificuldades ao nível dos “movimentos que implicam uma maior precisão, como o manuseamento da tesoura no recorte, a manipulação do rato do computador, na modelagem de plasticina e barro, ou seja, em todas as atividades de estimulação da coordenação motora que requerem movimentos mais minuciosos”. Também ao nível social, “tendem a isolar-se mais e revelam dificuldades em procurar e em aceitar os outros nas suas brincadeiras”, explica.

 

Estes comportamentos prematuros, ainda que de forma muito pouco evidenciada, acabam por acompanhar as crianças e acentuarem-se nas suas diferentes fases de desenvolvimento. Ana Carochinho Pereira, mãe de José e de Mariana, confirma que o filho de seis anos “começou muito cedo a utilizar tecnologias” e que a filha de 12 protesta sempre que é contrariada para não utilizar o telemóvel. Ao “DA” conta que é “raro” que os dois filhos brinquem entre si, “mesmo para o exterior é preciso alguma insistência”. Em consequência do aumento das suas horas de trabalho, acaba por “dar pouca assistência e as tecnologias foram umas ‘amas’ mais fáceis de contratar para os ocupar”, principalmente para o José que, devido à sua tenra idade, apresenta uma influência muito maior dos ecrãs, tendo absorvido “toda a linguagem brasileira” e começado “a utilizar expressões típicas no seu dia-a-dia, como “galerinha” em vez de amigos ou “geladeira” para se referir ao frigorífico”.

 

Esta é umas das características mais visíveis e mencionadas pelos pais e aquela que preocupa muito os professores e educadores de infância. “Algumas crianças ao assistirem a desenhos animados brasileiros, acabam por pronunciar as palavras com sotaque brasileiro, ou seja, falam brasileiro em vez de falar português, o que é algo bastante preocupante ao nível da aquisição da linguagem nestas idades”, revela Helena Grilo Martins.

 

Também Susana Alves tem visto a confusão linguística que os vídeos e os jogos online têm causado no seu enteado de quatro anos. “O Afonso, além de falar muito o português do Brasil, começou agora a confundir algumas palavras entre as duas línguas”, conta a jovem de 21 anos. A mesma atitude presenciou a mãe Joana Gonçalves: “notei que a Luz, com dois anos, começou a dizer algumas palavras em brasileiro e optámos por mudar a rota e agora só vê mesmo [desenhos animados] em português”.

 

Por sua vez, no famoso “período crítico” da adolescência os comportamentos perpetuados da dependência tecnologia conduzem ao isolamento, à apatia, à inércia e ao desinteresse “nas atividades de sala de aula, porque [os jovens] são obrigados a desligar-se por momentos do telemóvel”, refere ao “DA” a professora do ensino básico e secundário, Magda Coelho. A docente de físico-química afirma que “a socialização destas novas gerações é muito pouca e deveras preocupante, é inclusive assustador ver o que está a acontecer e não sabermos como será no futuro”.

 

DEPÊNDENCIA EMOCIONAL

Na maioria dos relatos, as lágrimas, os gritos, os amuos e as reclamações são os cenários possíveis quando se desliga uma consola de jogos, um telemóvel, um tablet ou um computador. O sentimento de ter que se sair do mundo virtual e voltar à realidade é, ainda que inconscientemente, doloroso para os mais novos. “Quando a Maria Rita está a assistir aos vídeos no Youtube parece que entra num mundo à parte e não ouve nem vê quem está à sua volta. É como se não estivesse presente. É nessa altura que lhe tiro a ‘chupeta eletrónica’ e, regra geral, temos birra”, confessa Ana Carvalho ao mesmo tempo que afirma que a filha de cinco anos passa cerca de 30 a 40 minutos por dia no tablet ou na televisão. Para a médica especialista em comportamentos aditivos, Virgínia Santos, a influência “não é obrigatoriamente negativa”. “Há que ter em conta não a sua utilização, mas a forma como se utiliza e por quanto tempo. São os excessos que trazem a influência negativa. O excesso de tempo à frente de ecrãs implica a diminuição do tempo em que as crianças ou os jovens estão a brincar, a interagir com os outros e a desenvolver a sua criatividade”. Segundo os dados do estudo “Hábitos de Utilização das Novas Tecnologias em Crianças e Jovens”, as percentagens da utilização excessiva entre os zero e três anos de idade eram de 42 por cento e nas faixas etárias dos quatro aos seis anos de 41 por cento. Números alarmantes, tendo em conta as orientações da Academia Americana de Pediatria que sugere a não utilização de tecnologias digitais por crianças até aos 18 meses, o uso acompanhado, esporádico e de cariz educativo até aos dois anos de idade e, daí em diante, a recomendação do uso limitado a uma hora diária.

 

O stress, o trabalho e toda a rotina acelerada são alguns dos motivos apresentados pelos pais para a falta de paciência e de descanso que os levam a permitir que os seus filhos passem horas em frente a um ecrã. “Os adultos de hoje em dia, por vezes, não têm paciência para brincarem com os seus filhos, nós já não sabemos brincar como brincávamos em miúdos. Onde trabalho [num restaurante]   noto muito que quando a família chega para jantar, os pais antes de tudo perguntam a palavra-passe da internet e colocam o telemóvel em frente aos filhos”, conta Ana Carochinho Pereira, de 38 anos. Susana Alves partilha da mesma opinião, que acredita que “esta dependência é culpa dos pais, porque se houver o controlo certo acho que será muito mais positivo para as crianças. O cansaço e o stress que existe nos adultos fazem com que não haja tempo e paciência, e por isso a tecnologia é muitas vezes o refúgio de alguns pais em determinados momentos, talvez aí comece o mal …”, lamenta a esteticista.

 

É também na adolescência que esta dependência emocional das tecnologias, principalmente do telemóvel, é mais percetível. A professora de geografia do Agrupamento de Escolas n.º1 de Beja, Teresa Carvalho, acredita que os jovens “têm muita dificuldade em largar o telemóvel, acham que sem redes sociais, chats e jogos online não existem. O dia-a-dia deles se não estiver registado é como se não tivesse acontecido”. A sua colega de profissão, Magda Coelho também tem esta perceção e adianta ao “DA” que “é fácil de perceber que os jovens de hoje não são o mesmo tipo de estudantes que eu era, sem tecnologias, porque eu sentava-me para estudar e ponto final, não havia mais nada que eu pudesse fazer. Agora, comentar a fotografia que o amigo postou no instagram ou ver o último twit de A, B ou C é muito mais interessante do que saber os conteúdos que vão sair no teste de amanhã, por exemplo”, refere.

 

CONTROLO PARENTAL

O estudo “Pais, filhos & tecnologia”, publicado em 2021 pelo Centro Internet Segura (CIS), em parceria com a Fundação para a Ciência e Tecnologia e o Centro Nacional de Cibersegurança de Portugal, identifica quatro estilos parentais diferentes, no que diz respeito ao controlo da utilização da internet e das tecnologias digitais. Estes divergem entre o alto e o baixo controlo parental, em conformidade com o alto e o baixo afeto parental, sendo eles os pais “autoritativos”, os “autoritários”, os “permissivos” e os “laissez-faire”. Segundo o artigo, um pai “autoritativo” é aquele que estabelece regras claras para as atividades online dos seus filhos e que monitoriza e corrige os comportamentos negativos, ao mesmo tempo que reforça os comportamentos positivos. O pai “autoritário” caracteriza-se por ser “muito rígido” estabelecendo regras de restrição ao uso da tecnologia, independentemente, de qual for a participação da criança. O pai “permissivo” não define regras ou limites e permite que seja a criança a definir o seu próprio comportamento e as suas atividades online. E por fim, o CSI indica o pai “laissez-faire”, ou negligente, aquele que está apenas focado na sua atividade online e que não se preocupa com o uso que os seus filhos fazem da internet.

 

Já de acordo com os dados publicados na “Gazeta Médica”, é no início da adolescência que existe um controlo parental mais ativo, nas faixas etárias entre os sete e os 14 anos, representando mais de 50 por cento. “Enquanto pai, procuro que os meus filhos façam uma utilização regrada e consciente das tecnologias, de forma a evitar que passem muito tempo em frente a um ecrã. Acompanho sempre que posso os meus filhos na utilização de equipamentos tecnológicos, com horários definidos e no caso da minha filha, com 11 anos, que teve agora o primeiro telemóvel, tenho uma aplicação de controlo parental instalada que me permite controlar o uso que é feito do telemóvel em termos de tempos de utilização, aplicações instaladas e utilizadas, contactos, etc..”, explica ao “DA” António Grade. Contrariamente, e segundo o mesmo estudo, as faixas etárias dos zero aos três (35 por cento), dos quatro aos seis (44 por cento) e dos 15 aos 18 anos (26 por cento) são aquelas que apresentam um menor controlo. Margarida Santa Rita, de 18 anos, e Maria Margarida Guerreiro, de 16 anos, são dois desses exemplos. Ambas estudantes do Liceu Diogo Gouveia, em Beja, afirmam que utilizam entre quatro a oito horas diários o telemóvel e que os seus pais “não têm por norma contrariar ou proibirem o seu uso”. Quando questionadas quanto às imposições que fazem a si próprias para limitar o tempo dos ecrãs garantem que “não existem” e que utilizam as tecnologias sempre que necessitam.

 

BENEFICIOS PARA A APRENDIZAGEM

No que diz respeito aos benefícios para a aprendizagem, as opiniões dividem-se, principalmente entre pais e educadores/professores. Há pais que defendem que a tecnologia só veio condicionar o desenvolvimento infantil, como é o caso de Joana Horta e Patrícia Pires. Para estas mães “não existe benefício nenhum”, uma vez que sem tecnologias “as crianças já não sabem brincar”, nem na rua, nem em casa, simplesmente “não sabem de forma nenhuma”. A par deste problema, surgem outros com contornos mais sombrios que colocam os pais em alerta e com receio do desconhecido. A responsável clínica da DICAD, Virgínia Santos, acautela para as alterações dos padrões de sono, o isolamento, o aliciamento de menores através de chats e redes sociais, a visualização de conteúdos impróprios e para o cyberbullying, ou seja, o bullying através da internet por mensagens de ameaça, perseguição, roubo de identidade e publicação ou alteração de fotografias.

 

Ainda assim, exista quem defenda que “há as duas faces da moeda, o bom e o mau”. “Sempre defendi, mesmo antes de ser mãe, que a internet é um lugar muito bom se soubermos tirar proveito dela, porém e praticamente sem nos darmos conta, pode tornar-se no pior cenário que consigamos imaginar. Defendo a existência sempre de uma supervisão parental (ou de alguém adulto) em todos os conteúdos. A ferramenta funciona de forma benéfica se a usarmos num sentido de ensinamento, educação, conhecimento, lúdica e divertida”, esclarece Vanessa Amaro, mãe do pequeno Francisco, de 26 meses, que não tem ainda contacto com dispositivos tecnológicos por opção dos pais. Também, Inês Ramos, de 28 anos e mãe do Vicente, de três anos, entende que a tecnologia traz benefícios ao nível das aprendizagens, “como, por exemplo, nos números, o inglês, as cores e as letras” estimulados através de vídeos e jogos pedagógicos.

 

“Cada vez mais cedo, importa que exista uma intencionalidade pedagógica/educativa na utilização das tecnologias, como um meio privilegiado de acesso ao conhecimento do mundo, próximo e distante, e no contacto com outros valores e culturas, sendo esta utilização considerada como um recurso facilitador de aprendizagens”, afirma a educadora Helena Grilo Martins. Da mesma forma, mas com uma finalidade diferente, a professora Teresa Carvalho viu-se sujeita a “procurar algumas estratégias socioeducativas”, tanto para capacitar os alunos para o uso adequado e eficiente de meios tecnológicos, como para ensinar e motivar os jovens nas suas aulas de geografia. “Em vez de banir o telemóvel da aula, recorro a ele para fazer atividades no kahoot, Padlet ou mesmo aceder à aplicação de meteorologia para iniciar o estudo do clima, por exemplo. Para além disso, indico algumas páginas do instagram para que possam ter acesso a conteúdos de forma mais apelativa e lúdica. Este ano implementei testes de avaliação sumativa através do google forms e a experiência foi muito positiva. Não só poupámos muito papel, como o teste tem mais imagens a cores, as escolhas múltiplas tornam-se mais acessíveis e até acho que os alunos escrevem mais se for no telemóvel”, relata.

 

Também para Virgínia Santos, do DICAD, a tecnologia permite que as crianças e adolescentes se tornem mais hábeis, comunicativas e próximas de pessoas que vivem noutro local, tornando-se ricas em diferentes tipos e formas de conhecimentos, “o que aumenta as suas competências e promove a capacidade e o envolvimento na própria aprendizagem”. A médica de 65 anos explica ainda ao “DA” que “alguns estudos referem a importância de alguns jogos de consola na melhoria das funções cognitivas em termos de atenção e tempo de reação, em crianças com perturbações de hiperatividade com défice de atenção”, uma vez que a “interação com algumas aplicações e jogos estabelece relações de causa-efeito, lógica, resolução de problemas e ação-reação, o que desenvolve de forma divertida a capacidade da criança ou do jovem”.

 

O jovem Nuno Passos, de 14 anos, concorda com os dois pontos de vista anteriores. Para ele, nas faixas etárias da adolescência cabe a cada um “ter a responsabilidade e saber” quando parar e como usar as tecnologias a seu favor. No seu caso em particular, conta ao “DA” que uma “pausa regular” ajuda bastante a evitar a sua exposição e que vê na tecnologia uma “utilidade para o futuro”. Futuro este que Marlene Rodrigues, mãe de Rodrigo de 11 anos e de Gonçalo de 15 meses, acredita ser impossível de fugir, porque “em tudo está tecnologia”. “É quase impossível que as crianças e adolescentes cresçam hoje sem terem contacto com os ecrãs, e se forem definidos, de forma consistes, os limites de tempo e as regras, a sua utilização é benéfica”, conclui Virgínia Santos.

 

Assim como o mês de abril, que nos tem habituado ao equilíbrio entre os dias soalheiros e os dias chuvosos, também a exposição dos mais novos deve ter um meio-termo, entre os filmes na televisão e os vídeos no tablet no conforto de casa e o frio de brincar à apanhada e ao ‘gato das cores’ no parque.

 

“ARRISCA ADOLESCER”

A Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (DICAD) da Administração Regional de Saúde do Alentejo, através da consulta de prevenção “Arrisca Adolescer”, tem como principal enfoque precaver e promover estilos de vida saudáveis, com base na confiança e autoestima, quando necessário com intervenção psicoterapêutica e familiar.

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