Diário do Alentejo

Exposição “Covid@Alentejo, olhares”

16 de março 2022 - 15:20
Foto | António Carrapato - Castelo de Vide, Portalegre, 2021.Foto | António Carrapato - Castelo de Vide, Portalegre, 2021.

O Centro de Artes de Sines apresentou no passado dia 13 de março, a exposição conjunta de fotografia “Covid@ Alentejo, olhares”. O projeto engloba imagens da autoria de António Carrapato, António Cunha, Augusto Brázio e Maria do Mar Rêgo que, sob o tema da pandemia, calcorrearam o Alentejo, de 2020 a 2022, no intuito de elaborarem um documento artístico visual, para memória futura, acerca deste inusitado período social.

 

Texto José Serrano

 

Até ao passado dia 13 de março, o Centro de Artes de Sines teve patente ao público a exposição fotográfica “Covid@Alentejo, olhares”, projeto que resulta de um convite dirigido pela Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlentejo) a António Carrapato, António Cunha, Augusto Brázio e Maria do Mar Rêgo.

 

Uma solicitação que tem na sua génese, em abril de 2020, o objetivo de mapear o Alentejo em tempos de pandemia, do litoral até Portalegre, passando por Beja e Évora – “uma viagem de registo”, de cerca de dois anos, através dos olhares destes fotógrafos, “sobre esta ‘peste’, na nossa região”, de forma a constituir-se como documento “para memória futura”, expõe Ana Paula Amendoeira, diretora da DRCAlentejo.

 

O curador desta exposição, Rui Prata, considera que a escolha da Fotografia para este projeto “surge com naturalidade, já que se trata de uma forma eficaz que permite, na sua essência, o balanço entre o documental e a prática artística”. Embora com o tema comum, o trabalho final resulta “naturalmente” distinto, expõe o curador – “Maria do Mar Rêgo distingue-se pelo uso do preto e branco e também por um olhar subtil e poético, António Carrapato e António Cunha expressam uma visão de cariz mais documental e objetiva, sendo que o primeiro salpica aqui e ali com o seu sentido de humor, evidenciando Augusto Brázio a sua excelência retratista”.

 

O “Diário do Alentejo” falou com estes quatro criadores, acerca da experiência vivenciada em fotografar o novo “protagonista”, inesperado e perturbador, e do que cada um pretendeu captar, através das imagens que agora se encontram em exposição.

 

ANTÓNIO CARRAPATO

“Tive a oportunidade de fotografar a pandemia em distintos momentos, ao longo de dois anos, no distrito de Portalegre. O novo contexto, em que toda a comunidade viveu, levou a que as minhas fotografias tivessem sempre em conta o modo como cada grupo pessoa ou grupo se relacionou, individual e coletivamente, com esta novidade”.

 

“Pretendi fotografar, num registo documental, a relação das pessoas com a pandemia, destacando momentos e contextos onde se revelam subtis ironias ou absurdas coincidências”.

 

ANTÓNIO CUNHA

“Foi uma experiência muito enriquecedora e, ao mesmo tempo, perturbadora – por tudo aquilo que muitos estariam a sofrer, pelo medo que existia. Logo no início da pandemia comecei a fotografar Beja, tentando, no meio de uma nova realidade, criar uma narrativa visual que preenchesse esse quotidiano – a ausência de pessoas, de carros, a transformação da cidade em campo, ouvindo-se, sobretudo, os pássaros. Foi uma experiência muito forte”.

 

“Tentei abranger tudo aquilo que se ia passando no quotidiano, em todo o distrito de Beja, englobando as ações de prevenção e promoção de saúde – os serviços, a vacinação, os lares –, mas também as profissões – como o fazer do pão e do queijo com luvas e máscara ou o trabalhos de alfaiate e sapateiro a serem chamados para confecionar essas mesmas máscaras de proteção, no início muito escassas. O uso da máscara acabou por ser o denominador comum a todo o projeto”.

 

 

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 António Cunha “Esta é uma imagem muito simbólica, que comporta a juventude, a esperança na vacina, a vida – está tudo aí em jogo”. Centro de Vacinaçãode Beja, agosto de 2021.

 

AUGUSTO BRÁZIO

“Posso resumir esta experiência, de fotografar na primeira vaga do Covid-19, como intensa, única, delicada e, muitas vezes, receosa.”

 

“ [Procurei] criar um documento visual, como testemunho de um tempo de inquietação, incertezas e desconhecimento”.

 

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Augusto Brázio “Rio Chança [afluente do Guadiana], linha de fronteira natural, onde foram colocadas duas enormes estruturas a impedir a passagem entre Portugal e Espanha”. Margem esquerda do Guadiana, 2020

 

MARIA DO MAR RÊGO

“O desafio foi o de encontrar uma imagem para o invisível. Quando surgiu este convite, a primeira questão que me assaltou foi a de poder determinar exatamente o que é que eu procurava, já que se tratava de algo desconhecido: a Covid, o vírus. Nada estava definido, só tínhamos indícios, limites, restrições e alguns protocolos de higiene. Foi pensando nesses limites – a distância, as marcas, a separação dos corpos, as indicações e os obstáculos – que comecei a fotografar esta presença, avassaladora mas invisível”.

 

“Quero dar a ver [através das imagens expostas] que, ao longo destes dois anos de pandemia, fomos mudando o nosso comportamento, que as informações que nos chegaram nem sempre foram evidentes, produzindo cenas caricatas. Mas que continuámos. Eu fui ao encontro da vida social da população alentejana, que seguia fora dos hospitais ou dos lugares onde se batalhou com a morte, da vida de todos os dias, adaptada de forma extraordinária às contingências: o coro, o mercado, a exploração agrícola, os centros de dia para pessoas idosas ou com deficiência, a universidade….”

 

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Maria do Mar Rêgo “A fotografia dos ensaios do Coral de Évora, ao ar livre, na Escola Secundária Severim de Faria. Continuar a cantar, a dar a voz”. Évora, verão de 2020

 

ITINERÂNCIA DA EXPOSIÇÃO

A exposição “Covid@Alentejo, olhares”, de carater itinerante, tem já confirmadas, as próximas datas de apresentação:

 

  • Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor – de 26 de março a 21 de maio de 2022;
  • Museu Rainha Dona Leonor/ Igreja de Santo Amaro (Beja) – de 17 de junho a 15 setembro de 2022;
  • Carpintarias de São Lázaro/ Imago Lisboa – de 1 a 30 de outubro de 2022;
  • Mosteiro de São Bento de Cástris (Évora) – de 15 de novembro a 31 de dezembro de 2022.

 

Posteriormente a exposição seguirá para a região espanhola da Andaluzia (Sevilha) e para o Algarve, com datas a serem, oportunamente, divulgadas.

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