Diário do Alentejo

Paulo Arsénio promete “criar pontes” com a oposição

06 de outubro 2021 - 14:00

O PS quebrou o enguiço e reelegeu Paulo Arsénio para um segundo mandato à frente da Câmara de Beja. A CDU manteve os três vereadores e o PSD está de regresso ao executivo com a eleição de um. O balanço feito pelos cabeça-de-lista das três forças políticas mais relevante do concelho.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Paulo Arsénio conseguiu nas eleições autárquicas do passado domingo um feito que os três últimos presidentes da Câmara de Beja não alcançaram: assegurar a reeleição após o primeiro mandato. No entanto, a vitória dos socialistas fica marcada pela perda da maioria no executivo. Nas freguesias, o PS deixou escapar Santiago Maior/São João Baptista para a CDU, mas conquistou São Matias ao movimento independente (que desta vez não se apresentou ao escrutínio) e Salvada/Quintos à CDU.

 

Os socialistas não terão, por isso, vida fácil, quer no executivo, quer na Assembleia Municipal, onde conseguiram 16 eleitos, menos um do que a soma dos da CDU (13) e da coligação PPD/PSD, CDS-PP, Aliança, Iniciativa Liberal e PPM (4).

 

Quanto a números, o PS teve menos 1392 votos do que há quatro anos. A CDU também não fez muito melhor, perdeu 967 votos. Já a coligação liderada por Nuno Palma Ferro mais do que duplicou a votação, atingindo os 18,5 por cento. O Chega conseguiu o quarto lugar, ultrapassando o Bloco de Esquerda que perdeu cerca de metade da votação e a representação na Assembleia Municipal.

 

MUDANÇA

O presidente da Câmara de Beja admite que este resultado, com a perda da maioria no executivo, “traz uma mudança” com a qual terá de trabalhar. “Em democracia há solução para tudo, só em ditadura é que não há”, diz Paulo Arsénio, acrescentando que “as oposições também têm que mudar de atitude”.

 

O autarca agora reeleito diz que esperava “perdas menos expressivas”, mas ressalva que, apesar de tudo, “a diferença de votos entre os dois primeiros partidos foi superior” à diferença observada nas últimas duas eleições. Governar em minoria “não é inédito” na cidade de Beja e Paulo Arsénio garante que saberá lidar com a situação e “criar pontes” entre as várias forças políticas representadas no executivo. Na próxima semana, os órgãos concelhios do PS vão reunir para afinar a estratégia e, a partir daí, encetarão contactos com a CDU e com o PSD. Apesar de a abstenção ter sido “ligeiramente” menor do que nas últimas eleições autárquicas, Paulo Arsénio afirma que se bate para que seja “cada vez menor” e para mostrar aos eleitores que “o conforto do sofá não resolve nada”.

 

Nos próximos quatro anos o presidente da Câmara Municipal de Beja quer concluir as obras que estão previstas no âmbito do Portugal 2020, nomeadamente, os percursos acessíveis, a zona de acolhimento empresarial norte, o Museu do Romano, a requalificação do Parque de Campismo e “aproveitar as oportunidades do novo quadro comunitário plurianual”. Para além disso, “é absolutamente fundamental” conseguir avançar com a Estratégia Local de Habitação (ELH) e concluir as obras até 2026, enumera Paulo Arsénio.

 

NOVO CENÁRIO

Vítor Picado, candidato da CDU à presidência da Câmara Municipal de Beja, confessa que este “não foi o resultado que estava à espera” tendo em conta o que sentiu durante a campanha por parte da população. No entanto, o candidato comunista diz que, com a falha da maioria absoluta por parte do PS, “estamos perante um novo cenário” e que, “apesar do programa a aplicar ser de quem ganhou”, as outras forças políticas com presença no executivo podem olhar “com outros olhos para o futuro”, nomeadamente, na “partilha de informação” sobre os dossiês do município, o que, diz, “não aconteceu nos últimos quatro anos”. “Há condições para posições mais concertadas”, acredita.

 

Vítor Picado mostra-se, no entanto, “preocupado” com a abstenção (cerca de 44 por cento), na sua opinião “demasiado elevada”, apesar de defender “a liberdade das pessoas não votarem”. E desafia todos os partidos “a refletir” sobre esta realidade e a tentar perceber “o que pode ser feito para inverter esta tendência”.

 

Para o próximo mandato, o eleito da CDU aponta como objetivos principais a política de habitação, que no seu entender deve contribuir para “regular o mercado”, e considera a ELH, recentemente aprovada com a abstenção da CDU e que querem “melhorar”, o instrumento ideal para o conseguir.

 

A “salvaguarda dos direitos dos trabalhadores da EMAS” e garantir que a empresa não será extinta é outra das intenções dos comunistas, a par do alargamento do suplemento de salubridade a outros trabalhadores do município. O atual vereador da CDU diz que o problema das acessibilidades internas tem de ser encarada de frente, até porque o município “tem os recursos humanos e os meios técnicos” para a resolver. O IP8 – com quatro faixas até Vila Verde de Ficalho – e a requalificação da ferrovia até à Funcheira é outro dos temas que a CDU não quer deixar cair.

 

DISPOSTO A ACEITAR RESPONSABILIDADES

Nuno Palma Ferro foi quem encabeçou a candidatura à presidência da Câmara Municipal de Beja pela coligação que juntou PPD/PSD, CDS-PP, PPM, Iniciativa Liberal e Aliança. O agora eleito vereador disse ao “Diário do Alentejo que ficou com uma sensação “agridoce” porque acreditava poder eleger dois vereadores. O autarca agora eleito diz “não estar à espera de nada”, mas “disposto a aceitar as responsabilidades que lhe queiram atribuir” e que os eleitores sufragaram.

 

O também professor diz que entendeu este desafio “como um processo de cidadania” e deixa a “análise política para outros que a queiram fazer”. No entanto, manifesta a sua estranheza perante os números da abstenção que, apesar de tudo, “em Beja foram dos mais baixos do País”. Nuno Palma Ferro “diz que é fácil ficar na bancada” e não ir a jogo, que foi aquilo que, diz, os elementos que integraram a sua lista não fizeram, “ao abandonarem a sua zona de conforto. Temos todos de contribuir para melhorar a nossa cidade”, concluiu.

 

O FATOR CHEGA

Paulo Arsénio manifestou-se em relação à votação no Chega que considera “expressiva” para um partido “que quase não fez campanha” e diz ser um “fenómeno que merece reflexão profunda”. O presidente da câmara diz que a eleição de vereadores por parte desta força política em Moura e Serpa “é revelador da aceitação que está a ter na região”, fruto de um “discurso que explora as dificuldades e fragilidades das pessoas” de uma forma populista.

 

Também Vítor Picado diz que a expressão de votos no Chega é “preocupante”, ainda mais porque foi protagonizada por “um candidato que não é de Beja e esteve ausente da campanha”. Nuno Palma Ferro considera tratar-se de uma situação “estranha”, pois “não apresentaram qualquer proposta”. “É uma realidade que tenho de aceitar porque a democracia assim o diz, mas não é fácil”, diz o agora vereador, que se manifesta “inquieto e perplexo” em relação ao tema. “As pessoas que votaram é que têm de explicar”, conclui.

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