SINDICATOS QUEREM MENOS ALUNOS POR TURMA
A presidente da direção do Sindicato Democrático dos Professores do Sul (SDPSul) afirma, por seu turno, que as expectativas em relação ao próximo ano letivo “não são muitos boas”. E justifica: “As medidas que consideramos que são muito importantes não foram tomadas, designadamente, a redução do número de alunos por turma. É fundamental para que possa haver um certo distanciamento”.
Por outro lado, acrescenta Josefa Lopes, nada se alterou “nos espaços das escolas, de estar, de refeição”. “Verificámos no ano letivo findo que houve problemas gravíssimos. Os alunos no inverno não tinham onde estar, nem os professores, muitas vezes as portas e janelas das salas estavam abertas para que houvesse arejamento e os alunos e os professores passavam frio. Não são condições saudáveis para se trabalhar. E nada nos faz pensar que vai ser diferente. Estes problemas vão continuar a verificar-se”. A dirigente vê, no entanto, “como positivo” o facto de “os professores e os funcionários, e alguns alunos, estarem vacinados”.
Para o presidente do Sindicado dos Professores da Zona Sul (SPZS), o novo referencial da DGS “é importante, mas não são medidas de fundo”, ou seja, “não vai alterar o funcionamento do ano letivo”. Relativamente às questões de ordem sanitária adotadas, “tratando-se de questões de segurança e saúde”, Manuel Nobre considera que os “sindicatos deveriam ser ouvidos”. “Mais uma vez o Governo está a agir unilateralmente”.
A “par de outras medidas”, o dirigente defende, ainda, a redução do número de alunos por turma, “uma questão que já era colocada ao Governo antes da pandemia, por razões de ordem pedagógica”, a que acrescem agora as de natureza sanitária – “garantir o distanciamento físico” –, e sublinha que “o processo de vacinação dos alunos foi feito apressadamente no final de agosto quando muitas famílias estavam de férias”. “O que é que acontece a esses alunos, o que é que está preparado? Vamos ter dentro da sala de aula alunos vacinados e outros não?”, questiona.
Manuel Nobre afirma, também, que o novo plano do Governo que visa a recuperação e consolidação de aprendizagens e de mitigação das desigualdades decorrentes dos efeitos da pandemia – “Plano 21|23 Escola+” –, “não vem ao encontro das dificuldades sentidas na aprendizagem”, que “não surgiram com a pandemia, apenas ficaram mais visíveis”. “Estamos a lidar com um problema estrutural e este é um plano que recorre a fundos comunitários para medidas limitadas no tempo e na sua abrangência”.
O ano letivo 2021/22 ficará igualmente marcado, diz, pelo início “da municipalização da educação”, ou seja, “pela transferência de competências” para as autarquias, “sendo que a maioria não chamou a si essa responsabilidade”. A concretizar-se, afirma, “irá colocar em causa o carácter universal do direito à educação, porque irá possibilitar a existência de 308 sistemas educativos paralelos, criando ainda maiores assimetrias em matéria de educação”. Mas, “em última análise”, será “o abrir da porta para a sua privatização”, à semelhança do que aconteceu com “os transportes escolares e refeitórios”.
Às questões relacionadas com a pandemia, os dois sindicatos acrescentam problemas “já antigos”, como a colocação de professores, o envelhecimento da classe docente e a sobrecarga de trabalho, que acabou por se agravar com a pandemia.
Josefa Lopes lamenta que não sejam criadas “medidas de atratividade e de reconhecimento da profissão de docente”, fundamentais “para o rejuvenescimento da classe”: “Era muito importante que o Governo apostasse fortemente na educação e que no orçamento para 2022 houvesse uma fatia substancial para o setor, porque uma educação ‘low cost’ não pode dar bons frutos”.
Manuel Nobre sublinha que mais de 50 por cento dos professores a nível nacional têm “acima dos 55 anos” – sendo que os três distritos do Alentejo “estão acima dessa média” –, e que os professores com menos de 30 anos, que integram os quadros, “não chegam a uma centena a nível nacional”. O problema “vai ser daqui a 10 anos quando os colegas se começarem a aposentar”, conclui.
DESMATERIALIZAÇÃO DOS MANUAIS
Em declarações recentes ao “Diário de Notícias”, o vice-presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, David Sousa, afirmava que “as escolas estão já a avançar para a desmaterialização dos manuais e materiais clássicos da aprendizagem. O livro nunca se tira completamente, como é óbvio, mas é nesse processo que as escolas já estão a apostar. Os planos de desenvolvimento digital que as escolas estão a ultimar apontam nesse sentido, da desmaterialização do suporte em papel”.
A desmaterialização dos manuais escolares e a transição para o digital é um assunto há muito discutido. Há anos que se promovem, por todo o território nacional, projetos-piloto de utilização de manuais ‘online’. O “Diário do Alentejo” tentou obter, junto do Ministério da Educação, esclarecimentos sobre o processo, nomeadamente, no Baixo Alentejo, mas tal não foi possível até ao fecho desta edição.
De acordo com o vice-diretor do Agrupamento de Escolas n.º 1 de Beja, a questão dos manuais digitais “gera alguma polémica”: “Há um grande grupo de pedagogos que acha que poderá, de alguma forma, ajudar; há outro grupo que não concorda. Eu faço parte do grupo que acha que o papel continua a ser essencial. O digital ajuda imenso, como é óbvio, mas há coisas que não podem ser substituídas. É um assunto que vai dar muito que falar, pensar e investigar”.
Já o diretor do Agrupamento de Moura revela que a transição para o digital é um assunto “que já tem sido discutido”, mas ainda não há nada de concreto para avançar no concelho. “Neste momento é um bocado precoce, talvez daqui a três, quatro anos, tenhamos condições para que isso aconteça, porque vai implicar que todos os alunos tenham, eventualmente, um ‘tablet’ e que depois haja manutenção do equipamento. E caso se estraguem que haja mais disponíveis num curtíssimo espaço de tempo, caso contrário, a sua principal ferramenta de estudo fica condicionada”. As salas de aula, prossegue, “também terão de estar apetrechadas e a nível de Internet tem de haver um sistema mais seguro e mais rápido”.
O digital virá “aliviar, em muito, os miúdos, tendo em conta a carga que eles transportam todos os dias dentro das mochilas, especialmente os mais novos”, considera a diretora do Agrupamento de Aljustrel. “É um projeto que pensamos, mais dia, menos dia, implementar, mas os miúdos também terão de estar preparados para utilizar essencialmente o digital. O caminho é mesmo esse”, diz.
REGRAS DE ISOLAMENTO MAIS FLEXÍVEIS
As novas orientações mantêm a grande maioria das regras de segurança sanitária, incluindo a utilização obrigatória de máscara a partir dos 10 anos e "fortemente recomendada" para os mais novos, a partir do 1.º ciclo. A principal novidade é que turmas inteiras já não vão ser obrigadas a ficar em casa durante duas semanas sempre que seja detetado um caso positivo, uma vez que "os contactos de baixo risco e/ou os contactos de contactos cujos testes sejam negativos devem interromper o isolamento profilático, retomando a respetiva atividade letiva”.