Diário do Alentejo

25 de Abril: Grândola faz 50 anos

07 de julho 2021 - 17:00

Em 1971, José Afonso grava num estúdio em Paris, a canção “Grândola, Vila Morena”. Nessa altura, estava longe de imaginar que a canção iria, três anos mais tarde, servir de senha para o arranque das operações militares que acabariam com 48 anos de ditadura em Portugal. O ano de 2021 marca o 50.º aniversário dessa gravação, inspirada no Cante Alentejano. Mas o que levou José Afonso a compor essa canção que transporta os valores que ele tanto defendia: liberdade, igualdade, fraternidade, tendo-se tornado, igualmente, um hino internacional e um símbolo de união entre os povos? No livro “Grândola Vila Morena- A Canção da Liberdade” (Edições Colibri, 2014), Mercedes Guerreiro e Jean Lemaître juntaram as pontas soltas dessa história - investigando, entrevistando intervenientes e verificando factos. A pedido do “DA”, selecionaram excertos desse trabalho que documenta a passagem de Zeca Afonso pela “Vila Morena” e a gravação do disco.

 

No mês de abril de 1964, Zeca está em Faro com a Zélia, quando é contactado por um velho amigo do tempo das vacas magras em Coimbra, Hélder Costa, homem de teatro. Este último, conhecido pelos seus ideais antifascistas, é oriundo do município de Grândola, a uns 50 quilómetros de Aljustrel, neste Alentejo com mentalidades coletivas e tão contestatórias.

 

Hélder Costa é portador de um convite endereçado a José Afonso, emitido por um círculo cultural de Grândola, de nome complicado, Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, SMFOG em abreviado. Zeca é convidado para um concerto, no dia 17 de maio, por ocasião do 52.º aniversário da fundação da Sociedade, no qual participará também o guitarrista Carlos Paredes, que se fará acompanhar por Fernando Alvim.

 

José Afonso sente-se honrado por ter recebido este convite, por duas razões. A primeira é por saber que dentro da SMFOG se esconde um ninho de progressistas, a maioria operários, entre os quais muitos comunistas clandestinos, que escolheram a cultura como arma política. A segunda, porque nunca antes se tinha encontrado com o Carlos Paredes, pelo qual nutre uma grande estima, devido ao seu talento como músico, que transformou a guitarra portuguesa em instrumento clássico, a mil léguas do eterno fado, mas também por este homem ser um militante corajoso e oprimido pelo regime.

 

Através de uma troca de correio, Zeca, que respondeu afirmativamente à solicitação, pede à Sociedade Musical para que seja contactado o pai de Rui Pato, o seu acompanhante. Rui tem 18 anos, é ainda menor de idade, e necessita de uma autorização paterna para viajar de Coimbra a Grândola, o que ele obtém sem problema.

 

Domingo, 17 de maio de 1964, Zeca e Zélia apanham o comboio para Grândola, num percurso lento, que atravessa a planície alentejana, com os seus imensos campos coloridos de papoilas de um vermelho intenso. Grândola, a meio caminho entre Faro e Lisboa, goza de uma situação excecional, não muito longe do litoral, ao pé da serra. A vila vive do comércio, mas a maioria dos seus habitantes são operários agrícolas, trabalhando à jorna, ou da indústria da cortiça, a principal riqueza local.

 

Nesta vila, como em todos os seus concertos, Zeca cantará gratuitamente. O seu ‘cachet’ traduz-se na oferta da refeição e no pagamento das despesas de deslocação. Contudo, ele não está seguro. À semelhança de outros espetáculos, o concerto pode ser proibido no último minuto ou ser interrompido pela polícia. Cantar representa sempre um perigo…

 

A estação já está à vista. Três minutos de paragem. À descida, Zeca é recebido por José da Conceição, um dos pilares da Sociedade.

 

Entre os dois homens cria-se de imediato uma empatia. Antes do concerto, os dois dispõem de algum tempo. José da Conceição está feliz por mostrar a vila ao cantor, a SMFOG, os diferentes locais, os seus camaradas. José Afonso está encantado e bebe as palavras do seu anfitrião. Ele regista tudo na sua memória. Como foi criada a Sociedade, a 1 de maio – data simbólica – de 1912. A forma como os estatutos da associação foram redigidos por um operário da cortiça. A maneira como a Sociedade pôde, nos anos 50, diversificar os seus projetos: ensino da música, teatro, debates… José da Conceição conta ainda que a associação tira os seus proventos das contribuições financeiras vindas da população. Uma confidência poderá ter emocionado particularmente José Afonso: a história de um médico democrata que entregava regularmente os honorários de um dia de consultas para apoiar a Sociedade Musical.

Ao visitar a sede da SMFOG, que todos apelidam de Música Velha, nome da banda filarmónica da Sociedade, José Afonso fica encantado com a biblioteca. É-lhe explicado que as obras mais sediciosas, como os romances do brasileiro Jorge Amado, estão escondidas sob o palco de madeira, protegidas das rusgas da polícia.

 

Quando o concerto começa, a sala está a abarrotar. Cerca de 200 pessoas vieram assistir ao espetáculo.

 

Carlos Paredes toca na primeira parte. José Afonso, acompanhado por Rui Pato, encerra o espetáculo. Todo o seu repertório é cantado, até mesmo o célebre “Os Vampiros”, com cheiro a pólvora. O público está tão compacto que, desta vez, a PIDE não ousa intervir. Mas vingar-se-á dias mais tarde, ao confiscar a gravação do concerto durante uma rusga realizada no domicílio de um militante local.

 

A 21 de maio, quatro dias depois do concerto, surge uma surpresa: José da Conceição recebe uma carta, escrita com tinta verde, de José Afonso, exprimindo toda a sua gratidão aos sócios de “Música Velha”. Como agradecimento, ele oferece um poema de três estrofes, que será lido, a 31 de maio, ao público reunido na associação: “Grândola, Vila Morena/Terra da Fraternidade”, onde o povo é quem mais ordena e há em cada rosto igualdade.

 

Sete anos mais tarde, o poema tornar-se-á canção. Mais três anos e a canção dará início à Revolução.

 

Um pequeno milagre produziu-se entretanto. A censura, extremamente severa em Portugal, não percebeu o verdadeiro sentido de “Grândola, Vila Morena”, e pensou que se tratava de um piscar de olhos a uma pequena localidade bem simpática, uma canção de província, sem qualquer importância. A polícia política enganou-se, felizmente, em toda a linha.

 

Zeca, o malicioso, sob o título “Grândola, Vila Morena”, não quis honrar uma vila por certo amigável. O que ele visava era a “Música Velha”, o coletivo de resistentes, de origens operárias e camponesas, sem verdadeiros chefes, à qual todos se dedicavam num clima de total igualdade. De facto, “Grândola, Vila Morena” resumia o ideal socialista e libertário de José Afonso, uma dupla heresia no país de Salazar.

 

A GRAVAÇÃO DA CANÇÃO EM PARIS

 

Desta vez, é o adeus definitivo ao ensino. Mas, como em todos os reversos da medalha, existe sempre um lado positivo. Amigos, verdadeiros, não abandonam o Zeca. Dão-lhe força e encorajam-no a retomar a canção e a criação de forma mais profissional. No Porto, Arnaldo Trindade, o patrão da editora Orfeu, dá-lhe um apoio decisivo. E prontifica-se para lhe financiar os seus próximos discos, assinando com ele um contrato de “agente de promoção artística”. Financeiramente, está ainda longe de ficar “rico como Creso”. Mas alguém acreditar assim nele dá nova motivação ao poeta.

 

Vejamos as coisas pelo lado positivo. Desde o seu emprego em Mangualde, José Afonso não cessou de saltitar, durante 13 anos, de um lugar para outro, em todo o País, com um tremendo desvio pelas colónias. Isto permitiu-lhe afastar-se do fado da sua juventude e descobrir muitas canções de cariz popular, de extraordinária riqueza e diversidade, tanto em Portugal como em Moçambique, que ele transformou em grandes músicas, imbuídas de uma poesia delicada, repousando sobre textos que misturam à maneira de um Brassens, em França, as expressões provenientes de uma linguagem mais clássica e requintada.

 

De cada terra que atravessou, Zeca retirou algo de belo, sensível, diferente: a recordação de uma velha lenda, a alegria de uma festa agrícola, um ambiente surrealista…

 

Expulso do ensino, é obrigado a exceder-se e a passar para uma fase mais qualitativa. Os seus primeiros discos, em duo com o Rui Pato, tinham sido produzidos em condições tão artesanais quanto pitorescas. As canções eram gravadas geralmente logo à primeira, num estúdio instalado num mosteiro em ruínas, com galinhas bicando, lá para os lados de Coimbra.

 

Orfeu é como uma bênção, dispõe-se a pagar o aluguer de estúdios de última tecnologia, que só existem no estrangeiro. Em 1970, Zeca prepara-se para gravar um novo disco em Londres, “Traz outro amigo também”. Para os arranjos, ele pensa logo em Rui Pato, o seu cúmplice das primeiras horas, o virtuoso da viola. Mas há um problema! Este último está a estudar Medicina em Coimbra, cidade que, como Lisboa, foi sacudida, em 1968-1969, por grandiosas revoltas estudantis. O regime prendeu os principais dirigentes, entre os quais figura Rui Pato. O jovem camarada de Zeca, por castigo, é banido da universidade e enviado para um batalhão militar punitivo. Muitos jovens líderes intelectuais da época sofrem o mesmo destino, nomeadamente Carlos Albino, o jornalista do “República” e do programa “Limite”.

 

Depois do recrutamento forçado para a tropa, Rui Pato é proibido de sair de Portugal. Para a gravação em Londres, ele sugerirá a José Afonso contratar Carlos Correia, dito “Bóris”, um guitarrista muito talentoso de um grupo de rock.…

Salazar morre em 1970. Fora substituído à frente do governo por Marcelo Caetano. Uma suavização do regime é prometida, mas trata-se apenas de um verniz. A ditadura fascista permanece inabalável e continua a esmagar todos os rasgos de liberdade de expressão.

 

A história de Francisco Fanhais é, a esse respeito, exemplar. Faz lembrar a do Zeca, com o qual trava amizade no final dos anos 60. Fanhais, nascido em 1941, torna-se padre. Mas, em nome da sua fé cristã não aceita que a hierarquia eclesiástica seja o mais forte apoio moral da ditadura. Suspenso das suas funções de padre e impedido de continuar como professor resta-lhe a canção e a sua viola. No País, beneficia já de uma certa popularidade e até consegue passar na televisão. Mas a sua personalidade rebelde traz-lhe novos problemas. Fica proibido de atuar em espetáculos. A PIDE anda atrás dele, tenta prendê-lo. Padre, professor, artista: tudo lhe é interdito. Não tem outra solução senão sair de Portugal e tentar a emigração, em França, lá onde tantos refugiados políticos portugueses encontram abrigo.

 

A sorte aparece em abril de 1971. José Afonso tem de ir a Paris. Numa outra ocasião, quando se estava a preparar para viajar para França, Zeca foi bloqueado no aeroporto de Lisboa. Todo o dia, é interrogado pela polícia sobre as suas supostas ligações ao grupo de extrema-esquerda, LUAR. No final, o cantor é libertado, mas impedido de apanhar o avião.

 

Nesta viagem em abril, ele utilizará a sua viatura pessoal, conduzida pela Zélia. O casal propõe a Fanhais que os acompanhe. Este fica radiante e aceita, pois está sem dinheiro. O trio passa primeiro por Valência, em Espanha. José Afonso, cuja fama está a crescer internacionalmente, vai participar num concerto ao lado de Paco Ibañez, cantor antifranquista conhecido pelas adaptações dos poemas de Rafael Alberti. De Valência, os três amigos partem para Lyon, onde Francisco Fanhais fica em casa de compatriotas dispostos a alojá-lo.

 

Zeca e Zélia seguem viagem para Paris. Têm encontro com José Mário Branco. Estimulado pelo seu produtor, que lhe exige um disco por ano, Zeca magicou um novo 33 rotações cujo título será “Cantigas do Maio”. O objetivo é gravar este vinil em Paris e confiar a direção artística a Branco. Os dois homens já se tinham conhecido em 1969 na capital francesa. Confraternizaram instantaneamente.

 

Se bem que mais novo do que Zeca, Mário Branco possui um fabuloso currículo político e musical. Estudante refratário ao regime foi preso aos 19 anos, em Coimbra. Sete meses de cárcere, sob horríveis condições: isolamento numa cela minúscula e a tortura do sono. Posto em liberdade, recusa-se a prestar o serviço militar na guerra colonial. Em 1963, deserta e dá o salto para França. Em Coimbra, já se tinha lançado na música. Mas é em Paris, e principalmente na cintura operária, que vinga como músico de intervenção, quando se dirige a auditórios repletos de emigrantes. No seio da diáspora portuguesa, é mais conhecido que o Papa.

 

Além dos seus talentos artísticos, Mário Branco é um excelente organizador, que não deixa nenhum pormenor ao acaso. Ele possui uma grande agenda de contactos e sabe descobrir os melhores músicos para cada instrumento. Enfim, é o homem que José Afonso precisa. Zeca aceita confiar-lhe a finalização de “Cantigas do Maio”, mas com uma condição: que não seja utilizada, no álbum, nenhuma guitarra elétrica ou bateria ruidosa. Refinar a música, muito bem, contudo, ela tem de manter-se simples, límpida, autêntica, respeitadora das suas composições.

 

À sua maneira, Zeca é um purista, que não cede a nenhuma moda ou facilidade. A sua voz, de uma grande amplitude, possui um timbre sem par, capaz de ir muito longe nos sons agudos. Ela faz vibrar, transporta os sentimentos, provoca as emoções e eleva tudo ao mais alto nível.

 

José Afonso é igualmente um melodista fora do comum, criativo e inspirado, capaz de encontrar as melodias e harmonias num instante. No entanto, este músico de talento nunca soube ler ou escrever música. Então, como é que ele fazia? Ele tateava na viola e procurava os acordes. Para se lembrar, desenhava num caderno as cordas da viola e a forma de colocar os dedos.

 

Em Paris, Mário Branco preparou – com o produtor de Orfeu a assegurar evidentemente a retaguarda – uma magnífica prenda para o seu companheiro. Com vista à gravação de “Cantigas do Maio”, reservou para o outono de 1971, durante umas duas semanas, o melhor estúdio da Europa, o Strawberry Studio. Esta maravilha situa-se num castelo do século XVIII, em Hérouville, a trinta quilómetros de Paris, no Departamento do Val d’Oise. O local goza de equipamentos topo de gama. 24 horas sobre 24, uma equipa de técnicos desdobra-se ao serviço dos músicos. As maiores vedetas mundiais passaram por lá: Elton John, Pink Floyd, Cat Stevens…

 

Na origem desse pequeno paraíso, um doido por música: o compositor Michel Magne, amigo de Mouloudji e de Boris Vian, que se endividou até ao último tostão para adquirir e restaurar esta antiga estalagem. Doze quartos, um parque muito bonito para se relaxar: em Hérouville, os artistas são tratados como príncipes.

 

De regresso a Setúbal, Zeca esforça-se duplamente para terminar a tempo letras e músicas. Ele confirma a equipa de base convocada a Hérouville: Carlos Correia, que já tinha estado em Londres, infelizmente Rui Pato continua proibido de viajar para fora do país; Francisco Fanhais, o fiel amigo, agora a viver em Paris e, evidentemente, Mário Branco, o elemento-chave.

 

A 11 de outubro de 1971, os quatro amigos juntam-se em Hérouville para gravar o disco, um pouco acanhados por saborear esta vida de castelo, à qual não estão acostumados. Bons repastos, piscina, ‘courts’ de ténis, finalmente provam tudo sem vergonha. Só o estúdio constitui um encantamento: um grande sótão de 100 metros quadrados, com pé-direito alto, vigas expostas e candeeiro de época.

PÉROLA NUMA CAIXA DE TESOUROS

 

Na caixa de tesouros, que preparou em Portugal, José Afonso previu uma pérola, a canção, a quinta no disco, “Grândola, Vila Morena”. O cantor não se esqueceu do deslumbramento de há sete anos, quando conheceu os camaradas da “Música Velha”, esses homens castiços, todos solidários, todos iguais, enriquecidos pelas suas utopias. E tinha, felizmente, o poema enviado na altura para a Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense. Como transformá-lo em canção?

 

Ao reler o seu texto antigo, acha que a última das três estrofes, que fala de “Capital da cortesia / Não se teme de oferecer / Quem for a Grândola um dia / Muita coisa há de trazer”, tem falta de folgo e de musicalidade. Esta é substituída por uma nova quadra que já tinha sido publicada, nos livros “Cantares” e “Cantares de Novo José Afonso”: “À sombra de uma azinheira, que já não sabia a idade / Jurei ter por companheira / Grândola a tua vontade”. É muito mais forte, mais concreta.

 

Sobre a letra, Zeca criou o início de uma melodia, à moda do Alentejo, lenta e cadenciada, sem outros instrumentos que a conjugação das vozes.

 

Em Hérouville, Mário Branco aconselha José Afonso a alongar o texto, duplicando o número de estrofes. A segunda repete ao contrário da primeira. E assim seguidamente, para a quarta e sexta quadras. É o processo utilizado pelos grupos corais alentejanos, que permite recordar com mais facilidade as palavras e entrar no grupo. Zeca canta sozinho as quadras ímpares. A seguir, o coro – Afonso, Fanhais, Branco e Bóris – retoma com força, a união dando potência às vozes.

 

O diretor artístico tem mais uma ideia: iniciar a canção com o ruído de passos raspando o chão em sintonia. Adolescente, José Mário Branco passava as férias numa pequena aldeia do Baixo Alentejo, Peroguarda. Ficou cativado com os camponeses, quando regressavam à noite dos campos, exaustos e desgastados, avançando em rancho, abraçados, marcando o movimento com os pés e cantando ao ritmo dos passos. É isto que ele quer reproduzir agora. Os três outros “mosqueteiros” aprovam com entusiasmo.

 

Um chão de gravilha, descoberto no exterior do castelo, perto das cavalariças, serve. Falta gravar o som dos passos. Durante o dia, não é possível, uma estrada nacional, muito frequentada, ladeia as paredes do parque. Pouco importa, o exercício será efetuado na quietude da noite.

 

Numa manhã fria, às três horas em ponto, quatro “extravagantes”, de cabelo comprido, saem misteriosamente do castelo, posicionam-se em cima da gravilha, uns ao lado dos outros, de braços dados, avançam baloiçando-se e fazendo guinchar os seixos debaixo do peso dos pés. Ao seu lado, segue, curvado, um homem esquisito, cheio de cabos, extensões, microfones por todo o lado. Este quinto homem é Gilles Salle, engenheiro de som mundialmente conhecido.

 

Fanhais, Bóris, Branco e Zeca podiam imaginar, nesse momento mágico, que o eco dos seus pés levaria, três anos mais tarde, à queda da ditadura? Em todo o caso, e segundo a memória das vacas que pastavam tranquilamente no prado vizinho do castelo, nunca ninguém tinha assistido a um espetáculo tão louco e poético.

 

TODA A HISTÓRIA

 

Editado pela Colibri, este livro, ideia original de Gilles Martin da editora ADEN e da autoria de Mercedes Guerreiros e Jean Lemaître, escrito com saber e paixão e que tem contributos de muitos dos intervenientes no desencadear da conspiração que levou ao 25 de Abril, tem o mérito de nos revelar os “bastidores” dos dias que antecederam a madrugada dos Cravos. Quem decidiu que “Grândola” seria o sinal para os militares marcharem sobre Lisboa e quem na Rádio Renascença estava incumbido de, com muita perícia e coragem, contornar a censura interna naquele momento. Hoje, “Grândola, Vila Morena”, continua a ouvir‐se em todo o País. A canção mantém uma força telúrica que irmana homens e mulheres num abraço solidário de esperança, de revolta e de anseio de igualdade e de justiça para a humanidade. A mensagem e os ideais de Zeca Afonso ultrapassam fronteiras e muitos outros Povos, fazem desta canção a sua bandeira de luta por um mundo melhor.

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