Diário do Alentejo

Investigação: processo tecnológico para produção de túberas

25 de março 2021 - 17:15

Texto José Serrano

 

Investigadores da Universidade de Évora (UÉ) desenvolveram um processo tecnológico visando a produção de túberas, lançando as bases para uma nova forma de produção de alimentos e a exploração sustentável deste recurso micológico. O “Diário do Alentejo” falou com Celeste Santos e Silva, professora do Departamento de Biologia da UÉ e investigadora no MED.

 

Como descreveria, sucintamente, esta investigação?

Produção de plantas (estevas e sargaços) micorrizadas (com o fungo ligado às raízes) com terfezia (fungo produtor de túberas em solos arenosos). As túberas são a frutificação (cogumelos) de fungos micorrízicos que se associam tradicionalmente a raízes de plantas anuais. O desafio deste projeto foi conseguir a associação micorrízica deste fungo com plantas perenes (que vivem mais de um ano). Para tal, foi necessário, inicialmente, fazer crescer o fungo em meio artificial, e essa etapa foi difícil e morosa.

 

Que aplicações poderá vir a ter este processo tecnológico?

A instalação das plantas inoculadas no terreno, permitirá: A produção de alimento (túberas) de uma forma controlada – atualmente as túberas são colhidas nas áreas em que ocorrem espontaneamente; Recuperar solos degradados e/ou ardidos – o papel ecológico do fungo de estabelecer uma rede entre as raízes das plantas, aumentar o arejamento do solo, aumentar o teor de matéria orgânica do solo, permitindo a sua fixação e diminuindo os riscos de erosão; Abrir perspetivas para a “domesticação” de fungos produtores de cogumelos que só podem ser produzidos em ambiente rural ou florestal – associados a plantas, no solo.

 

Quais os setores que a produção de túberas, através desta tecnologia, poderá vir a beneficiar?

Setor agrícola e setor florestal, invertendo a atual tendência para a desertificação e permitindo o aproveitamento de terrenos pobres e incultos, ocupados por matos, ou para aumentar a mais-valia de áreas florestais multiusos. A certificação do produto (túberas) poderá incrementar o setor da restauração, da transformação de alimentos (conservas, produtos ricos em proteínas de origem não-animal) e mesmo, no futuro, da saúde e cosmética pois têm propriedades medicinais – anti-inflamatórios, antioxidantes, imunoestimulantes – e são ricas em vitaminas e sais minerais.

 

Poderá este novo processo tecnológico vir a contribuir no futuro para a produção de outros recursos autóctones da região?

Sim, existem outras túberas, que pertencem a um género taxonómico diferente (Choiromyces) e só habitam outro tipo de solos (argilosos), que são igualmente interessantes em termos alimentares e ecológicos (mais na região Sul). Com a experiência adquirida, pretendemos trabalhar esta espécie de fungo e conseguir inocular plantas hospedeiras com a intenção de produzir túberas. Para tal, necessitamos de financiamento, pois é um processo que necessita de experimentação e requer pessoal especializado para o desenvolver.

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