“A população fala muito em isolamento, mas muitos idosos que vivem sozinhos e isolados, por exemplo em montes, estão lá uma vida inteira, por isso estão habituados. Essa realidade prova que não podemos falar do isolamento como fator desencadeante para o que quer que seja”, explica Ana Matos Pires, diretora do serviço de psiquiatria da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba). “A questão do isolamento na saúde mental não é algo linear. Se estivermos a falar de isolamento no sentido de falta de apoio, obviamente que é pernicioso para a terceira idade, mas também, para qualquer faixa etária”.
Segundo Ana Matos Pires, “não podemos, de maneira nenhuma, pensar que o isolamento geográfico é um fator de mau prognóstico. Os censos seniores [realizados pela GNR] são muito importantes porque permitem identificar todas as pessoas que estão em isolamento geográfico e permitem saber quem precisa de ajuda. O papel da GNR é muito importante para identificar as pessoas, mas não podemos dizer que o isolamento em si, desta maneira, seja um fator preditivo de má saúde mental”.
Neste momento, está em fase de publicação um estudo realizado pela Universidade Nova e pelo Observatório dos Comportamentos Suicidários do Serviço de Psiquiatria da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, que analisou três grupos de pessoas com mais de 65 anos. “O estudo vem mostrar que a incidência do risco de depressão e fatores de risco de suicido não são prevalentes no grupo das pessoas dos Censos Sénior”, refere a diretor do serviço de psiquiatria da Ulsba.
Maria Cistina Faria, coordenadora do Observatório das Dinâmicas do Envelhecimento, do Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) salienta que estes registos anuais “são relevantes para uma ação concertada e continuada dos decisores políticos, autoridades de saúde, educacionais e comunidade, no sentido de desenvolverem sinergias em conjunto que permitam mitigar os problemas da população envelhecida de cada região, que vive em casa na comunidade, nomeadamente, ao nível da saúde, social, educacional, segurança, ambiente físico, inclusão e mobilidade das pessoas mais velhas”.
“Os dados falam por si, e a GNR mostra estar a realizar um trabalho meritório. A comunidade também tem estado atenta a esta realidade e tem investido em projetos e estruturas de apoio aos idosos que permitam ultrapassar as necessidades encontradas nesta população e promover a capacitação das pessoas mais velhas que vivem em casa”, acrescenta.
Para o próximo ano, diz Maria Cistina Faria, “está previsto um conjunto de ações de sensibilização, junto das pessoas idosas, no sentido da adoção de comportamentos de segurança que permitam reduzir o risco de se tornarem vítimas de crimes (situações de violência, de burla ou furto), de prevenir comportamentos de risco associados ao consumo de álcool e adoção de medidas preventivas de propagação da pandemia de covid-19”.
Por último, Maria Cristina Faria defende que “em segurança e pela sua saúde psicológica, física, social e ambiental, temos de nos aproximar das pessoas mais velhas e com elas encontrar estratégias que viabilizem uma vida de bem-estar, gratificante e autónoma na comunidade, mesmo em condições adversas. É importante dar oportunidade às equipas multidisciplinares especializadas em gerontologia e criar condições ao seu trabalho de proximidade com as pessoas mais velhas da comunidade, de modo a podermos observar e garantir uma sociedade longeva com qualidade de vida nos próximos anos”.