Diário do Alentejo

Baixo Alentejo é a região com menor esperança de vida

08 de outubro 2020 - 12:10

O Baixo Alentejo (que para efeitos estatísticos corresponde ao distrito de Beja sem o concelho de Odemira) é a região de Portugal Continental com menor esperança média de vida à nascença.

 

Texto Marta Louro

 

De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), entre 2017 e 2019 a “longevidade geral” da população do Baixo Alentejo foi de 78,67 anos, sendo que a esperança média de vida à nascença no conjunto do território nacional foi estimada em 80,93 anos. Na região Norte, onde o valor é mais elevado, vive-se em média 81,33 anos, mais três do que no Baixo Alentejo onde, aos 65 anos, é calculada uma esperança de vida de 18,45 anos. Pior, só a Madeira e os Açores.

 

“A esperança de vida à nascença surge como um indicador com significado na análise da mortalidade das populações porque expressa com rigor as condições de saúde em cada momento do tempo e reflete a sua qualidade de vida”, explica ao “Diário do Alentejo” Maria Cristina Faria, coordenadora do Observatório das Dinâmicas do Envelhecimento no Alentejo. As principais causas de morte encontram-se, segundo o INE, relacionadas com a falência do sistema circulatório, doenças do foro oncológico e doenças respiratórias. Também os tumores malignos são bastante frequentes, maioritariamente nos homens. Em contrapartida, as doenças do sistema circulatório são mais frequentemente nas mulheres.

 

Maria Cristina Faria salienta que “para os valores da esperança de vida à nascença e aos 65 anos” serem menores no Baixo Alentejo existem “por certo razões para essas evidências que convém aprofundar melhor e identificar as causas para se poder agir em conformidade”.

 

“Todavia”, prossegue, “através dos dados é possível inferir que houve uma melhoria em relação ao período entre 2008 e 2010”. Essa melhoria – traduzida no aumento de cerca de um ano na esperança de vida – tem “a ver com o trabalho que tem sido desenvolvido e com as sinergias que têm sido estabelecidas a nível local e global, em forma de projetos empreendedores que têm como preocupação a melhoria das condições de vida e do bem-estar das pessoas que vivem no Baixo Alentejo”.

 

“Parece que não chega o muito que se tem feito. É preciso estar mais atento às pessoas que nascem e estão a envelhecer no Baixo Alentejo. Continuar a investir na proteção da saúde de todos, na prevenção dos riscos, nos cuidados de saúde primários e na promoção da saúde e estilos de vida saudáveis da população devem ser prioridades”, defende Maria Cristina Faria.

 

Ainda segundo a coordenadora do Observatório das Dinâmicas do Envelhecimento no Alentejo, é necessário “revitalizar e criar mais serviços de suporte social, de saúde, de empreendedorismo e de sustentabilidade”. Esses objetivos devem “ir ao encontro das necessidades dos cidadãos das várias idades permitindo-lhes condições para realizarem o seu projeto de vida com esperança e confiança em ambientes positivos de saúde, segurança e bem-estar”.

 

Professora adjunta do departamento de Educação, Ciências Sociais e do Comportamento do Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), Sandra Lopes acrescenta ser igualmente necessário “analisar a morbidade (causas de morte) da população em geral, e por grupos etários específicos, em concreto, entre os idosos a par da análise de indicadores mais precisos sobre a qualidade de vida. Nem sempre a extensão de anos de vida é acompanhada de qualidade e bem-estar, sobretudo na população idosa”.

 

Também a demógrafa Maria Filomena Mendes entende que é necessária “mais informação para entender o que está a acontecer, sobretudo em termos de causas de mortes e nas diferentes idades”. Para entender esses valores é fulcral “perceber o efeito das diferentes causas de morte e a implicação que têm para que o Baixo Alentejo acabe por ter uma esperança de vida à nascença e uma esperança de vida aos 65 anos mais baixa que as restantes regiões de Portugal Continental”.

 

Estas situações podem ser explicadas através de dois fatores. Por um lado, “podem existir determinadas causas de morte que refletem o aumento do número de óbitos. Por outro, “poderá haver uma distribuição dos óbitos em função da idade, ou seja, o aumento da mortalidade em idades mais jovens pode baixar o número de anos que se espera viver no Baixo Alentejo”.

 

Neste momento estamos perante “valores de esperança de vida elevados, onde qualquer variação na estrutura de mortalidade - diferença de óbitos entre homens e mulheres e nas diferentes idades- pode ter um efeito mais significativo no resultado final, porque já estamos num patamar muito elevado de esperança de vida”, salienta Maria Filomena Mendes.

 

De realçar que em todas as regiões do País, as mulheres vivem mais que os homens. Em causa estão as “atitudes relativamente à gestão da própria saúde”. As mulheres “têm mais disponibilidade para ir ao médico, realizar exames complementares e de diagnóstico e investem mais nos cuidados de saúde”. Já os homens, “têm mais comportamentos de risco e a taxa de mortalidade em idade jovem é mais elevada”.

 

PRINCIPAIS CAUSAS DE MORTE

As principais causas de morte em Portugal, no geral, estão relacionadas com doenças do aparelho circulatório, maioritariamente relacionadas com o enfarte do miocárdio. No topo da lista estão também os acidentes vasculares cerebrais (AVC) que “não só incapacitam como muitas vezes são as causas de morte, principalmente das mulheres mais idosas”. Quem o diz é Maria Filomena Mendes, demógrafa e autora do ensaio “Como Nascem e Morrem os Portugueses”, publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Maria Filomena Mendes explica que apesar de essas “serem as principais causas de morte em Portugal, podem existir outras que sejam mais acentuadas no Baixo Alentejo”, mas nada a leva a crer que a “região seja diferente do resto do país”. Ainda assim, no Baixo Alentejo, e apesar dos números serem inferiores ao resto do país, desde 2008/ 2010 que a esperança de vida tem “vindo a aumentar. Não se verificando, por isso retrocessos”, conclui.

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