Trata-se, pois, de “um produtor de referência no Alentejo” e que, com a entrada dos filhos, ganhou “a capacidade e o espírito de inovar, de ir à procura de novas soluções”. O mais velho “deu uma enorme ajuda no crescimento, sobretudo em termos comerciais”, e a chegada de António “significou outro grande salto em termos de análise do campo, definição de prioridades, métodos de trabalho” e uso de “novas tecnologias”, elogia.
Para António, o estudo em Inglaterra deu-lhe “mundo” e “abertura e capacidade de pensar um bocadinho diferente”, sem “ficar fechado no Alentejo e em Portugal”. O mais velho alude a outra lição: “Aprendi muito em Bordéus, ao nível de respeito pelo ‘terroir’ e pelas tradições”, mas também que, “em Portugal, temos muito valor”. E, no Alentejo, “fustigado” pelas secas e ameaçado pelas alterações climáticas, a Casa Relvas há anos que “dá cartas” com medidas ambientais e tem na sustentabilidade um dos “pilares”, diz a família.
“Nos últimos anos, temos tido menos água” do que o “necessário para manter as vinhas e ter boas produções”, conta o fundador. A solução foi inovadora: “Utilizamos a água dos esgotos de São Miguel de Machede, depois de devidamente tratada, para integrar” a barragem da herdade, usando-a para a “rega das vinhas”. Redução de consumos de água e de energia na adega e instalações e áreas de vinha biológicas e em modo de produção integrada são outras medidas. O produtor, membro do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), é “ótimo exemplo” das boas práticas adotadas na região, diz João Barroso, gestor desta iniciativa pioneira em Portugal promovida pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA).
“Serviu quase como um campeão do projeto para mostrar e provar que se conseguia fazer melhor com menos”, frisa, indicando que o produtor possui caixas no campo que servem de “casa” a morcegos que comem insetos prejudiciais à vinha ou usa ovelhas que, “durante o repouso vegetativo da vinha”, comem as plantas infestantes, sem necessidade de herbicidas. “É tudo natural”, porque as ovelhas “comem as ervinhas, não tocam na vinha” e ainda “fazem alguma movimentação e fertilização do solo”, elogia o gestor do PSVA.
Atenta às melhorias que podem levar ao crescimento sustentado da empresa, a família Relvas tem recorrido, ao longo dos anos, igualmente a apoios da União Europeia. “Têm sido uma mais-valia enorme e têm-nos ajudado” na remodelação da adega e na vinha, através do VITIS, um programa “muito importante para a reestruturação” do setor no Alentejo.
É mesmo “um sucesso tão grande que o dinheiro acaba muito depressa”, critica Alexandre Jr., defensor do reforço de verbas do VITIS, para que abranja também “o investimento tecnológico”. Mas, na Casa Relvas, “não se fazem investimentos porque há subsídio e também não se deixa de fazê-los porque não há”, sublinha. Investe-se com conta, peso e medida, sem pressas, para continuar a erguer e tal pirâmide de bases sólidas, referida por António, e que tem construtores em “fila de espera”.
Alexandre Relvas conta que o seu filho mais novo (tem também duas raparigas), ainda adolescente, diz que quer “ir trabalhar com o mano António no campo”. E o filho mais velho deste, apesar de “pequenino”, acompanha-o e mexe na terra: “Já plantou uma oliveira”.