O município de Alvito pretende destacar e valorizar a figura do poeta Sebastião Penedo, reconhecendo a sua relevância cultural e literária, num ano em que se comemora o 80.º aniversário do seu nascimento. O legado e a obra deste poeta, Sebastião Penedo, constituem um contributo ao enriquecimento da poesia portuguesa e do património cultural português. Natural da vila de Alvito, Sebastião da Piedade Trindade Penedo nasceu a 22 de novembro de 1945. Filho de Maria Joana Trindade, dona de casa, e de Francisco Diogo Penedo, taberneiro, cresceu com três irmãos: Eduardo, Francisco e Rogério. Viveu na rua da Cruz até se mudar para Lisboa, onde exerceu funções como funcionário público, primeiro na Federação das Caixas de Previdência e, mais tarde, no Centro de Saúde da Alameda. Nunca constituiu família nem deixou descendência.Frequentou os seminários até à idade de cumprir o serviço militar, além de uma breve passagem pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, interrompida pela sua mobilização para a Guerra do Ultramar, num período que o marcou, de modo indelével, e o acompanhou pela vida fora. Desde cedo encontrou refúgio na poesia. Escreveu e declamou versos e, em 1969, publicou o seu primeiro livro, Livro de Versos. Seguiram-se Claridade (1973), Meu Silêncio Amigo (1977) e Sumo Natural (1979). Nesse mesmo ano recebeu um prémio da Academia Internacional de Letras, no Rio de Janeiro, com as obras Lâmpada e Ponte Verde da Infância.Colaborou literariamente com o “Diário de Notícias” e com a revista “Colóquio/Letras”, além de ter contado com elogios de personalidades como João Maia, João Gaspar Simões, Eugénio Lisboa, Urbano Tavares Rodrigues, Maria Aliete Galhoz, Luís de Miranda Rocha e Helena Carvalhão Buescu. Esteve inscrito na Sociedade Portuguesa de Autores. Apesar de não ter sido acolhido pelas grandes editoras, algumas chegaram a reconhecer a qualidade da sua obra. Nas últimas décadas, foi, sobretudo, a Câmara Municipal de Alvito que assegurou a edição das suas obras, preservando e divulgando a sua voz poética.Em 1988 foi publicada a coletânea Poesia, reunindo textos de livros anteriores e acrescentando três inéditos: “Ponte Verde da Infância”, “Lâmpada” e “Sobrememória”. Muitos dos seus poemas figuram ainda na antologia Poetas Alentejanos do Séc. XX – Antagogias (1984), de Francisco Dias da Costa.A sua poesia distingue-se por escapar aos modismos e convenções dos círculos literários dominantes. A clareza da linguagem, a simplicidade trabalhada e a evocação da memória – sobretudo da infância no Alentejo – marcam o seu estilo. Luís de Miranda Rocha sublinhou que, mesmo partindo de uma matriz tradicional, a sua lírica evolui para um vigor expressivo sem perder a direção inicial. Entre os vários críticos literários, a sua poesia demarca-se pela simplicidade e nitidez de versos como este:
Alvito tem dois mirantesE Abril é um jardim.Dois miradoiros são meus olhosQuando olham para ti.
Num abrir de eternidadeO amor se fixa à gente,Pálpebra de felicidadeA fechar-se de repente.
É uma imagem o amor.História duma história,Seja ele de quem fôrEsse espelho da memória.
A vila tem muitas mãosQue teus olhos entrelaçamUmas preparam o pãoEnquanto outras abraça.
In “Alvito do Alentejo”
Num dos seus poemas mais emblemáticos, “Lisboa alentejana”, uniu a planície à cidade, num canto simultaneamente rural e urbano, reforçando a universalidade da sua voz poética.Sebastião Penedo foi encontrado, sem vida, no rio Tejo, a 17 de setembro de 2000. Tudo indica que se suicidou. No bolso do seu casaco trazia um pequeno volume de Mário de Sá-Carneiro, aberto no poema “Fim”, como uma derradeira chave de leitura para a sua própria existência.
Biblioteca Municipal Luís de Camões (Alvito)