Almodôvar tem raízes árabes, “Almodaûar”, significando redondo, ou cercado em redondo, sugerindo que terá havido por aqui uma fortificação. Nesta terra de tradições e encontros, com um património natural e cultural manifesto, expande-se pela imensidão da planície e por montes e vales serranos. Por aqui respira-se a fragância mais pura da natureza e as estórias e os paladares ancestrais que testemunham o mel de rosmaninho, a aguardente de medronho e os sabores únicos da sua cozinha. Este é um lugar que se move como um moinho de vento e água que, sem parar, produz a farinha, a essência do pão mais autêntico.
Andarilhar por ruas e ruelas deste concelho é ingressar em todo um património arquitetónico caiado, é visitar o seu mercado, um monumento, o sítio arqueológico e todos os seus museus guardam toda uma memória coletiva viva, material e imaterial.
Almodôvar descreve-nos também, obrigatoriamente, um tempo que nos faz viajar até à mais antiga escrita conhecida na Península Ibérica e à segunda da europa, posterior apenas ao grego antigo que surgiu um século antes. Esta escrita que se desenvolveu há mais de 2500 anos, recuando entre o séc. VII e o séc. V a.C., pode ser testemunhada no Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar (MESA), o único no mundo dedicado a esta enigmática grafia. Por aqui, podemos conhecer um significativo conjunto de estelas epigrafadas e objetos legados pelos cónios e outros povos, que se estabeleceram por estas paragens, na Idade do Ferro. Este museu, localizado no centro da vila, merece ser visitado quer pela sua originalidade, quer por ser em si uma peça com conteúdos museológicos significantes.
Por perto, na praça da República, situa-se o Museu Severo Portela na antiga Casa dos Paços do Concelho até ao séc. XIX e edifício prisional até meados do século seguinte. Aqui temos a oportunidade de conhecer trabalhos deste artista, pintor do séc. XX, que nos deixou um legado assinalável e de reconhecido mérito. Nascido em Coimbra e que por matrimónio passou a radicar em Almodôvar, Severo Portela tem de sua autoria, entre outras obras, inúmeros painéis murais patentes em tribunais, por todo o país. Ainda neste museu dá-se a conhecer Memórias de um Ofício que evidência a Profissão de Sapateiro, uma atividade que, até à década de sessenta do século passado, teve uma grande relevância para a região. Com a pressão da industrialização e da emigração foram muitos os que se viram obrigados a procurar por outra vida. Nesta mostra apreendemos a diversidade de modelos de botas e sapatos que nos remetem para histórias de gente que com a sua mestria afirmaram esta arte manual.
Em Santa Clara-a-Nova, no Museu Arqueológico e Etnográfico Manuel Vicente Guerreiro, viajamos por lembranças que aqui se sustentam e que com a exposição arqueológica dos achados das Mesas do Castelinho forma com o próprio sítio, um conjunto que se complementa de forma interativa e amplamente dinâmica. Este espaço museológico, na sua vertente etnográfica, retrata cenários da atividade rural que carateriza a ceifa, a apicultura, a produção da cortiça e a pastorícia. São reminiscências do campo, essências da terra da aldeia, da forja do ferreiro, da oficina do abegão, da mercearia paredes meias com a taberna conhecida como “a venda”, a tecelagem, a escola, a barbearia, a casa do povo, a casa alentejana onde se destaca a cozinha com a típica chaminé e o alambique do medronho.
O Sítio Arqueológico de Mesas do Castelinho, a um par de quilómetros deste museu, testemunha a ancestral ocupação do território. Nele foram encontrados artefactos datados da II Idade do Ferro, séc. V - IV a.C. até ao séc. II a.C., altura em que se dá a romanização, perdurando essa realidade até ao séc. II da nossa Era, tendo sido abandonado e, posteriormente, voltou a ser ocupado, durante o período Islâmico, entre os séc. IX e XI. Este local, proporciona-nos de forma única, uma experiência que reside num espaço e num tempo vivencial, habitats, que percorrem o curso da História. Tudo em redor é aconchego no leito da natureza. Somos convidados a percorrer um passadiço circular que, de forma eficiente, nos mobiliza para a observação da muralha de fundação e para a pequena fortificação islâmica. A escavação do período romano deixou a descoberto várias ruas do povoado, resultado da urbanização processada por essa altura. No Sítio Arqueológico de Mesas do Castelinho celebra-se o encontro de culturas e formas de saber, harmonizando-nos com o passado.