Diário do Alentejo

Agricultura e ambiente no Alentejo

23 de março 2024 - 12:00
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

Texto | José Valente

 

A agricultura, mesmo que não seja altamente rentável, é sempre importante para a segurança alimentar da população no Alentejo. E o mesmo se passa na Europa, da qual Portugal faz parte. Existem conflitos militares hoje no mundo e as relações com outros países de que dependemos nunca poderão estar garantidas. Daí que é importante a segurança dos portugueses, não só através da existência de um exército militar, mas também através do controlo de setores vitais do País e da nossa alimentação, sem a qual poderíamos morrer à fome ou pagar a outros países por alimentos valores incomportáveis.

A segurança é vital e a segurança do tipo alimentar terá de ser uma prioridade. Mas o problema ambiental também terá de ser prioritário para o Alentejo, para Portugal, para a Europa e para o mundo. Todos sabemos que a Terra está a morrer aos poucos devido à deterioração do ambiente e dos recursos do planeta. E todos os países têm de cooperar na solução dos problemas ambientais, incluindo Portugal e os alentejanos. E as más políticas ambientais que no Alentejo forem tomadas afetarão, em primeiro lugar, a nossa região, mas também afetarão todo o planeta. É que o mundo inteiro está conectado. Assim, não sendo Portugal dos países que mais contribui, por exemplo, no aquecimento global, este já nos está a afetar.

O facto de o Alentejo não ter grande industrialização não afeta tanto a qualidade do ar como noutras regiões do planeta. Porém, mais indústrias também trariam mais empregabilidade na região e mais prosperidade económica. Daí que a atividade industrial traria algumas coisas boas e outras más. A gestão dos territórios é, pois, algo complexa.

É necessário equilibrar a qualidade de vida, a biodiversidade da fauna e flora, algumas atividades económicas tradicionais, o ecossistema natural com mais desenvolvimento, mais culturas rentáveis em lucro económico e o progresso mais artificial. Podem-se substituir algumas áreas naturais por autoestradas, bairros modernos que ampliam cidades, aeroportos com ruídos que incomodam a vida das aves. Podem-se substituir áreas naturais selvagens por culturas agrícolas muito mais lucrativas devido ao uso de adubos que fertilizam esses solos e pesticidas que protegem das pragas e doenças. Mas até que ponto a natureza suporta estas alterações aceleradas e que desequilibram os ecossistemas naturais que antes existiam? O que poderá acontecer se uma percentagem significativa de polinizadores desaparecer? Quanto tempo levará uma área agrícola a recuperar após uma década ou duas de estar lá plantado um olival intensivo? O que acontecerá aos insetos e bactérias num solo onde existe uma monocultura em vez de culturas variadas promovendo maior biodiversidade? E às aves que aí vivem ou que se movimentam nessa região?

O DDT foi um pesticida que trouxe consequências superiores ao que foi previsto. O glifosato, que tem sido usado, também pode trazer aos seres vivos e ao Homem problemas ainda maiores aos que já se conhecem?

Penso que não conseguiremos ter uma alimentação em quantidade e uma agricultura satisfatória economicamente se não recorrermos a um mínimo de fertilizantes e pesticidas. No entanto, o seu uso pode aumentar os problemas de saúde humana e a degradação do meio ambiente. As ciências agrícolas, a ecologia, a biologia, a química e a estatística terão de analisar os aspetos positivos e os negativos da agricultura moderna.

Se a população do planeta não aumentasse tanto não haveria necessidade de tantos alimentos e poderíamos tê-los em menor quantidade, mas com maior qualidade e mais biológicos. Existem alimentos como a carne das galinhas do campo que são muito mais saborosos do que os frangos de aviário, por exemplo. E como o frango de aviário é dezenas de vezes mais barato para o produtor há o risco de esses manjares de galinha do campo se extinguirem. Igual fim poderão ter as perdizes selvagens quando são caçadas em demasia e substituídas no campo por perdizes de aviário que não têm tanto sabor no prato e não se adaptam tão bem na natureza. Temos que nos lembrar que o ser humano já extinguiu várias espécies de animais devido à caça no passado. O mais conhecido foi a ave dodó, que se extinguiu há séculos.

Uma solução para preservar estes pratos de sonho seria tornar a galinha do campo um prato de luxo de modo a aumentar o seu preço e estimular a sua produção. Outra medida seria limitar as caçadas a espécies que vão sendo cada vez mais raras.

Ora, a agricultura biológica parece ser menos nociva ao meio ambiente e, assim, deveríamos incentivar essas práticas sempre que possível. Sabemos também que há combate a pragas com insetos amigos em vez de usarmos pesticidas e esses usos deveriam ser mais incentivados. Mesmo que a produção agrícola com a agricultura biológica fosse menos rentável deveríamos apoiá-la muito mais com subsídios para a tornar mais competitiva e ajudar o agricultor. Seria uma aposta no nosso futuro!

Acerca deste tema, José Paulo Martins proferiu uma conferência na Biblioteca Municipal de Beja no início do ano. José Paulo Martins estuda e luta pela preservação do ambiente há mais de 40 anos, tendo pertencido à direção da Associação Quercus, sendo, presentemente, um dos líderes da associação ambientalista ZERO. Na conferência com o tema “As alterações à ocupação e uso do solo e o seu impacto na biodiversidade, na região de Beja”, falou na Agricultura e Ambiente no Alentejo, destacando a necessidade de preservar e expandir as reservas naturais. E o público compreendeu que esta luta tem de ser de todos os alentejanos.

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