Texto António Catarino
No século XII, Portus Alacer era um porto ou ponto de passagem dos viajantes, que ali encontravam abrigo e recebiam mantimentos, em lugar alacer, ou seja, aprazível e fresco.
Assim tem sido, de algum modo, encontrada uma explicação para a origem do topónimo Portalegre, um burgo leal desde o reinado de D. João I e com o estatuto de cidade outorgado por João III em 1550.
Na história industrial da urbe alentejana figuram a Real Fábrica de Lanifícios de Portalegre – uma aposta do Marquês de Pombal – e a Corticeira Robinson, unidades fabris de grande dimensão, e que hoje fazem parte das memórias de tempos áureos da cidade, que desde novembro de 2021 tem mais um restaurante no centro histórico.
“O Abrigo do Martinho”, na rua de Elvas, com fácil acesso a partir da rotunda do Semeador e vizinho do convento de Santa Clara, é o mais recente dos espaços de restauração do grupo liderado por João Martinho. O empresário, que gere mais dois espaços similares, deu assim nova vida ao local onde funcionou, durante muitos anos, o restaurante “O Abrigo”.
A sala, em plano inferior à rua, é confortável, tem capacidade para 36 pessoas, mas há outro espaço com mais capacidade, destinada a grupos.
A carta apresenta sugestões que não se resumem aos pratos alentejanos tradicionais. Há propostas interessantes, algumas pouco habituais, e o nível da cozinha reflete qualidade. Nas entradas, ovos mexidos com farinheira de castanha, croquete mirandês, cogumelos salteados, queijo de cabra gratinado ou um prato com presunto são boas opções.
Açorda de coentros e sopa de tomate expressam o lado tradicional da ementa, em que figuram espetada de choco e camarão; bacalhau à Martinho, frito; atum braseado; e polvo à lagareiro com batata salteada e legumes.
A opção escolhida, e que justificou aplauso, constava do capítulo seguinte: fraca tostada em azeite e alho e que revelou bom trabalho no tratamento culinário a realçar o sabor da carne do galináceo. Outras sugestões a ter em conta: lombinhos de porco preto em mel e mostarda; bochechas de novilho em vinho tinto; ensopado de javali; açorda de fraca; e bife da vazia com molho de cogumelos.
Nos grelhados, destacam-se as costeletas de borrego com piso de hortelã, migas e batata salteada e o chuleton de 850 gramas para duas pessoas. Há mais escolhas possíveis, em particular, espetada terra e mar, com bife de Angus, abacaxi e camarão; posta mirandesa; e secretos de porco preto. Para terminar, arroz doce ou pudim de ovos.
Boa garrafeira, com maioria de referências da região. Serviço simpático neste restaurante que amplia as escolhas em termos gastronómicos da cidade onde José Régio viveu e lecionou.