Texto António Catarino
A vila de Cuba teve, desde a Idade Média, privilégios inerentes a sede de concelho, estatuto concedido por D. Maria I em 1782. No território desenhado entre vinhedos e relevantes marcos patrimoniais, que Fialho de Almeida tantas vezes percorreu, há indícios da ocupação humana nos tempos pré-históricos, em particular durante a era megalítica.
Mais tarde, os romanos deixaram um legado assinalável, nomeadamente na produção do vinho de talha, construção de represas e de pontes. A origem do topónimo Cuba não é consensual e gerou duas teorias: terá sido a corrupção do vocábulo árabe Coba, um diminutivo de torre; no entanto, a justificação mais lógica estará na descoberta de várias cubas de vinho. O achado deu-se nos arredores da vila, após a conquista consumada no reinado de D. Sancho II.
Ao longo dos tempos, agricultura foi a atividade predominante neste rincão onde o cante, a expressão da alma do povo alentejano, é particularmente querido. A comemorar 90 anos de existência, o Grupo Coral Os Ceifeiros de Cuba é um dos embaixadores da vila e um dos mais antigos do Baixo Alentejo.
A renovação, catalisador da desejada continuidade, está em marcha sob a liderança de Paulo Calado, presença carismática e anfitrião de corpo inteiro num espaço acolhedor que dirige, situado a dois passos do largo do tribunal, no centro de Cuba. Essa Taberna, com dois esses de acordo com a ortografia expressa, tem o cunho muito particular de preservar o conceito tradicional das antigas tascas.
Aberta em 2007, nos tempos em que o turismo animava outras latitudes, situação bem diferente do que hoje, felizmente, sucede, a casa conheceu, em tempos, um hiato no funcionamento. Reabriu há anos com a mesma matriz e nova alma, mantendo o bom gosto na decoração do espaço com 22 lugares e mais alguns na agradável esplanada.
Cores quentes, utensílios agrícolas e objetos rústicos dão um certo ar campestre à sala, acolhedora e confortável, com um balcão em plano superior ideal para saborear petiscos tradicionais, o ponto forte da casa, cuja porta abre apenas ao final da tarde, em horário pós-laboral.
Na ementa, bem visível, escrita a branco em fundo preto, figuram petiscos, com destaque para tomatada, língua estufada, bochechas, camarão com alho, enchidos regionais, queijos, presas de porco preto e a divinal cabeça de xara. Nas sugestões com maior consistência, um dos destaques é o polvo do rio. O cefalópode é cozinhado nos moldes tradicionais, surgindo o toque diferenciador com recurso à hortelã da ribeira, que dá um sabor especial, muito particular.