Texto António Catarino
Planície fora, deixando Beja para trás, a caminho de Aljustrel, a estrada atravessa vastas extensões de terreno preenchidas com olival e amendoal, que alteraram de modo radical a paisagem desta extensa parcela do Baixo Alentejo. O tom avermelhado do terreno – é a região dos férteis barros de Beja, terreno argiloso por excelência – dá um colorido muito especial, quando a primavera está a despontar.
Em Santa Vitória, optámos por seguir na direção da Mina da Juliana. A extração de cobre pertence ao passado desta povoação de ruas paralelas e casas térreas de uma alvura resplandecente. Muito perto, a mancha azul de um dos braços da albufeira da barragem do Roxo, inaugurada em 1958, e cujo enchimento submergiu parte da aldeia,
A curta distância, no trajeto para uma unidade hoteleira, o Monte da Juliana, sete quilómetros andados desde Santa Vitória por boa estrada, cresceu no final do século XIX, quando o proprietário de uma vasta herdade destacou quatro hectares para a construção de habitações. Com tal medida, conseguiu a fixação dos trabalhadores imprescindíveis para as tarefas rurais. À primeira pedra sucederam outras; a aldeia ganhou dimensão e outro movimento desde 2004, ano em que o restaurante “Sabores do Monte” abriu portas.
A casa mantém a mesma gerência há sete anos e o ambiente descontraído. A sala, com balcão ao fundo, é confortável, desprovida de luxos com o piso em ladrilho. Nas paredes, fotos a preto e branco retratam épocas diferentes da agricultura alentejana.
A cozinha é de matriz regional, baseada na tradição, como se depreende ao ler a carta, em que se destacam alguns pratos muito apreciados. Para começar, pão recheado: um merendeiro, pão no formato tradicional, mas à escala reduzida, com linguiça, paté e queijo. Nas entradas, figuram queijos de ovelha e de cabra e tábuas com enchidos ou mista. Nas sugestões do dia, destacavam-se os abanicos de porco preto, costeletas de borrego e bife da vazia. Neste capítulo, referência para mais duas opções: frango com molho de cerveja e almôndegas em molho de tomate.
Na carta propriamente dita, os pratos de carne de porco preto marcam presença destacada, em particular secretos, plumas e na grelhada mista. Os grelhados não estão limitados a estas opções: costeletas de borrego – também podem ser fritas – e escalopes de frango – outra opção, com natas e cogumelos – alargam o leque de escolhas. Restaurante alentejano que se preze tem de incluir na carta as tradicionais migas com carne de porco e esta casa não foge à regra. No entanto, a escolha recaiu num prato hoje em dia pouco habitual na restauração: sopas de toucinho com entrecosto. Bem servidas, com espesso caldo de tomate a cobrir as fatias de pão e um ovo escalfado, justificaram nota positiva.
O bacalhau domina o capítulo mais reduzido da lista, surgindo como acompanhamento da tradicional açorda de alho, com sopas ou na versão à Brás. A sopa de cação é alternativa muito apreciada. Nas sobremesas, destaque para a frasca de amêndoa, bolo real e sericaia. Garrafeira satisfatória. Serviço simpático no “Sabores do Monte”, a dois passos da Mina da Juliana.