Diário do Alentejo

Salvar a biodiversidade do planeta

02 de janeiro 2023 - 09:30
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Texto José Valente

 

Foi anunciado há poucos dias um acordo histórico para proteger a biodiversidade no encerramento da Conferência sobre Biodiversidade, COP15, em Montreal, no Canadá. Uma palavra na ordem do dia é Biodiversidade. Ouve-se falar da Biodiversidade na televisão, nos jornais, nos debates, entre a classe política e da boca dos defensores do planeta, os ambientalistas.

 

Existem muitos sites e blogues na Internet sobre a Biodiversidade, Natureza e Ambiente interessantíssimos em inglês, mas para quem não é fluente nessa língua também os encontra em português e espanhol (da Europa e da América do Sul e Central). Um site que recomendo é do autor Dinis Cortes, médico residente em Beja que dedicou uma vida inteira ao estudo e fotografia do Mundo Natural, com imagens extraordinárias de aves, borboletas, libelinhas, plantas e outras espécies: https://www.flickr.com/photos/diniscortes.

 

O site da organização ambiental Salve a Selva (fundada em 1986) informa que “Biodiversidade designa tanto a variedade de espécies como a diversidade genética dentro de e entre as espécies, assim como a multiplicidade dos ecossistemas e das paisagens regionais. Além disso, o termo biodiversidade também abrange a diversidade de funções e interações através das quais as espécies estão relacionadas mutuamente dentro de um ecossistema.”.

 

E o problema é que esta maravilhosa Biodiversidade está a desaparecer. E a ritmo acelerado. Num seminário sobre Ecologia, Evolução e Ambiente na Universidade Flinders, na Austrália, o Professor Giovanni Strona informou que a cada dia se extinguem 52 espécies animais e vegetais e que existem atualmente 8,7 milhões de espécies estimadas, 1,2 milhões catalogadas e 7,5 milhões para serem descritas.

 

Giovanni Strona, da Comissão Europeia e Corey Bradshaw, da Universidade Flinders, vêm agora alertar-nos de que os números da perda de Biodiversidade podem ser superiores aos que se supunha até agora. O seu estudo “Co-extinctions dominate future vertebrate losses from climate and land-use change” foi publicado na revista Science de Dezembro de 2022. Este é um problema que aflige quem estuda Ecologia, para quem defende a Terra e para todos nós.

 

A Ecologia estuda as relações entre os seres vivos. Todos os seres vivos se relacionam nas cadeias alimentares em rede. Ou seja, os seres vivos dependem uns os outros. Assim se extinguirmos alguns logo outros que dependem desses também sofrem e assim por diante criando uma espécie de efeito dominó.

 

Giovanni Strona e Corey Bradshaw contestam os estudos feitos até aqui sobre a diminuição da biodiversidade, uma vez que os mesmos não consideram as espécies de seres vivos que poderão desaparecer por causa de outras de que dependem se extinguirem.

 

Para estudarem os efeitos das alterações climáticas, perda de habitat e outros problemas a ter em conta na diminuição da biodiversidade eles criaram um modelo virtual em computador da Natureza com cerca de 15 mil cadeias alimentares. Eles concluíram com esse estudo de efeitos indiretos de umas espécies sobre outras que haveria mais um terço de extinções de seres vivos do que os modelos anteriores previam. 

 

Para travar a destruição da Biodiversidade a ONU realizou sob os seus auspícios a Conferência sobre a Biodiversidade de Montreal que começou dia 15 de Dezembro de 2022. Esta é a continuação da primeira parte realizada em Kunming, na China.

 

No dia 19 de Dezembro foi apresentado um documento com mais de duas dezenas de objetivos para os próximos anos até 2030. As áreas protegidas do planeta são hoje relativamente pequenas, constituindo 17% das terrestres e 8% das marítimas.

 

O presente acordo sobre Biodiversidade de Kunming-Montreal prevê que sejam conservadas até 2030 “pelo menos 30% das áreas terrestres e das águas continentais, costeiras e marinhas”. Cerca de 188 mil milhões de Euros anuais serão destinados a preservar a Biodiversidade. Haverá ajudas dos países ricos e de outros que não estão no bloco dos mais ricos para apoiar os países em vias de desenvolvimento permitindo que estes sejam mais ambiciosos.

 

Determinou-se a redução da poluição dos plásticos, redução do uso de pesticidas e o restauro de áreas ambientalmente degradadas. Os dados genéticos dos produtos naturais de muitos países do Hemisfério Sul geraram quantidades exorbitantes de dinheiro em aplicações como medicamentos, produtos cosméticos e outros aos países mais ricos do Hemisfério Norte. Assim esses benefícios irão ser compartilhados através de um mecanismo global.

 

Há quem diga que as coisas estão bem encaminhadas, mas para muitos cientistas e várias ONG tudo isto parece pouco afirmando que a área a preservar deveria ser de 50%. O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou há poucos dias que não podemos aceitar as coisas como elas estão e deveremos entregar um planeta habitável para nossos filhos e netos.

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