Diário do Alentejo

Luís Simenta: On man show

18 de dezembro 2022 - 12:00
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Nasceu em Beja, em 1975, é casado e pai de duas raparigas, também elas com alma de artistas. Reside na cidade que o viu nascer e crescer, com a família, e assume-se, com orgulho, alentejano e bejense. Estudou na Escola Secundária Diogo de Gouveia, formou-se em Serviço Social, no Instituto Superior de Serviço Social de Beja, cumpriu o serviço militar obrigatório e ingressou, posteriormente, em 1998, na Direção Geral da Reinserção Social, onde exerceu as funções de Guarda Prisional.

 

Anos mais tarde, tornou-se Técnico Superior de Reinserção Social e, desde 2007 que, na mesma Carreira, trabalha na Equipa Multidisciplinar de Assessoria aos Tribunais do Centro Distrital da Segurança Social de Beja.

 

Eis o músico Luís Simenta na primeira pessoa!

 

Texto Luís Miguel Ricardo

 

 

Quando e como o gosto pela música começou a ganhar protagonismo? O meu percurso musical iniciou-se desde cedo, ainda na primária, onde já cantava modas alentejanas que ouvia em casa de familiares. Depois comecei a aprender a tocar guitarra com cerca de 12, 13 anos. O meu mentor foi o Padre Manuel António, que, no Seminário de Beja, dava aulas a quem quisesse aprender música. Mais tarde, no liceu, através de um professor de Francês, o professor Jorge, é formado o primeiro grupo musical e são-me atribuídas as funções de vocalista e guitarrista. Com 16 anos “a música já era outra”. A rampa de lançamento foi o PUB “UFOS”, onde formo uma primeira banda de covers tocando às sextas e, por vezes, aos sábados. Eram noites maravilhosas, mágicas. Nessa altura Beja tinha mais vida do que tem atualmente. Seguiu-se, pouco tempo depois, a minha primeira participação num programa televisivo - “Cantigas da Rua” - , onde, no programa que decorreu ao lado do Castelo de Beja, e em que a Teresa Guilherme e o Miguel Ângelo eram os apresentadores, fiquei em segundo lugar.  Depois veio a onda da música pop e vários temas originais que, com as bandas que se iam reconstruindo e reinventado, tocava em Bares da zona. Porém, a música alentejana sempre me acompanhou e, mais tarde, talvez por volta dos meus 19, 20 anos, passei a integrar o grupo de música popular “Trigo Limpo”, no qual permaneci cerca de 14 anos.

 

Quais as referências musicais de Luís Simenta? Pese embora a minha admiração pela música dos anos 80/90, com destaque para os nacionais G.N.R, UHF e Xutos e Pontapés, o cancioneiro alentejano agudizava o meu interesse pela cultura, costumes e tradições das minhas gentes. Cada letra tinha uma alma muito peculiar que me despertava a vontade de a cantar e sentir como um bom alentejano.

 

Trigo Limpinho. Que projeto foi este? Quando estava no “Trigo Limpo” formei os “Trigo Limpinho”, um grupo de crianças, algumas filhas dos elementos do grupo, nomeadamente, as minhas duas filhas, uma das quais, na altura, com apenas quatro anos de idade. O propósito era dar continuidade à cultura e tradição e, consequentemente, despertar nos mais novos o interesse pela música alentejana, pelo cante e por tudo o que estivesse ligado ao Alentejo. Algumas dessas crianças, hoje adultos, foram por mim ensinadas, não apenas a cantar, mas também a tocar alguns instrumentos musicais, destacando-se a guitarra, o cavaquinho e a flauta, entre ouros instrumentos de percussão. Os “Trigo Limpinho” chegaram a fazer vários espetáculos em feiras e certames do Alentejo. Sem verbas oficiais, eram os pais que se responsabilizavam por comprar e confecionar os trajes e levar os filhos aos eventos. Tudo era feito com alegria e amor.

 

E Espigas do Alentejo? Após acabar o meu percurso no “Trigo Limpo”, onde era denominado pelas crianças, de forma carinhosa, como o “professor”, mantive-me ligado à formação musical dos mais jovens, alterando o nome do grupo para, precisamente, “Espigas do Alentejo”. Um grupo que realizou vários espetáculos e participou em programas televisivos, destacando-se o “Boa Tarde - SIC” apresentado pela Conceição Lino, e onde, pela primeira vez, é tocado o “Hino dos Espigas do Alentejo”, composto e musicado por mim.

 

E outros projetos a destacar no percurso artístico de Luís Simenta? Destaco três outros trabalhos musicais: os “Real Aliança Velha”, composto por mais dois elementos e onde se interpretavam, entre outros, temas originais com sonoridades flamencas; e, mais tarde, os “Mata Bicho”, onde eu e outro elemento voltamos às origens e, envoltos num cenário teatral, demos vida ao cancioneiro alentejano. Por razões profissionais de ambos, o projeto cessou, e é aqui que, há cerca de cinco anos, nasceu aquele que, para mim, é o meu grande projeto musical, e que me define enquanto pessoa e artista. Nasceu assim o “Luís Simenta Canta Alentejo”.

Como surge o repertório nos projetos musicais de Luís Simenta? No projeto “Luís Simenta Canta Alentejo”, um projeto a solo, volto às origens, interpretando temas do Alentejo e utilizando o cancioneiro e o cante como marcos de referência.

 

 

É neste projeto a solo que emerge o verdadeiro “One Man Show”, pelo qual és conhecido no meio artístico? No projeto a solo, senti a necessidade de fazer um trabalho mais diferenciador e que me caracterizasse enquanto artista. Nesse sentido, passei a tocar, em simultâneo, vários instrumentos, destacando-se o bombo e guizo de pé, a harmónica e as guitarras, uma de seis e outra de doze cordas. Chegados aos meses de abril, e com ele o grito de liberdade nas músicas de intervenção, mantendo o registo a solo, consolidei um outro alinhamento musical, com vários temas de intervenção de Cantautores, como é o caso de José Afonso, Vitorino, Janita Salomé, Manuel Freire, Sérgio Godinho, José Mário Branco entre outros. Em suma, pretendo continuar num registo “One Man Show” e acrescentar novos instrumentos musicais ao meu projeto, estando em mente a introdução da viola campaniça, tão característica do Alentejo.

 

Qual a opinião sobre o universo musical que evolui na região do Alentejo? É visível o crescimento artístico do Alentejo em várias áreas culturais, basta ver televisão ou ouvir a rádio para se perceber a dimensão desta realidade. O Cante alentejano, elevando a Património Cultural Imaterial da Humanidade, deu um enorme contributo ao fomentar, nas gerações mais novas, a necessidade de preservar e dar continuidade a uma cultura musical tão especial como é a nossa. Portanto, estamos no bom caminho, sendo, contudo, necessário o apoio cada vez maior das instituições e organismos para esse fim, nomeadamente, das autarquias.

 

Que papel desempenha o Alentejo nos projetos artísticos de Luís Simenta? Viver no Alentejo é um privilégio e, para mim, uma fonte inesgotável de sabedoria e conhecimento a que pretendo dar continuidade com a minha música, bem como uma rampa de lançamento para outros voos futuros, eventualmente, espetáculos no estrangeiro.

 

Que sonhos artísticos que moram em Luís Simenta? Considero-me uma pessoa simples e humilde, por isso o meu sonho também é simples: dar continuidade ao meu projeto a solo, mantendo viva a tradição e os costumes do Alentejo e das suas gentes. É também espetável, a médio prazo, a composição e gravação de canções originais, todas elas com o propósito de divulgar o “Nosso Alentejo”.

 

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