Diário do Alentejo

A extinção do sapo-dourado

14 de dezembro 2022 - 09:00
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Há dezenas de milhares de anos era frequente os humanos avistarem mamutes. Hoje já ninguém avista esses monstros gigantes. E muitas outras espécies de animais também acabaram por desaparecer. É a ordem natural das coisas. As espécies não duram eternamente! Ao longo de milhares de anos os animais vão lentamente extinguindo-se.

 

Texto José Valente

 

Ao longo de milhares de anos os animais vão lentamente extinguindo-se. A taxa de extinção de fundo é o número de espécies que se vão extinguindo por milhão de espécies. Ora como essa taxa nos mamíferos é de 0,25 por milhão de espécies, isso equivale a cerca de 1 espécie extinta em média por cada 700 anos. E isto porque existem 5 500 espécies de mamíferos. É só fazer as contas.

 

A taxa de extinção de fundo dos anfíbios não anda muito longe da dos mamíferos. Não é conhecida com rigor porque não existem muitos fósseis de anfíbios. Porém pode-se considerar 1 espécie extinta por cada 1000 anos. E, no entanto, na realidade está-se a constatar que a taxa de extinção na atualidade para este grupo é milhares de vezes este valor.

 

A taxa de extinção dos animais ao longo de muitos milhões de anos deu um salto gigantesco de vez em quando. Esses saltos, numa amplitude de milhares de vezes superior à taxa normal, corresponderam a alguns períodos de extinções em massa. O mais conhecido salto deu-se há 65 milhões de anos e correspondeu à extinção dos dinossauros, e de outros animais de tamanho maior, provocada pelo choque com a Terra de um gigantesco asteroide a uma velocidade de milhares de quilómetros por hora. Outras extinções deram-se há centenas de milhões de anos.

 

Nas expedições dos herpetólogos em certas zonas do Panamá e Costa Rica, na década de 1960, encontravam-se rãs por todo o lado. Mas em meados da década de 1980 passou a ser raro ver anfíbios. Alan Pounds viajou para a Costa Rica na década de 1980 para investigar os anfíbios, o meio ambiente e o clima da Floresta Nublada de Monteverde.

 

O sapo-dourado foi descoberto em 1960 nas florestas de Monteverde, habitando uma área de poucos quilómetros quadrados. Segundo Pounds, a população deste anfíbio, passadas poucas décadas, quase desapareceu toda no intervalo de um ano.

 

Na revista “Nature”, de novembro de 2009, Alan Pounds publica “Amphibian mystery misread” (Mistério de anfíbio mal interpretado) onde aborda este tema. Segundo o jornal “The Guardian”, em meados dos anos 1980, foram avistados 1500 sapos-dourados numa área florestal. Esse número em 1989 caiu para um exemplar apenas. E em 2004 declarou-se a espécie como estando extinta pela IUCN.

 

Alan Pounds afirma que na floresta nublada da Costa Rica avistava centenas de sapos-dourados nas zonas húmidas e com água, contrastando com a cor do solo e envolvendo-se em lutas intensas, que faziam parte dos rituais de acasalamento. Era um espetáculo mágico do mundo natural das zonas tropicais da América Central.

 

O desaparecimento do sapo-dourado foi dos primeiros alertas das consequências do aquecimento global. Pounds afirmou que a mudança climática e acontecimentos extremos levaram à extinção de espécies. E diz que foi a ação do Homem que fez com que alguns fungos se espalhassem pelo planeta direta ou indiretamente assim como essa ação também tem influenciado o declínio de muitas espécies animais.

 

O declínio destes animais foi associado à infeção por quitridiomicose, cujo fungo batrachochytrium dendrobatidi é o agente patológico.

 

A investigação sobre a extinção do sapo-dourado foi destacada num relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) no âmbito das consequências das alterações climáticas. A identificação deste fungo data de há poucos anos. O fungo tem infetado anfíbios não só na América Central, mas também nas Américas do Norte e do Sul e Austrália sendo transportado por diversos animais e objetos.

 

A investigação do fungo que infeta a pele das rãs indicou que o movimento dos eletrólitos sódio e potássio aí sofrera alterações e os animais infetados tinham uma quantidade de potássio muito inferior aos animais não infetados.

 

Mas, a causa para a extinção do sapo-dourado poderia ser o calor e a seca juntamente com microparasitas. Houve contaminantes atmosféricos removidos por chuviscos e neblina que também poderiam ter contribuído para tal.

 

Outra hipótese é a das espécies invasoras trazidas por turistas e pelo facto dos anfíbios terem uma fraca variação genética, uma vez que todos esses animais são de uma mesma zona, conduzindo à extinção. Mais de 20 por cento ou 30 por cento dos mamíferos, répteis, aves, tubarões e raias, corais de recifes e moluscos de água doce estão a aproximar-se da sua extinção segundo as palavras de Elisabeth Kolbert no seu livro A Sexta Extinção.

 

Poderemos estar à beira de uma nova extinção em massa? E se for verdade, será ela de origem antropogénica (provocada pelo Homem)?

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