Diário do Alentejo

A Idade do Universo

27 de novembro 2022 - 13:00
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Texto José Valente

 

No seu livro Génesis o John Gribbin começa por escrever “A questão «de onde vimos nós?» é a pergunta mais profunda que se pode fazer, e a capacidade para responder a tal interrogação é um critério tão bom como qualquer outro na distinção entre espécies inteligentes e não inteligentes.” É importante saber o que existiu um século, um milénio, um milhão de anos antes de nós. Na última conferência de Ciência da Biblioteca Municipal de Beja, o Dr. Dinis Cortes abordou o tema da pré-história e dos nossos antepassados de há 1 milhão de anos ou mais. E também nos falou da origem da Terra de há 4,5 mil milhões de anos.

 

Em leituras que fiz, há muitos anos, de Ciência, Psicologia e Filosofia era afirmado que não há limites para a curiosidade humana. O ser humano pergunta ainda há quanto tempo se formaram as primeiras galáxias e como é que se formaram. Este é um tema de investigação do Professor José Afonso, diretor dos doutoramentos em Astrofísica na Universidade de Lisboa.

 

Por fim surge a pergunta “Qual a idade do Universo?”. A existência de uma idade para o Universo está ligada às religiões. Nas religiões o Universo teve uma origem e foi obra da criação de Deus. Através de interpretações da Bíblia e considerações religiosas tentou-se calcular a idade do Universo. Em 1650 o arcebispo irlandês James Ussher datou a criação em 4004 a. C. No entanto, houve também quem achasse que o Universo não teve um início, que existira sempre, ou seja, a sua idade seria infinita. Nicolau de Cusa (alemão) afirmou em 1440 que o Universo era infinito e que as estrelas eram como o nosso Sol. As questões sobre o tamanho do Universo e a sua idade têm alimentado a reflexão, debate, especulação e investigação humanas.

 

A primeira descoberta para datar o Universo deu-se em 1929 com Edwin Hubble. O astrónomo descobriu que as galáxias se estavam a afastar umas das outras – o Universo estava-se a expandir. E, se as galáxias se estavam a afastar, então há muitos milhões de anos estavam mais próximas. Ao fazer uma regressão a posição de todas elas coincidira no passado. Percebeu-se que houve no início dos tempos uma espécie de explosão e deu-se início ao seu afastamento mútuo. É a teoria do Big Bang.

 

O Universo está, pois, a expandir-se e a taxa da sua expansão é dada pela constante de Hubble. A idade do Universo pode ser medida a partir do valor da constante de Hubble e as diferentes medidas desta constante conduzem a diferentes valores para a idade do Universo. Se as galáxias se afastam com uma velocidade maior é porque tinham estado juntas há menos tempo e o cálculo apontará para um Universo mais jovem. Ao contrário, uma menor taxa de expansão, ou seja, um menor valor da constante de Hubble corresponderá a um Universo mais velho.

 

As contas efetuadas por Hubble usando o valor de 550 km/s/Mpc para a respetiva constante indicavam que a idade do Universo era de 2 mil milhões de anos. Ora como o cálculo da idade da Terra era de 4,5 mil milhões de anos, a conclusão que se estabelecia, por ironia, era de que a Terra nascera antes de todo o Universo! Isto era absolutamente ridículo!!

 

O estudo de estrelas cefeidas pelo astrónomo Walter Baade, em 1942, permitiu concluir que o Universo tinha o dobro do tamanho e como consequência mais do dobro da idade. Isto levou a um melhor acordo da idade da Terra com a idade do Universo.

 

Anos mais tarde, o Modelo Padrão da Cosmologia permitiu explicar a idade do Universo em 14 000 milhões de anos. A idade das estrelas mais velhas não pode ser superior ao cálculo da idade do Universo. No início dos anos 90 do século passado foram medidas as distâncias de milhares de estrelas com o satélite Hipparcos conseguindo-se uma precisão sem precedentes, 100 vezes superior às anteriores. Ao processar-se os dados chegou-se a uma idade das estrelas mais velhas de 13 mil milhões de anos em vez de 16 mil milhões.

 

Posteriormente foi fixada a constante de Hubble em 71 km/s/Mpc, o que significaria uma idade para o Universo de 13,7 mil milhões de anos. O Atacama Cosmology Telescope (ACT) é um telescópio milimétrico localizado no Deserto de Atacama, no Chile, a uma altitude de 5190 metros. A partir da observação da radiação cósmica de fundo o ACT mediu a constante de Hubble em 67,6 km/s/Mpc. Esse resultado foi publicado no “Journal of Cosmology and Astroparticle Physics” de dezembro de 2020.

 

Esse valor quase coincide com o do satélite Planck ao observar a respetiva radiação que foi de 67,4 km/s/Mpc. O cálculo utilizando esses dados e considerações da geometria cósmica conduzem à idade do Universo de 13,77 mil milhões de anos com uma margem de erro de apenas 40 milhões de anos.

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