Diário do Alentejo

À Mesa: Alma Cubense

21 de novembro 2022 - 10:00
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Texto António Catarino

 

Nestes dias de celebração báquica, associada ao culto a S. Martinho, o cavaleiro romano que rasgou a própria capa para agasalhar um mendigo e depois foi bispo, há regiões alentejanas onde o vinho de talha é o rei da festa. Produzido de acordo com práticas ancestrais é, por estes dias, cartaz, nomeadamente, em Vila de Frades e Vila Alva, freguesias dos concelhos de Vidigueira e de Cuba, onde o cerimonial de abertura dos tarecos e das talhas garante animação e petiscos, com o cante, não raras vezes, a brotar de modo espontâneo.

 

No centro de Cuba, junto ao tribunal e a dois passos da estátua de Cristóvão Colombo, o Cubense é restaurante e café com assinalável historial. Quase a atingir os 90 anos de existência – abriu portas em 1934 – mantém o encanto que só a patine do tempo dá às casas onde o passado é perpetuado nas fotos e cartazes que avivam, a preto e branco, memórias da vida local. O espaço divide-se por duas salas, uma interior, reservada a grupos e decorada com objetos e utensílios utilizados na faina agrícola; a principal, espaçosa e sem luxos, é ideal para saborear comida de conforto, confecionada por mãos sabedoras.

 

Na cozinha, o casal Cristina, herdeira dos dotes culinários maternos, e José João Fitas, eficaz e diligente, garante a qualidade dos pitéus. A lista é algo curta, apresentando diariamente quatro ou cinco opções. O peixe, muito fresco, marca presença maioritária, regra geral, nas escolhas de 4.ª e 6.ª feira: robalo; dourada, carapau; peixe-espada e chocos são algumas das espécies que podem passar pela grelha. Bochechas de porco estufadas; feijoada; carne de porco com amêijoas, com tempero de pimentão; ensopado de borrego pleno de sabor; ervilhas com ovos; feijão com carrasquinhas -- um cardo bravio --; favas; carnes grelhadas, feijoada de chocos e as tradicionais sopas de tomate ou da panela sãos alguns dos pratos habituais e que revelam a qualidade de ingredientes bem trabalhados.

 

O leitão assado é presença habitual à 5.ª-feira, nesta casa onde, na época, os caracóis têm justificada fama e ampliam o leque de petiscos.

 

Nas sobremesas, brilha a mousse de chocolate. Carta de vinhos curta, contemplando referências da região. Serviço muito simpático, neste restaurante familiar que assegurou a continuidade de um café histórico, guardião de memórias de várias gerações cubenses.

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