Texto José Valente
Teresa Lago liderou a Astronomia a nível mundial, ou seja, foi secretária-geral da UAI (União Astronómica Internacional) no período de 2018 a 2021.
Ela esteve recentemente em Beja para falar de Astronomia e da UAI. Recentemente, tive a sorte de a professora Teresa Lago aceitar o meu convite e da diretora Paula Santos para proferir uma conferência na Biblioteca Municipal de Beja. Antes da conferência fomos jantar e tivemos a oportunidade de falar de quando eu a conheci e do seu amigo, Richard West, que descobriu um dos mais conhecidos cometas do século XX e que tem o seu nome.
Ela comentou que o Richard foi importante para a adesão de Portugal no ESO (Observatório Europeu do Sul) e que nos deu uma prenda ao propor o nome de Portugal a um asteroide que ele descobriu. Teresa Lago é ponderada, fala com calma e mede o que diz.
Ela foi ousada ao criar cursos de Astronomia, Mestrados, Doutoramentos, o Centro de Astrofísica do Porto, contribuir para Portugal pertencer ao ESO e gerir os destinos da Astronomia a nível mundial. Tem uma opinião favorável ao desempenho do Mariano Gago enquanto ministro que projetou a Ciência nacional e também a Astronomia. Ela reconhece que Portugal tem um bom rácio de investigadores em Astrofísica e muito se fez em anos não muito distantes.
Li há uns dias na imprensa: “Quanto maior o nível das pessoas mais humildes são!” E esta ideia assenta mesmo bem em Teresa Lago, uma pessoa humilde, generosa e acessível. E, a propósito, fiquei encantado quando ela afirmou perante o público de Beja que a Astronomia seria muito importante para muitos políticos arrogantes estudarem e confirmarem a nossa posição no Cosmos e o tamanho que a Terra tem como pontinho infinitamente minúsculo no meio do Universo gigante, com as suas biliões de biliões de estrelas e possivelmente o mesmo número de planetas! Perante o infinitamente grande de todo o Universo, afinal, o que é que nós somos?!
Teresa Lago e o marido, Pedro Lago, contaram-me histórias deveras interessantes de Leon Mestel. Eu já tinha ouvido falar de Mestel pelo António Costa, conhecido astrofísico. Mestel, figura maior da astronomia mundial, desenvolveu imenso o Centro de Astronomia de Sussex.
Ele estudou com destaque as anãs brancas, estrelas que são pouco maiores do que a Terra e quando se acabam de formar têm temperaturas superiores a 100 000 º C e densidades tais que 1 centímetro cúbico da sua matéria pode pesar tanto como 2 elefantes! António Costa ficou maravilhado quando veio à Biblioteca Municipal de Beja falar de Relatividade e em conversa com a sua amiga Teresa Lago comunicou-lhe que valeria a pena ela cá vir porque ficaria a adorar os baixoalentejanose a forma como se é recebido.
A conferência tratou dos recentes desafios da Astronomia Mundial e, por fim, da gestão da UAI por Teresa Lago enquanto secretária-geral. Mostrou imagens do deserto do Atacama no Chile e falou das condições de trabalho nessas regiões áridas a 5 quilómetros de altitude.
Contou as brincadeiras que fazem aos novos e jovens astrónomos quando chegam ao telescópio VLT (de 8,2 m de diâmetro) onde lhes dizem para empurrar esta máquina com toneladas de peso e que levam os mesmos a pensar que a tarefa é impossível. Mas a tecnologia avançada permite que tal seja possível. O futuro telescópio ELT será muito superior ao VLT e ultrapassa a nossa imaginação. O seu espelho principal (tipo lente de ampliar) terá 39 metros de diâmetro e está na vanguarda da tecnologia atual!
No final da conferência o público colocou muitas e pertinentes questões. Desde o domínio científico acerca das estrelas e galáxias até outras que mergulham profundamente no domínio filosófico, tais como se a Ciência tem hoje uma resposta para a existência de Deus, ou ainda, o que existiu antes do Big Bang.
O meu amigo Fernando Carvalheiras, professor de Filosofia no Liceu de Beja, perguntou se as teorias científicas necessitavam de ser falsificáveis, numa análise epistemológica de acordo com o filósofo Popper, e está claro que Teresa Lago concorda.
Os cientistas opinam que a falsificabilidade da teoria permite distinguir o que é científico do que é dogmático. O senhor Azevedo, que foi polícia e que tem a calma de quem foi mestre em artes marciais e estudou medicina e cultura chinesas, não faltou a este evento. Assíduo nestas conferências, confessa que tem aprendido muito com elas. E perguntou qual a opinião da professora em relação aos OVNIs. Teresa Lago respondeu que a Ciência ainda não provou até hoje a existência de seres inteligentes de outros Mundos, acrescentando que há outras explicações mais plausíveis para esses fenómenos. Teresa Lago teve como prioridade, enquanto secretária-geral da UAI, a inclusão. Há que levar a Astronomia também às pessoas mais pobres e aos países mais desfavorecidos.
A educação em Astronomia em países com menos recursos e em regiões de África, da América do Sul, entre outras, foi bastante apoiada no seu mandato.
A investigação nas novas teorias da Astrofísica necessita que se gaste milhares de milhões de euros em equipamentos. E, por isso, Teresa Lago diz que é um dever a divulgação dessas investigações e informar onde se gasta o dinheiro dos contribuintes.
A professora Teresa Lago tem a opinião de que a Astronomia nos oferece uma maior consciência das nossas origens cósmicas e ajuda-nos a compreender melhor quem somos.