Diário do Alentejo

A origem dos mamíferos | Parte I

29 de setembro 2022 - 12:00
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Texto José Valente

 

O surgimento dos mamíferos foi talvez há mais de 220 milhões de anos, segundo os novos dados, no período Triássico Superior. Tinham o tamanho e aspeto de pequenos musaranhos, não abundavam em quantidade e nem havia grande variedade deles. Passavam muito do seu tempo escondidos e frequentemente caçavam de noite. No entanto haviam de se tornar os senhores do planeta a seguir ao choque do asteroide que dizimou os dinossauros há 65 milhões de anos! Eles constituem a classe Mammalia, do filo Chordata e do reino Animalia. Existem 2 grupos, os terrestres (a maioria) e os aquáticos (exemplos das baleias e golfinhos).

 

A DEINIÇÃO DE JOHN RAYEm 1693, John Ray, referido por vezes como o “pai” da história natural inglesa, apresentou uma definição de mamíferos que foi importante. Considerou-os como um grupo de animais que têm sangue, exercem a respiração por pulmões, têm o coração com 2 ventrículos e são vivíparos.

 

A DEFINIÇÃO DE CARLOS LINEU Em 1758, o famoso zoólogo, botânico e médico sueco, Carlos Lineu, apresentou o termo Mammalia para definir esse grupo de animais, mas mantém uma definição próxima da de John Ray.

 

AS CARACTERÍSTICAS DOS MAMÍFEROS CONSIDERADAS POR EUGENE RAYMOND HALL  Em 1981, o prestigiado zoólogo especialista em mamíferos Eugene Raymond Hall, ligado à Universidade de Kansas e que escreveu 340 artigos em revistas de zoologia e biologia, definiu de forma mais rigorosa e completa os mamíferos considerando a presença de glândulas mamárias que conduzem a fêmea a amamentar a cria com leite, de possuírem geralmente o corpo coberto de pelo, mas nos cetáceos o mesmo foi eliminado no processo evolutivo, existindo apenas na região do focinho dos filhotes e nos fetos.

 

Hall ainda considerou que nos mamíferos, a mandíbula é composta por um único osso e estabelece a ligação com o crânio sem a ligação com o osso quadrático, enquanto nas aves e em répteis a maxila inferior liga ao crânio por meio do mesmo. Nos mamíferos o osso quadrático deu origem ao osso bigorna que é um dos pequenos ossos do ouvido médio. Os outros ossículos do ouvido médio destes animais denominam-se martelo e estribo. O martelo teve origem no osso articular e o estribo no osso hiomandibular ao longo de milhões de anos de transformações evolutivas. É a teoria de Darwin atualizada que explica estas variações de umas espécies animais a outras.

 

Os mamíferos tal como os anfíbios têm 2 formações ósseas na base do crânio de forma oval ou aparentando rins que se designam por côndilos occipitais enquanto as aves e os répteis só apresentam um. Estas formações estão articuladas com a primeira vértebra da coluna vertebral na zona cervical e designada por atlas por sustentar o crânio.

 

Os mamíferos, tal como as aves, são de sanguequente, ao contrário dos répteis que são de sangue-frio, embora difiram das aves e também dos répteis por apresentarem diafragma e possuírem glóbulos vermelhos sem núcleo celular, uma vez que esses núcleos consumiriam muita energia. Assim há maior eficiência energética e maior eficiência no transporte de gases, com maior concentração de hemoglobina.

 

Nos mamíferos tal como nas aves e répteis crocodilianos o coração possui 4 cavidades, duas aurículas e dois ventrículos e, existem 2 circulações sanguíneas, a circulação pulmonar e a sistémica. A circulação do sangue nos mamíferos é fechada, dupla e completa. É fechada porque o sangue só corre em vasos sanguíneos (artérias, veias e capilares). Esta circulação está presente nos vertebrados e também nos anelídeos. É dupla porque o sangue passa pelo coração 2 vezes. Num circuito o sangue vai do coração aos pulmões e regressa outra vez ao coração (circulação pulmonar). No outro circuito o sangue vai do coração para o corpo todo irrigando os tecidos e regressa ao coração (circulação sistémica). É completa porque o sangue que transporta o dióxido de carbono não se mistura com o sangue que transporta o oxigénio. Esta só ocorre em animais cujo coração tem 4 cavidades.

 

Os animais desenvolvem a termorregulação através do seu metabolismo (com os alimentos) ou do calor do meio ambiente. No primeiro caso temos os mamíferos ou aves e no segundo caso temos os peixes e répteis. Existem répteis em desertos que vivem escondidos de dia para se protegerem do sol e saem para se alimentarem de noite, quando está mais fresco. Outros animais deste género, em dias frios, colocam-se ao sol para se aquecerem. Estes são animais ectotérmicos. Assim não precisam de tantos alimentos (e do intenso metabolismo), o que pode ser uma vantagem, quando os alimentos são escassos na zona onde habitam.

 

Os mamíferos são animais endotérmicos, ou seja, de sangue quente. Controlam a temperatura do seu corpo, onde a pele ajuda a manter a temperatura. Eles mantêm fixa a temperatura nem que a temperatura do meio ambiente seja mais baixa. E se a temperatura ambiental for mais elevada, os mamíferos, através das glândulas sudoríparas eliminam suor e, este, dissipa o calor por meio do fenómeno da evaporação.

 

A termorregulação dos mamíferos também pode acontecer por vasoconstrição (e contração muscular) ou vasodilatação dos vasos sanguíneos ao receberem estímulos que envolvem o hipotálamo e a hipófise, levando no primeiro caso ao aquecimento do corpo e no segundo ao seu arrefecimento. O tecido adiposo também permite o isolamento térmico e evita que se perca muito calor, para além de constituir uma reserva de energia ao armazenar lípidos, substâncias muito calóricas.

 

Os mamíferos possuem normalmente dentes que desenvolveram formas e tamanhos em função dos seus regimes alimentares.

 

E também desenvolveram os sentidos de forma a permitir eficácia nas suas atividades vitais, relação com o meio e com a sua espécie, orientação no espaço e relação consigo próprio. A visão, olfato, audição, tato e paladar estão no geral dos mamíferos muito desenvolvidos e são coordenados pelo cérebro destes que também é responsável por aprendizagem, “emoções” e memória superiores a outros grupos de animais.

 

OUTROS ASPETOS SOBRE OS MAMÍFEROS 

O tamanho dos mamíferos varia muito, desde os musaranhos que pesam poucas gramas até à baleia-azul que tem cerca de 30 metros de comprimento e pesa cerca de 50 milhões de vezes mais que os pequenos musaranhos. Os mamíferos ocupam a maioria dos ambientes terrestres desde os tórridos trópicos até às gélidas regiões polares, incluindo os mares. Atualmente, contabilizam-se mais de 5500 espécies de mamíferos.

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