Diário do Alentejo

O fantástico telescópio James Webb | Parte I

09 de agosto 2022 - 09:15
Parte I
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Texto José Valente

 

Com o lançamento do telescópio James Webb deu-se início a uma nova era na Astronomia. O telescópio espacial James Webb permitirá certamente observar as estrelas a formarem-se nas nuvens de gás e poeira cósmica, decifrar a composição das atmosferas de exoplanetas aproximando-nos das descobertas de indicadores químicos que nos permitam inferir sobre a existência de vida nesses planetas e recuar no tempo aproximando-nos do instante da criação do Universo, “poucos” milhões de anos após o big bang, e registar e estudar a formação das primeiras estrelas e galáxias.

 

O James Webb permitir-nos-á recuar mais de 13,5 mil milhões de anos como uma máquina do tempo e também acrescentar preciosa informação que contribua para responder às perguntas “Qual a origem da vida?” e “Como será o futuro da Humanidade?”. O famoso físico e futurólogo americano Michio Kaku afirmou ao jornal inglês “The Guardian” acreditar que, com o James Webb, teremos razoáveis probabilidades de entrarmos em contacto com uma civilização alienígena.

 

 

AS CARATERÍSTICAS DO SUPERTELESCÓPIOO James Webb tem 10 metros de altura e pesa 6 toneladas, cerca de metade do peso do Hubble. A sensibilidade do James Webb comparada com o Hubble é mais de 100 vezes superior. A área do espelho principal é sete vezes superior ao seu predecessor, uma vez que o diâmetro é de 6,5 m e o do outro telescópio é de 2,4 m. Este espelho é de berílio folheado a ouro! As câmaras do James Webb são sensíveis à radiação visível até ao infravermelho médio de comprimentos de onda entre 0,6 e 28,3 micrómetros, ou seja, entre 600 nanómetros e 28.300 nanómetros. O Hubble permitia “ver” no ultravioleta curto entre 300 e 400 nanómetros, a luz visível e um pouco do infravermelho curto à volta de 1 micrómetro (1000 nanómetros). Desta forma o James Webb permitirá observar objetos astronómicos que são demasiado velhos e distantes para que o Hubble os pudesse “ver”.

 

 

AS PRIMEIRAS IMAGENSEm 11 e 12 de Julho de 2022 a NASA mostrou as 5 primeiras imagens do James Webb. A primeira imagem teve um profundo comentário do presidente Joe Biden. Segundo as palavras de Carlos Fiolhais num podcast do “Observador” houve uma certa propaganda aproveitada pelo governo dos EUA, mas de facto foi um pequeno marco para toda a humanidade. Tratou-se de uma imagem de campo profundo onde se vê o aglomerado de galáxias SMACS 0723 tal como ele era há 4,6 mil milhões de anos. Segundo a entrevista do “Observador” a Carlos Fiolhais este afirma que essas galáxias não desapareceram desde então, mas certamente que se alteraram muito.

 

Na foto vêem-se centenas de galáxias e é de notar que cada uma delas contém milhares de milhões de estrelas.A imagem revelou algumas galáxias nunca vistas e efeitos de lentes gravitacionais, bem como estrelas da Via Láctea com elevada nitidez.As outras 4 imagens foram da Nebulosa de Carina a 7,6 mil anos-luz que é uma região de formação de estrelas, do Quinteto de Stephan que é um grupo de 5 galáxias a cerca de 290 milhões de anos-luz (vários astrónomos que vieram dar conferências na Biblioteca Municipal de Beja têm fotos maravilhosas deste grupo de galáxias, mas quando viram a foto do James Webb devem ter pensado em desistir de voltar a fotografá-lo), da nebulosa do Anel Sul (NGC 3132) situada a 2000 anos-luz que é como se estivéssemos a olhar para o nosso Sol viajando para o futuro 5 mil milhões de anos quando ele explodir e dar origem a uma nebulosa planetária de gás e poeira como esta e o espetro do exoplanetas Wasp 76 b.

 

As fotos tiradas não foram escolhidas ao acaso pela equipa de James Webb, mas escolhidas criteriosamente. Estas imagens que já eram de grande nitidez quando tiradas pelo Hubble, ao fazerem na Internet a comparação com as do James Webb deixaram-me de boca aberta, estupefacto. Incrível! Através do instrumento gerador de imagens no infravermelho próximo e do espetrógrafo sem fendas NIRISS do telescópio foi possível descobrir vapor de água na atmosfera do exoplaneta Wasp 76 b com uma precisão nunca conseguida até aqui. Isto é um bom princípio para o estudo pormenorizado das atmosferas de milhares de planetas fora do Sistema Solar e descobrir as suas composições químicas. Uma nova foto do James Webb mostra a galáxia Roda de Carro a 500 milhões de anos-luz de nós e que tem esse nome devido a assemelhar-se precisamente à roda de um automóvel. Essa forma curiosa dever-se-ia, segundo a NASA, ao choque de uma galáxia maior espiral (como a nossa Via Láctea) com uma galáxia menor há muitos milhões de anos.

 

Uma imagem tirada no infravermelho, pelo James Webb, de Júpiter, permite ver o muito ténue sistema de anéis deste planeta. Stefanie Milam, uma das chefes do projeto James Webb no Goddard Space Flight Center, da NASA, afirmou à revista Forbes que não podia acreditar em ver os anéis tão claramente e tão brilhantes tendo ficada emocionada. Houve uma das imagens tiradas em que após o seu estudo um cientista da NASA afirmou que talvez o James Webb já tenha detetado a sua primeira supernova. Falta, no entanto, a confirmação. E tudo isto é interessante.

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