«Sacanas das formigas.»
Pensou ela ao ver, refeito, aquele monte de terra no quintal. No dia anterior, com a mangueira deitou-lhe água, muita água, na esperança de conseguir acabar com tal praga. Mas hoje, lá estava ele, de novo. Talvez ainda maior. E, à sua volta, trilhos de formigas carregando folhinhas para o interior do ninho. Exclamou, irritada:
«Bichinhos insistentes!»
Mais uma vez, de mangueira em punho, despejou água na ânsia de se libertar das formigas. Enquanto o monte desabava, reparou que muitas eram arrastadas pela terra e pela água, o que significava morte certa. Outras, buscavam refúgio no ninho juntando-se, sem dúvida, a outras mais, protegidas sob os túneis do formigueiro…
Abruptamente, parou de deitar água. Aguardou, expectante. Logo começou a movimentação: adaptando-se à nova realidade, as formigas sobreviventes à avalanche retomavam as suas posições, preparando-se para dar continuidade ao trabalho.
«Como é possível insectos tão pequeninos, tão frágeis, serem ao mesmo tempo tão persistentes, tão obstinados? Mas não levam a melhor!»
Dirigiu-se para a casa e, já na cozinha, agarrou num frasco grande, onde misturou muito bem detergente com água. De volta, deitou o líquido em cima do que restava do monte de terra. Também borrifou os trilhos que conseguiu identificar. Pensou:
«Espero que deste modo o problema fique resolvido e não seja necessário recorrer a artilharia mais pesada. Mas se tiver de ser, será! Formigas aqui, não!»
Mais serena, encaminhou-se de novo para a casa. Desconhecia que, no meio da matança, por mero acaso, a formiga rainha havia sobrevivido. Num outro lugar do quintal, igualmente propício, já estava a ser cavado um túnel do qual ela não sairá. A não ser em situações muito peculiares, em que seja forçada a isso. Como esta, que agora se colocou.
E assim, prontamente, tudo irá recomeçar!