Texto José Valente
Matemáticos e engenheiros da Universidade norte-americana de Utah usaram ultra-sons num método inovador para mover e dispor partículas minúsculas em arranjos semelhantes aos dos cristais, mas que nunca se repetem, como acontece nos quasicristais. Os ultra-sons foram aplicados com altifalantes devidamente posicionados. A descoberta publicou-se na prestigiada revista Physical Review Letters. Um dos autores do estudo é Fernando Guevara Vasquez, professor associado de Matemática dessa universidade.
Os quasicristais têm propriedades físicas diferentes dos cristais ao nível da rigidez, condução elétrica ou outras. Algumas dessas propriedades elétricas e magnéticas não se encontram em outros materiais. Suspeitam-se de algumas possíveis aplicações, mas há-de haver muito mais aplicações que hoje ainda se desconhecem.
Os arranjos atómicos dos quasicristais não se repetem nunca. Os quasicristais descobertos em 1982 pelo israelita Dan Shechtman possibilitaram-lhe ganhar o prémio Nobel em 2011. Os quasicristais são tão extraordinários que houve cientistas a propor a sua origem extraterrestre. O método desenvolvido poderá vir a contribuir para criar materiais dos quais poderão advir futuras aplicações úteis.
O “Diário do Alentejo” falou com Fernando Guevara Vasquez.
O seu trabalho tem por base a ideia de padrões. Dê-me um exemplo?
Um tabuleiro de xadrez pode-se fabricar a partir de secções idênticas de 4 casas, duas brancas e duas negras.
Em que materiais ocorrem esses padrões?
Este tipo de estruturas periódicas ocorre naturalmente nos cristais. Por exemplo um cristal de sal da cozinha é composto de cubos que contém igual número de iões de cloro e de sódio, e pode-se obter todo o cristal copiando estes cubos.
E qual a diferença nos quasicristais?
Um quasicristal é um material que parece periódico, mas nele é impossível encontrar um padrão que se repita.
O que é que vocês descobriram?
Eu e a minha equipa encontramos uma forma de usar ondas acústicas para guiar partículas suspensas num líquido de maneira que formam padrões que não se repetem, reproduzindo simetrias de quasicristais existentes (incluindo uma parecida ao ladrilho de Penrose).
Qual a importância da vossa descoberta?
Esta nova técnica e teoria pode permitir o fabrico de quasicristais com propriedades físicas muito diferentes às dos cristais.