Texto António Catarino
Por esse Portugal fora, há destinos improváveis, em termos gastronómicos, que parecem revestidos de um magnetismo que atrai os verdadeiros apreciadores desta ou daquela iguaria, do pitéu mais exclusivo ou do prato feito especialidade. De norte a sul de um país tão rico, quanto diversificado em matéria eno-gastronómica, não faltam pequenos lugares, casas remotas, sítios incríveis onde a boa cozinha é um farol de autenticidade e um convite a prazenteiras refeições.
Nos subúrbios de Beja, o lugar de Porto Peles, mesmo ao lado das Neves, é um desses sítios únicos, onde a restauração colocou a pequena localidade no mapa dos apreciadores da boa mesa. A estrada é estreita e o trajeto curto, a partir da Estrada Nacional 260, que liga Beja a Serpa e a Espanha; mais cautelas para poupar a mecânica exige o percurso por Vila Azedo. Reina a tranquilidade em Porto Peles, só interrompida pela chegada, à hora das refeições, das viaturas dos clientes dos dois restaurantes que colocam aquele lugar como destino gastronómico preferido de muitos bejenses.
A Taberna do Cesário é um desses restaurantes que transmite animação, em certas horas do dia, ao aglomerado de casas brancas da pequena aldeia que parece adormecida.
O restaurante estende-se por um espaço vasto, ao lado do café tradicional. Uma sala comprida e outra mais pequena, divididas por um balcão, acomodam número alargado de comensais. Apesar da apreciável capacidade, a lotação está quase sempre esgotada. A razão é simples: a comida de conforto, bem confecionada e muito saborosa é particularmente apreciada. Razões de sobra para que a casa ganhasse fama pela cozinha esmerada, feita à base de matéria-prima de qualidade. Resultado: não falta clientela para saborear pitéus a preços em conta.
O restaurante é simples e despretensioso, dominam os tons claros de azul em fundo branco. A ementa escrita a giz numa lousa está em visível. Há dois pratos diários fixos: o famoso cozido de grão, uma das especialidades da casa e que atrai número elevado de apreciadores; e o bacalhau gratinado. A escolha recaiu, todavia, nas lulinhas à algarvia, que se apresentaram garbosas, muito tenras, a revelarem bom tratamento culinário. A outra opção – carne no tachinho – resultou em satisfação total. Excelente tempero, carne muito macia cortada em pequenos pedaços, com os picles a darem um excelente sabor a todo o conjunto. Entre as propostas que, habitualmente, constam da lista diária, destaque para a caldeirada de raia; feijoada de chocos; sopa de cação; carne do alguidar com migas; cozido de couve; ensopado de borrego; coelho frito; cabidela; pernil no forno.
Para rematar, uma deliciosa mousse de amendoim. Garrafeira suficiente. O serviço está bem organizado; prima pela simpatia e eficácia e contribui desse modo para o sucesso da Taberna do Cesário, onde a relação preço-qualidade é francamente aliciante.