Texto António Catarino
Na plenitude da primavera, o Alentejo é uma das regiões onde o esplendor campestre se revela com o chilrear da passarada e o colorido da planura. A água já não é miragem nas terras onde o sol é implacável e Alqueva não é o único espelho de água não se circunscrevem ao grande lago de Alqueva.
Em Mora, no Alto Alentejo, o Fluviário, bem enquadrado, é ponto merecedor de visita, encontrando paralelo em termos gastronómicos, no restaurante O Afonso.
É um estabelecimento emblemático daquela vila e que teve uma história de amor, idêntica a tantas outras, como ponto de partida para outros voos. Ao longo dos anos – já lá vão 68 –, granjeou fama com o sucesso imprimido pelo trabalho da família, que vai já na terceira geração. Do velho café, hoje modernizado, no centro da vila, expandiu-se, há mais de uma década, para um espaço contíguo, de aspeto rústico, muito confortável, com arcadas em tijolo. As mesas, bem aparelhadas, refletem o cuidado colocado nos pormenores.
A ementa permaneceu fiel aos princípios da boa cozinha transtagana, tal como a qualidade: Os preços subiram, é certo, mas a notoriedade, por vezes, tem um preço. O capítulo de entradas é, no mínimo, tentador; ovinhos de codorniz com azeite e coentros; orelha de porco; queijinhos; paio e e presunto de excelente qualidade e as imperdíveis empadas, uma especialidade com fama comprovada.
A cozinha alentejana é ali tratada com carinho e rigor: boas matérias-primas e confeção apurada, seja na deliciosa sopa de cação ou nos pezinhos de coentrada e no achigã grelhado. Em dias mais fresquinhos, as migas ganham outro estatuto: com espargos, de tomate ou gatas com carne de alguidar.
Na época da caça, a ementa ganha, igualmente, outro fulgor e suscita procura alargada. Para além do arroz de lebre, referência especial para o pombo bravo e para a perdiz à D. Bia, receitas que consagram os dotes culinários e a dedicação de quem, pelas suas mãos e saber culinário, transformou um estabelecimento de café, famoso pelos petiscos, em restaurante de projeção nacional.
Para terminar em beleza, o famoso queijinho de Mora, sobremesa imperdível deste restaurante com excelente garrafeira e serviço atencioso.
O Afonso, em Mora, continua fiel aos princípios.