Diário do Alentejo

Á Mesa: Em Castelo de Vide com nome de rei

11 de fevereiro 2022 - 14:43

Texto António Catarino

 

A vila de Castelo de Vide, uma das mais apaixonantes de Portugal, é terra de vasto património e boas águas, que brotam de inúmeras fontes, algumas delas monumentais. A permanente sensação de frescura é tal, que gerou, em tempos, o epíteto de Sintra do Alentejo à vila cujo alvo casario se estende até à muralha do castelo.

 

As ruas íngremes parecem tocar o céu e o verde da paisagem envolvente gera ambiente de retemperadora tranquilidade, propício a visitas à Judiaria e à antiga sinagoga, marcas fortes da comunidade judaica; ao castelo e à igreja da Sr.ª da Pena, deslumbrante miradouro sobranceiro à vila onde nasceu Salgueiro Maia.

 

Na praça principal, onde se ergue a igreja de Santa Maria da Devesa, um dos mais altos templos do Alentejo, não passa despercebida uma estátua em mármore, erigida ao monarca que inspirou nome de restaurante local: D. Pedro V.

 

Um corredor leva-nos até à sala do restaurante, de teto em abóbada, um tipo de construção típica do Alentejo. O espaço já teve outras utilizações, tão curiosas, quanto distintas: no século XVII foi convento de freiras, depois cavalariça e, nas últimas décadas, a restauração transfigurou e modernizou, por completo, a velha construção.

 

Decoração simples, amesendação normal. A ementa apresenta pratos regionais, a começar pela sopa de cação, também particularmente apreciada pelos vizinhos espanhóis, que acorrem em bom número ao fim de semana.

 

Pezinhos de coentrada, particularmente saborosos; migas de espargos ou de batata, estas mais caraterísticas do Alto Alentejo, com entrecosto, chouriço e farinheira; e o ensopado de borrego, elaborado com carne certificada do Alentejo, alargam o leque de propostas de sabor mais regional.

 

Os pratos de caça – arroz e feijoada de lebre – na época, e muito em especial veado estufado com castanhas integram outro dos mais apreciados capítulos da lista, em que há, pelo menos uma proposta de cunho judaico: o cabrito de cachafrito, frito em azeite com vinho branco, sem levar água, revela de algum modo essa marca histórica de Castelo de Vide. Outro pitéu típico desta região é o sarapatel, confecionado à base dos miúdos de borrego ou de cabrito.

A ementa não evidencia apenas a cozinha regional: o cozido à portuguesa é outro dos exlibris da casa.

 

No capítulo de sobremesas, destacam-se a sugestiva tarte Aramenha de castanha; encharcada de nozes e o aldrabado de castanhas, à base de gila, erva-doce, açúcar ovos e, claro, castanha. A receita era da antiga proprietária e foi, entretanto, recuperada pelos novos donos deste restaurante com garrafeira em que predominam as referências alentejanas.

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