Diário do Alentejo

Um velho lagar onde apetece estar tempo Sem Fim

22 de julho 2021 - 14:55

Texto António Catarino

 

O cabeço acastelado de Monsaraz vislumbra-se lá no alto, entre sobreiros e vinhedos, qual farol protetor dos barcos que sulcam as calmas águas da albufeira da barragem de Alqueva, um lago que alterou, de modo radical, uma parcela muito vasta da região alentejana.

 

O encanto da paisagem manteve-se e ganhou novas cores, que podem juntar-se às da olaria local, com forte tradição em S. Pedro do Corval, a meio caminho entre Reguengos e Telheiro.

 

Nesta povoação, no sopé do morro de onde a altiva Monsaraz domina léguas ao derredor, um velho lagar de azeite foi adaptado por um intrépido velejador holandês, que se apaixonou pelo Alentejo e pelas suas gentes. Fruto de uma história de amor, nasceu há mais de duas décadas o restaurante Sem Fim.

 

O espaço de arqueologia industrial manteve-se, perpetuando a memória do local, animado com manifestações no domínio das artes plásticas. Uma simbiose curiosa e que empresta um ambiente peculiar, algo cosmopolita, a este restaurante onde as entradas - queijinhos frescos; espargos salteados; cenouras marinadas; fumados com puré de maçã; presunto ou espinafres com camarão - combinam tradição e contemporaneidade, graças a um toque diferenciador.

 

As propostas diárias deste restaurante, que vai já na segunda geração, podem incluir bacalhau à Sem Fim com saladinha da horta e lúcio perca frito com migas de poejo. A ementa é, no entanto, quase tão vasta, quanto a imensidão dos campos que bordejam o lado artificial de Alqueva.

 

Na lista figura a muito alentejana açorda de alho com bacalhau e ovo escalfado e, no mesmo capítulo – açordas – estão englobadas as tradicionais sopas de cação, de beldroegas, de espinafres com bacalhau e de tomate.

 

Entre os pratos de peixe, referem-se o bacalhau de azeite alhado; polvo salteado com batatinhas novas; filetes de pescada com migas de espinafres; cação frito com migas de ovas e filetes de sardinha acompanhados com migas de coentros.

 

Nos dias de calor mais intenso, não falta o refrescante gaspacho com pataniscas, uma alternativa menos calórica.

 

A sopa da panela não podia faltar neste cardápio alentejano, emparceirando com a açorda de alho com bacalhau. Mas há mais sopas tradicionais: de tomate com ovos; de beldroegas e de cação.

 

Nas carnes, destaca-se o borrego assado no forno com canela, mas há outras propostas: porco no forno com puré de maçã; poejada de coelho; costeletas de borreguinho com batatinhas de rebolão; trouxas de carne com molho de cogumelos; ensopado de borrego e grelhados no carvão com migas de espinafres.

 

Para saída em beleza, a icónica sericá com ameixa de Elvas, que, todavia, não esgota a oferta doceira: farófias; migas doces; arroz doce e bolo de requeijão.

 

Boa garrafeira, com os vinhos alentejanos em maioria, neste restaurante em que alguns pratos da cozinha tradicional alentejana surgem, de algum modo, recriados. Para saborear a olhar Monsaraz e onde apetece estar tempo Sem Fim.

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