Diário do Alentejo

No Canto do Rossio a olhar Vasco da Gama

09 de julho 2021 - 15:30

Texto António Catarino

 

A estátua de Vasco da Gama, o vice-rei da Índia nomeado 1.º conde da Vidigueira em 1519, é a figura central da sala de visitas da vila onde o navegador viveu e esteve sepultado, a seu pedido, no antigo convento de Nossa Senhora das Relíquias do Carmo, hoje Quinta do Carmo. Desde 1970, ano do 500.º aniversário do nascimento do descobridor do caminho marítimo para a Índia, que o trabalho escultórico da autoria do também alentejano Hélder Baptista é a referência da praça Vasco da Gama, Um espaço vasto onde o Canto do Rossio faz jus ao estatuto de referência em termos gastronómicos. É a nova aposta da chefe Paula Caetano e de António José Roxo, mais de duas décadas volvidas desde os tempos do emblemático Vila Velha.

 

Com vasta experiência no setor da restauração, consolidada pela liderança das operações num enoturismo das redondezas e numa taberna modernaça, mas de base tradicional, colocaram ponto final em período sabático e voltaram à atividade.

 

Em dezembro de 2019, poucos meses antes da pandemia trocar as voltas ao mundo, abriu o Canto do Rossio, um alindado edifício com dupla valência: alojamento e restauração. Neste espaço, marcado pelo bom gosto e grau de conforto, onde se acomodam duas dezenas de comensais, as fotos nas paredes e alguns utensílios agrícolas merecem um olhar mais atento e trazem à memória o Alentejo de outrora.

 

A cozinha, onde a chefe Paula oficia com muito saber e paixão, está bem à vista, logo atrás do balcão onde se perfilam garrafas e caixas de vinho, quase exclusivamente de produtores alentejanos. Uma mesa corrida, em madeira, mais alta e com bancos adequados, estimula a partilha petisqueira e a convivialidade. No exterior, a esplanada é uma mais-valia e permite, com meia dúzia de mesas, aumentar a oferta em termos de lugares.

 

A lista engloba três capítulos, que revelam essência alentejana: petiscos, açordas e carne. Ao jeito de introito, pão e azeitonas, enquanto a decisão não ganha forma em relação a algo mais substancial. Para petiscar, sobejam propostas: paio de porco preto; queijo fresco (cabra) ou curado (ovelha); brás-de-farinheira; ovos rotos ou com espargos; saltimboca (vitela e presunto) e bolinhas recheadas com gambas.

 

Para duas pessoas, há um par de opções de açordas: de espinafres com bacalhau, queijos e ovos ou de alho com bacalhau, a mais tradicional.

 

No capítulo de carnes, a escolha recaiu no pica-pau de vitela, que chega à mesa num tacho: carne de vitela, muito tenra e saborosa, bem temperada com alho, e um molho, bem apurado, a estimular a gula. O apreciado ‘tomahawk’, bem como a vitela na telha e a tábua de carne (vitela e porco preto) são opções para dois comensais. Naco de vitela com orégãos; bife de vitela ou de porco com molho de leite; costeletas de borrego (fritas ou grelhadas); tiras de porco preto na grelha e lombinhos de porco com coentros completam as propostas.

 

Nas opções diárias, sempre variáveis, podem surgir migas de tomate com cação frito; lombinhos de porco com mel e mostarda; peito de pato com laranja; feijão com lingueirão e gambas; ossobuco estufado; migas de farinheira com lombinhos de porco; cozido de grão; açorda de beldroegas com bacalhau ou o refrescante gaspacho com carapaus fritos.

 

No capítulo doceiro, destacam-se os três sabores -- amêndoa, figo e alfarroba; travesseiros; sericaia com ameixa de Elvas; gelado de suspiro; noite e dia; bolo pudim de laranja e requeijão com doce de abóbora

 

Carta de vinhos alentejanos de muito bom nível.

 

Serviço eficaz e marcado pela simpatia neste Canto do Rossio, onde a cozinha é poderoso trunfo: de lá saem petiscos e pratos com sabor a Alentejo.

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