Diário do Alentejo

Uma pausa na Estalagem para confortar o estômago

30 de junho 2021 - 12:20

Texto António Catarino

 

Na vila de Arronches, uma velha estalagem foi transformada, há quase um quarto de século, em restaurante. A gastronomia regional, rica em sabores, é a imagem da casa, onde sabe bem fazer uma pausa na visita à vila conquistada em 1166 por D. Afonso Henriques e que só voltou, em definitivo, para a coroa portuguesa graças à reconquista levada a cabo por D. Paio Peres Correia, no reinado de D. Sancho II. Corria o ano de 1235.

 

Do castelo de então, bastião da defesa fronteiriça durante a Idade Média, resta pouco mais que uma das torres. O terramoto de 1755 causou estragos irreversíveis, mas nesta vila do distrito de Portalegre, vizinha de Elvas e de Campo Maior, destacam-se duas construções seiscentistas: a Igreja Matriz e o edifício dos Paços do Concelho.

 

Na Rua da Porta Nova, uma das entradas da terra, existiu, em tempos, um estabelecimento de dormidas para aos viajantes que percorriam a região, deslocando-se em veículos de tração animal. Hoje, A Estalagem é um restaurante que deu vida nova – já lá vai um quarto de século – ao espaço onde pernoitavam homens e animais. Uma casa de traça alentejana, cujo interior reflete, na harmoniosa decoração à base de objetos e utensílios agrícolas, a ruralidade de uma região que, no outono ou na primavera, é uma paleta de cores.

 

O ambiente é confortável, com toalhas aos quadrados em tecido a cobrirem as mesas; cadeiras em madeira e uma garrafeira que é parte integrante da decoração.

 

A cozinha alentejana, esplendorosa pela simplicidade que provoca uma explosão de sabores, é a imagem deste restaurante onde as sopas alentejanas – de tomate ou de cação, verdadeiramente saborosas – ocupam lugar destacado. A tradicional açorda e o refrescante gaspacho, ideal para saborear no tempo quente, completam este capítulo da ementa marcada pela alentejanidade das propostas.

 

A espetada de carne de porco ibérico, as plumas e os secretos têm lugar cativo na lista, em que também surgem as migas, de pão, as mais tradicionais, ou de batata. Pezinhos de porco de coentrada; lacão assado no forno; feijão branco com cabeça de porco são pratos com sabor bem alentejano, que refletem a riqueza da gastronomia das terras do sul. Pitéu muito apreciado nesta região, os túbaros (ou testículos) de porco, confecionados em fricassé, podem figurar na ementa, em que não faltam as apreciadas bochechas estufadas.

 

O bacalhau dourado, uma versão regional do tradicional "à Brás", que ganhou fama ali bem perto, é alternativa ao domínio dos pratos de carne.

 

Nas sobremesas, há migas doces; sericaia e tarte de mel e nozes. Garrafeira de nível apreciável, com natural predominância dos vinhos alentejanos. Serviço simpático neste acolhedor reduto que é A Estalagem, onde a gastronomia alentejana ajuda a retemperar o corpo e o espírito.

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