Diário do Alentejo

À Mesa: Pátio montemorense com petiscos e muito mais

11 de junho 2021 - 12:05

Texto António Catarino

 

Em Montemor-o-Novo há um pátio onde os petiscos fazem jus ao nome, mas a casa ostenta estatuto de reconhecida qualidade, pela excelência da cozinha, qualidade das matérias-primas e serviço. É na Rua de Curvo Semedo, nas imediações da antiga estação ferroviária, que deparamos com o restaurante Pátio dos Petiscos.

 

A toponímia local prestou assim homenagem a um dos ilustres filhos da cidade e que foi um dos fundadores da Nova Arcádia, movimento literário que nasceu nos finais do século XVIII.

 

Montemorense ilustre, poeta, com o pseudónimo de Belmiro Transtagano, conhecido pelas polémicas com Bocage, foi cavaleiro da Ordem de Cristo e fidalgo da Casa Real e deu nome ao cine teatro local, projetado por Raul Lino e inaugurado em 1960.

 

Naquela rua, o restaurante quase passa despercebido, não fosse a barrica colocada entre as duas portas envidraçadas. Todavia, o interior desdobra-se em vários espaços, com travejamento em madeira, paredes em tijolo, chão em ladrilho avermelhado. Mesas espaçadas.

 

Ambiente confortável e decoração aprimorada, com apontamentos rústicos a emprestarem uma atmosfera mais regional a este restaurante onde a matéria-prima, em particular a carne, é de qualidade e bem trabalhada.

 

A tradição dos petiscos, até para justificar o nome da casa dirigida por Francisco Malhão há mais de uma década, está bem presente e o rol é tão vasto, quanto aliciante: carne maturada com batata frita caseira; ovinhos de codorniz escalfados à Pátio; cogumelos biológicos com alho e coentros; queijo chèvre gratinado com base de maçã em molho de mel e vinho do Porto; moelinhas fritas ao alhinho; perninhas de codorniz fritas em vinha de alho.

 

O primeiro impacto é desde logo, muito positivo, o que permite encarar com entusiasmo a fase seguinte, em que atingiu o patamar da fama a carne de borrego da raça ‘suffolk’, originária da Grã-Bretanha: perna de borrego na grelha a baixa temperatura, trinchada no momento, acompanhada com batata à padeiro e salada mista.

 

A carne maturada, de origem nacional, na grelha é hoje em dia um dos pontos fortes da ementa, a par de outras sugestivas opões, como é o caso das tiras de choco frito, acompanhados com gambas, uma originalidade deste restaurante. Com idêntico estatuto criativo perfilam-se os lombinhos de porco alentejano. Carne saborosa, de reco alimentado a bolota, recheada com queijo e fiambre/presunto e com acompanhamento trivial: batata frita, arroz e salada.

 

Noutra onda, o designado “mar e terra do xico’’, nada mais que carne da vazia maturada com lagosta e camarões grelhados, acompanhado com migas de espargos. O ensopado de borrego com pão alentejano frito, para duas pessoas, e a sopa de cação reforçam o lado mais tradicional da lista.

 

Ao tempo da visita, brilharam as tradicionais bochechas de porco – carne a desfazer-se na boca – com migas de tomate e cebolinho em molho balsâmico, particularmente gostoso. Outras alternativas variavam entre o bacalhau confitado com açorda de amêijoas ou panado com legumes grelhados e batata a murro.

 

Sobremesas regionais – doces conventuais e sericaia com ameixa de Elvas – bem confecionadas. Carta de vinhos de muito bom nível. Serviço competente e atencioso neste pátio alentejano onde dos petiscos aos pratos principais há qualidade e saber culinário.

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