O município de Montemor-o-Novo é um dos 30 atravessados pela Estrada Nacional 2, a “mítica” estrada que emparceira com a norte-americana Route 66 e com a argentina Ruta 40 no pódio das mais extensas do planeta. É a maior da Europa, com 738,5 quilómetros de extensão, e foi classificada, em 1945, com o atual estatuto. Viajar por esta rodovia é ter um retrato tão amargo quanto real do Portugal esquecido, despovoado e desertificado, à conta de sucessivos holocaustos florestais.
A dinamização turística vai ganhando expressão, apesar do enorme potencial desta via, aqui e ali – pasme-se! – desclassificada para regional e que atinge o quilómetro 500 no atravessamento da localidade de Ciborro, naquele concelho alentejano. A povoação, outrora Vila Nova de Valenças, por estar situada neste condado, cresceu após o início do século XX, ao longo de uma estrada, inicialmente de terra batida, depois em empedrado e, finalmente, em asfalto. O marco do quilómetro 500 e breve notícia histórica assinalam esse ponto de referência frente ao restaurante e ‘snack-bar’ O Ciborro, aberto desde 1982.
A referência – americanizada na forma e na língua – à EN 2 – “historic route” – está bem evidente e cativa a atenção de quem por ali passa, em especial grupos de ‘motards’. Fotos e dedicatórias recordam, nas paredes, momentos de uma viagem plena de simbolismo e que ganhou mais adeptos nos últimos tempos.
A casa é simples, sem nada de cativante a prender a atenção em termos decorativos. A entrada faz-se pelo estabelecimento de café: uma sala à esquerda de quem entra; em frente, um balcão com lugares para refeições mais rápidas.
No piso inferior, uma sala para 30 pessoas, com duas janelas que permitem vislumbrar a paisagem campestre. Lambris em pedra e chão em ladrilho. Nada de luxos – caixas de madeira com garrafas de vinho como elemento decorativo; um prato em barro a dar toque mais rústico à decoração básica. Mobiliário simples. Toalhas em pano aos quadrados cobertas por papel.
A lista está na razão inversa da extensão da Estrada Nacional 2: é curta, mas bem alentejana. Pão, azeitonas, queijo e linguiça formam quarteto ideal para o palato, enquanto na cozinha, mesmo ao lado, o borrego à moda da Dona Ermelinda estava quase a ser servido. O assado no forno revelou-se um pitéu exuberante, pelo sabor e tempero da carne, suculenta e macia, a despegar-se totalmente do osso com um toque suave.
A carne de borrego, confecionada por mãos sabedoras, tem um sabor único no Alentejo, onde os temperos e tempo de assadura são o segredo que D. Ermelinda revela com um sorriso. Outra especialidade deste pequeno restaurante é o bacalhau à infante: frito, leva coentros e é regado com azeite alentejano de qualidade.
Propostas banais na ementa – bife da vazia de vitela e lombo de porco grelhado. Mediante encomenda, é possível apreciar outros pratos da gastronomia regional em toda a essência: limado de cação; migas à alentejana; ensopado de borrego e até feijoada.
Sobremesas banais neste restaurante marcado pela simplicidade e onde os vinhos alentejanos preenchem a garrafeira quase em exclusividade. Serviço simpático.