Diário do Alentejo

Crónica de Né Esparteiro: “Munique”

09 de março 2021 - 14:45

Em setembro de 1938 decorre em Munique uma reunião de líderes – Hitler, Chamberlain, Daladier, Mussolini – que vai decidir sobre o futuro próximo da Europa e do mundo: a guerra vai deflagrar? A Alemanha invade a Checoslováquia ou os outros três países permitem que Hitler reclame o território dos sudetas, na Checoslováquia e o anexe à Alemanha? E, se essa permissão existir, a guerra na Europa será realmente evitada?

 

Numa tentativa de conservar a paz, ainda tão poucos anos após o fim da 1.ª Guerra Mundial – tinham passado apenas 20 anos! – Chamberlain, o primeiro-ministro inglês, decide deslocar-se a Munique, juntamente com Daladier, o seu homólogo francês, e com o fascista Mussolini, o ‘duce’ da Itália, e reunir-se com o ‘führer’, no intuito de conseguir um acordo que promova a paz, tão desejada pelos povos.

 

Mas será que Hitler partilha esse mesmo desejo? Hitler está determinado a iniciar uma guerra para expandir o território da Alemanha, conforme se comprova através de documentos secretos que dois jovens amigos tentam fazer chegar a Chamberlain. Estes ex-alunos de Oxford, um alemão e o outro inglês, veem-se em lados opostos do conflito. E o alemão reflete: “-Foi isto que eu aprendi… e que é oposto ao que se ensina em Oxford: o poder da não razão. Toda a gente dizia … ‘Oh, é um tipo horrível, este Hitler, mas nem tudo nele é mau. Vejam o que já conseguiu. Se ignorarmos este lado medonho contra os judeus… até passa’. – Mas a questão é que não vai passar… e se o antissemitismo é maligno, tudo o resto é maligno também”.

 

O autor, o inglês Robert Harris, neste romance histórico “Munique”, conduz-nos através dos meandros da política inglesa e alemã, nestes tempos determinantes antes do deflagrar da 2.ª Guerra Mundial. A guerra não teve início nesses dias de setembro de 1938, mas a força persuasora de Hitler fez rebentar o conflito, menos de um ano depois dessa reunião de líderes em Munique.

 

Vivemos, hoje, tempos conturbados, em que a pandemia parece ter tomado conta das nossas vidas e da nossa liberdade, mas em que outro tipo de ameaças à liberdade deve merecer a nossa maior atenção: nos EUA, um presidente colocou em risco a democracia, na Catalunha um partido de extrema-direita ganhou pela primeira vez assento parlamentar, em Portugal, pela primeira vez desde o 25 de abril, um partido de extrema-direita ganha fôlego através do seu líder. E, recordemos, todas as ameaças aos regimes democráticos começaram com o apoio das massas a líderes carismáticos, que só mais tarde manifestaram os seus reais desígnios.

 

Deixo uma frase de um historiador, F.W. Maitland, que Robert Harris citou no início do livro: “Devíamos ter sempre presente que aquilo que hoje é passado, já foi um dia futuro”.

 

Fiquem em casa e boas leituras!

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