Diário do Alentejo

À Mesa: O Leilão na feira de Montemor-o-Novo

22 de fevereiro 2021 - 15:30

Texto António Catarino

 

“Vila Notável” por decreto de el-rei D. Sebastião; elevada a cidade há mais de três décadas, Montemor-o-Novo tem como ‘ex-libris’ o castelo, palco de vários acontecimentos históricos, nomeadamente dos conselhos gerais de 1496. No decorrer dessa reunião magna, D. Manuel I tomou a decisão histórica de incumbir Vasco da Gama de traçar o plano – ali mesmo concluído – para descobrir o caminho marítimo para a Índia.

 

Do alto da colina vislumbra-se, olhando para leste, o recinto palco da Feira da Luz/Expomor, onde se destaca o conjunto de construções que é sede da Apormor, a Associação dos Produtores de Bovinos, Ovinos e Caprinos da região, fundada em 1990. Um complexo, palco de um dos leilões pecuários de maior sucesso da região sul, situado muito perto da rotunda de acesso às estradas de Arraiolos (N 4) e de Évora (N 114) e à autoestrada A6.

 

O Leilão é, precisamente, o nome do restaurante que ocupa uma das alas do edifício principal. Para estacionar, sobeja espaço, o que é vantagem traduzida em rapidez e comodidade. Sob o alpendre, várias mesas que são boa opção nos dias ensolarados e quentes. No interior, a sala principal é acolhedora – há um espaço mais exíguo e reservado à direita de quem entra – destacando-se o telheiro que cobre o balcão. Piso em ladrilho, decoração à base de objetos e utensílios agrícolas, que conferem um ambiente bastante rústico ao espaço.

 

Mesas com toalhas cobertas por papel e sobre as quais são colocados um cestinho com o tradicional pão alentejano, azeitonas e um saboroso queijo de ovelha. As entradas são muitas e com cariz regional, aliás de acordo com a cozinha deste restaurante. Uma infinidade de opções para entreter o palato, antes dos pratos de maior resistência, começa por embaraçar a escolha: presunto de porco preto; febras de coentrada; palaio; morcela frita; cogumelos; ovos com espargos ou com farinheira; salada de ovas ou de grão; pimentos assados.

 

A carne de vitela do montado preenche um vasto capítulo – bifes, espetada, medalhões – mas também há costeletas de borrego de Montemor. O porco alentejano, criado no montado, surge em várias opções – secretos, lombinho, lagartinhos, entrecosto – e ainda plumas. Uma boa opção na visita efetuada: carne particularmente saborosa, muita tenra, suculenta, grelhada no ponto. As migas de espargos revelaram-se saboroso acompanhamento.

 

Outra escolha em cheio: favas, com enchidos e salada de alface. Uma dose generosa, servida em caçarola de barro, a revelar excelente culinária. Sublime! Por encomenda e para duas pessoas (mínimo), há borrego ou cabrito assado no forno e galinha do campo de cabidela. Para dois comensais é, igualmente, a açorda de perdiz, muito apreciada, tal como o opíparo cozido à portuguesa, uma das especialidades com dia certo na ementa. Gaspacho e açorda alentejana também constam da ementa, em que os pratos de peixe incluem polvo e bacalhau, destacando-se a versão à Gomes de Sá. Doçaria conventual alentejana em destaque nas sobremesas.

 

Garrafeira de bom nível, com os vinhos da região em maioria, neste restaurante cuja ementa privilegia de forma óbvia os pratos de carne. O Leilão afirma-se por uma cozinha consistente, que trabalha bem matéria-prima de excelente qualidade.

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