Diário do Alentejo

À Mesa com António Catarino: Pompílio brilha com Elvas à vista

20 de novembro 2020 - 17:25

Texto António Catarino

 

Cidade quartel, classificada Património Mundial da Unesco desde 2012, Elvas possui rico legado histórico-monumental e domina a planície que se estende Espanha dentro, sem que sejam percetíveis os limites fronteiriços. Na vastidão do campo alentejano, a estrada nacional 246 que conflui na autoestrada A6 e segue para norte, rumo a Santa Eulália e Arronches, atravessa São Vicente e Ventosa, freguesia com nome curioso, mas de alma genuinamente alentejana.

 

Naquela aldeia com típica identidade, em que muito do encanto está nas gentes, no lento escorrer do tempo e na qualidade do ambiente, um restaurante afirma-se desde 1975 por servir bem. Comida tradicional alentejana, pois claro, ou não fosse cada vez mais apreciada, por quem demanda tais paragens esquecidas de um país “inclinado” para o litoral.

 

Ali, entre Elvas e Portalegre, o Pompílio é hoje uma verdadeira instituição: dá nome à terra e atrai forasteiros, tal a justificada fama da casa, que começou por ser um misto de café e taberna, antes da transformação operada há quase um quarto de século e da remodelação mais recente.

 

Espaço é coisa que não falta – estamos no Alentejo –, salas amplas, o que permite lotação alargada; decoração com motivos regionais; madeira e pedra como elementos preponderantes.

 

Nas noites mais quentes, o pátio é o sítio ideal para jantar à fresca e saborear, por exemplo, ovos mexidos com espargos ou presunto de porco alentejano.

 

Bem alentejana é a sopa de tomate com enchidos fritos e ovo escalfado. Mas há muito mais para escolher neste sítio de comer e beber bem. O bacalhau dourado, com fama por aqueles lados, é um dos pratos icónicos, mas há outras excelentes opções para gáudio do palato: costeletas de borrego panadas; pezinhos de coentrada; migas de espargos com carne do alguidar; iscas de vitela; coelho bravo frito; arroz ou feijoada de lebre e a saborosa perdiz, estufada ou tostada, com salsa e coentros.

 

Os temperos alentejanos, utilizados com saber, dão um cunho de maior autenticidade à confeção de pratos que fazem a diferença, caso dos secretos de porco preto com migas de hortelã.

 

À sobremesa, a inevitável sericaia com ameixa de Elvas ou um pudim de requeijão são escolhas que se afiguram de sucesso, uma vez que a doçaria está em plano de igualdade com os pratos de resistência servidos neste restaurante com garrafeira de nível elevado, com as referências alentejanas em maioria e serviço de vinho a copo.

 

Com tantos e tão bons predicados, até apetece gritar: ó Elvas! ó Elvas! Pompílio à vista!

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