Diário do Alentejo

Bruno Madeira: Paixão

29 de março 2020 -

“Senti que tinha as duas influências, o futebol pelo lado do meu pai, o serviço militar pela parte da minha mãe, porque o meu avô materno foi militar. Sempre pensei aliar uma coisa à outra. No meu tempo havia excesso de contingente, passei à reserva territorial, mas voluntariei-me para integrar as forças armadas. Fui para infantaria e, depois de estar mais seguro daquilo que era a vida militar, optei por uma força especial, o paraquedismo, integrado na Brigada Aerotransportada, porque achei que teria muito para dar a essa causa”.

Texto e foto: Fírmino Paixão

 

O futebol, inspi ração que trouxe do berço, é a sua paixão. O serviço militar, vocação que também herdou de ascendentes, tem sido a sua devoção. Bruno Madeira, nascido e criado na vila de Cuba, há 41 anos, é militar de carreira, 1.º sargento paraquedista, e treinador de futebol, habilitado com o curso de nível II. É filho de Honório Madeira, antigo futebolista do Desportivo de Beja, do Vasco da Gama de Sines, campeão de Moçambique pelo Textáfrica (Vila Pery/Chimoio). Oriundo de uma grande família de futebolistas confessa não ter sentido “o peso do apelido, a não ser pelo compromisso de trabalhar muito, e bem, para crescer e me tornar cada vez melhor jogador e melhor treinador”. “Nasci no seio de uma família de futebolistas, quase todos eles profissionais dentro do futebol e depois na arbitragem. No lado materno, também houve um ou outro praticante de atletismo. Sempre que a família se reunia às refeições, mesmo aqui em Beja, quando os meus avós ainda eram vivos, o tema era sempre o futebol, mais futebol e só futebol, por isso, o futebol é algo que me corre nas veias”, sublinha.

 

Quanto ao orgulho de ser descendente de uma família com tantos e tão bons futebolistas, Bruno é assertivo: “Fala-se sempre do clã Madeira, mas eu não sinto essa influência, até porque o meu pai e os meus tios nunca me fizeram sentir isso. Fomos educados para o futebol de uma forma que, provavelmente, hoje já não se educa os filhos. Eu podia fazer cinco golos à equipa adversária, mas chegava a casa e o meu pai dizia-me que eu podia ter feito bem melhor”. Por essa razão, perante esse nível de exigência, Bruno Madeira repete que “nunca senti muito o peso do apelido, porque a minha família fez para que isso não acontecesse. E isso deu-nos uma educação, dentro do futebol, completamente diferente do que se vê hoje. Claro que sinto muito orgulho, não sinto a responsabilidade de ter esse apelido, mas nunca me esqueço da família de onde venho e do que ela representou neste distrito”. Quanto ao seu passado de futebolista, e porque os progenitores se radicaram em Cuba, logo muito pequeno começou a jogar no clube local e não esconde que, ainda hoje, é o clube do seu coração. “Não havia petizes nem traquinas, eram só infantis e jogávamos futebol de onze, no antigo ‘peladão’ do Sporting Clube de Cuba. Lá fiz toda a minha formação, mostrando uma ou outra qualidade que ia agradando a alguns treinadores, porque, no primeiro ano de júnior, já integrei o plantel sénior”. Por contingências do serviço militar, o seu percurso de atleta federado passou depois pelo Santacruzense e, mais tarde, pelo União da Madeira, antes de regressar ao Alentejo e terminar a carreira com a camisola do Desportivo de Beja. Um jogador franzino, muito leve mas rápido e tecnicamente evoluído, que preferia jogar na posição 10. Nos últimos anos em que jogou futebol, com a idade já na casa dos trinta, começou a sentir algum desencanto, afastou- se e dedicou-se ao ciclismo. Corria o ano de 2015 quando o vimos participar na 1.ª Volta a Portugal em Bicicleta da Brigada de Reação Rápida (BRR) força de que fazia parte. “Sim, andei a pedalar cerca de três anos, levei o ciclismo muito a sério e participei em diversas provas e foi nesse período que aconteceu essa Volta a Portugal ligando as unidades que integravam a BRR”. Mas, lá está, o futebol era a sua maior paixão.

 

“O bichinho não morreu e como eu já tinha a qualificação de treinador de nível I, apareceu- me o convite para treinar o Desportivo de Beja, numa altura muito difícil do clube. Fiquei um pouco indeciso, mas como era o clube da minha família, onde o meu pai e os meus tios se iniciaram, achei que seria um grande orgulho para eles e tentei ajudar o Desportivo. As coisas não estavam mesmo nada bem, mas eu não desisti, fui quase obrigado a sair. Mais adiante, surgiu a oportunidade de fazer a formação do nível II e aproveitei para me habilitar com esse curso”. E eis que surge o Salvadense, emblema a que atualmente está vinculado. “O Salvadense, apresentou- me um projeto bastante engraçado e ambicioso. Achei que era o ideal para mim e aceitei, começando por baixo, para crescer de uma forma mais sustentada”. Esta temporada, a segunda que cumpre no clube, já conseguiu o apuramento para a fase final da 2ª divisão. Porém, afirma que esta época “tem sido mais fácil do que a anterior, em que conquistámos a Taça de Honra e o Troféu Disciplina, que o Salvadense não ganhava há muitos anos. Este ano já alcançámos a primeira meta que traçámos e já reformulámos os objetivos, esperando lá chegar também”. Não admira, por isso, que no horizonte esteja um desafio mais ambicioso: “Um passo de cada vez e sustentado, mas com a consciência de que este é um mundo muito difícil, procurando mais formação, porque o futebol tem crescido, cada vez mais, dentro de mim, e aí sim, se o meu crescimento tiver que passar por desafios mais ambiciosos, sinto-me preparado”, assume Bruno Madeira.

 

 

 

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