Diário do Alentejo

Pinotes

19 de julho 2025 - 08:00
Atleta sagrou-se campeão nacional, batendo quatro recordes no passado dia 12
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

Pedro Pinotes tem uma vida dedicada à natação. Com 35 anos, conta com a participação em duas competições olímpicas e com um título de vice-campeão africano. Apaixonado pela modalidade, assume-se como um constante “insatisfeito” e, por isso, admite que sempre soube que um dia retribuiria ao mundo da natação tudo o que este lhe deu. O “Diário do Alentejo” foi conhecer o atleta, e atual presidente da Associação de Natação de Alentejo, que bateu, no passado dia 12, quatro recordes nacionais no Campeonato Nacional Masters Open Verão.

 

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

Entrou no mundo da natação aos sete anos, “provavelmente, como muitos miúdos”, por insistência dos pais. A viver então em Évora, Pedro Pinotes integrou o Aminata – Évora Clube de Natação por “alguns meses”, onde aprendeu a nadar. “Os meus pais sempre tiveram uma ligação muito grande com a praia [e] com a água e, por isso, desenvolvi muito o meu gosto pela água desde pequenino”, começa por recordar ao “Diário do Alentejo”.

Uns anos mais tarde, “por motivos de trabalho” da mãe, teve de se mudar para Beja, cidade a que já tinha ligação por causa dos avós paternos. De forma natural, acabou por inscreveu-se na Associação Cultural e Recreativa Zona Azul na modalidade de natação. O seu percurso naquele clube bejense durou pouco tempo. Aos 11 anos regressou à cidade eborense e ao seu primeiro clube onde, dois anos mais tarde, se estreou em competição. “Comecei aos poucos e poucos a ter melhores resultados, a ir a campeonatos nacionais e a construir este percurso que já dura há mais de 20 anos”, diz.

Hoje, aos 35, reconhece as “lições para a vida” que o desporto lhe foi ensinado, permitindo moldá-lo na sua vida pessoal e profissional. Diz, de forma prática, que o espírito de trabalho e de cooperação, a resiliência e o desenvolvimento das relações interpessoais a que a natação obriga foram as peças imprescindíveis que ajudaram a construir a sua personalidade.

“Muitas das vezes nós nem sabemos que desenvolvemos [determinadas características] e quando chegamos, por exemplo, a um contexto profissional e as usamos é que percebemos que estas competências estão ligadas ao desporto e, no meu caso, à natação em específico”, reforça.

Do seu percurso, que descreve como “enriquecedor a todos os níveis”, relembra com carinho a primeira vez que competiu nos Campeonatos Nacionais de Clubes, “com 15 ou 16 anos”, pelo Aminata. “Não tivemos os melhores resultados, mas recordo-me de chegar ao fim da competição e pensar que no ano seguinte eu e a minha equipa tínhamos de estar melhores”, revive.

Daí em diante perdeu a noção ao número de piscinas que percorreu. Em 2008 marcou presença no Campeonato Mundial de Natação em Piscina Curta – “uma realidade completamente diferente [e] a nível top da natação” –, seguindo-se o Swim Cup em Eindhoven (Países Baixos), em 2011, os Jogos Olímpicos de Londres (Inglaterra), em 2012, e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (Brasil), em 2016.

De todas as competições, Pedro Pinotes não esconde aquela que mais o marca. Nascido em Viana, em Angola, optou por representar o seu país nos Jogos Pan-Africanos – “O equivalente aos jogos olímpicos, mas para a África” –, tendo alcançado um segundo lugar em 2011, na prova de 200 metros mariposa.

“Os jogos africanos sempre foram um objetivo. Nos jogos olímpicos a minha participação nunca trouxe grandes resultados, ou seja, quase que estar lá era o meu objetivo, [mas] nos jogos africanos consegui chegar a vice-campeão africano e essa é uma das provas que destaco mais, [porque] é um misto de sensações”, refere.

Ao “DA” diz que representar um dos seus países de coração é “uma sensação de dever cumprido”, por “atingir esse nível e estar-se presente numa competição dessas”, mas também a responsabilidade de carregar ao peito “uma modalidade, um clube [e] uma nação inteira”.

 

“Sabia que um dia também ia chegar a minha vez de retribuir”

 

São “muitas” as histórias marcantes, umas mais “divertidas” e outras mais “impressionantes”, porém, os episódios que recorda de forma mais espontânea são “as provas que não corriam bem” e em que ficava “alguns dias a remoer” e a pensar no que poderia ter feito melhor. Essa característica perfecionista e de constante insatisfação com os resultados, as provas e tudo o que o rodeia, levou-o a olhar para a natação “com outros olhos”.

“Estive uns anos a estudar em Lisboa e depois regressei ao Alentejo. Por tudo aquilo que conhecia enquanto atleta, e como habitual praticante de natação na região, sabia que um dia também ia chegar a minha vez de retribuir”, salienta.

Retribuição essa que passa pela decisão de abraçar nos próximos três anos a presidência da Associação de Natação do Alentejo (ANA). “Fiz parte até agora [da associação] como atleta e como praticante e sinto que está na altura de dar e de tentar fazer melhor com as gerações atuais nos escalões de formação, desenvolver as condições a quem pratica a modalidade [e] permitir que se atinjam os melhores resultados, no fundo, aumentarmos o reconhecimento do nosso desporto, quer a nível interno, quer externo”, assegura o também atleta do Sporting Clube de Portugal.

A viver em Vila Ruiva, no concelho de Cuba, e a treinar nas piscinas municipais de Beja, Pedro Pinotes diz estar ciente da necessidade de aumentar o número de praticantes na região e, consequentemente, “a qualidade dos atletas [e] a competitividade nas competições e nos resultados”, assim como de fazer crescer ao nível logístico as infraestruturas para a prática desportiva “em mais municípios”, mas, enquanto presidente da direção da ANA, reconhece “o lado positivo” de praticar a modalidade no Alentejo.

“Em Lisboa, por exemplo, raramente há um fim de semana em que os miúdos estão fora com a equipa, porque é muito diário, as piscinas são próximas, os pais vão buscá-los [e] não existe o convívio de equipa que nós aqui no Alentejo temos. Recordo-me de ir a provas com 15 ou 16 anos e ficar dois ou três dias fora de casa e isso foram tudo fatores positivos, [porque] desenvolvi o espírito de equipa e de grupo e o gosto pela modalidade”, admite.

Para os mais novos, “até por muita experiência própria”, diz que os melhores conselhos que pode dar têm a ver com “o desenvolver o gosto pela modalidade e pelo desporto”, com a consciência de “querer fazer mais” e que é preciso despender de tempo.

 

“Senti que estava a representar já a Associação de Natação do Alentejo”

 

No passado dia 12, além da tomada de posse da ANA, Pedro Pinotes sagrou-se campeão nacional, batendo quatro recordes nacionais no Campeonato Nacional Masters Open Verão, na categoria de masters C, realizado em Reguengos de Monsaraz: nos 800 metros livres (com o tempo de 9:03.11), nos 200 metros estilos (2:14.90), nos 400 metros estilos (4:46.61) e nos 200 metros bruços (2:32.29).

“Foi um misto de sensações esta prova, porque tinha também objetivos definidos a nível pessoal, mas também estava já muito focado naquilo que era a tomada de posse e todo o trabalho que vamos ter de desenvolver. Senti que estava também nas minhas funções de presidente a representar a associação”, alude.

Quanto ao futuro, o atleta é perentório. Nos próximos anos “o gosto pela natação manter-se-á”, com “maior ou menos regularidade em competição”, mas focado em “fazer um trabalho abrangente nas várias componentes” da modalidade e em prol de todos aqueles que se dedicam a este desporto.

“Fico feliz por ajudar a dar visibilidade à ANA”, conclui.

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